Esta é uma versão desatualizada publicada em 16/01/2021. Leia a versão mais recente.

Pesca de emalhe e conservação de recursos pesqueiros: um estudo de caso no litoral sul do Brasil

Autores

  • Maíra Gnoatto Afonso Centro de Estudos do Mar da UFPR
  • Paulo de Tarso da Cunha Chaves

DOI:

https://doi.org/10.37002/revistacepsul.vol10.1754e2021001

Palavras-chave:

peixes, teleósteos, elasmobrânquios, pesca de pequena escala, pesca artesanal, conservação

Resumo

Frota de pequena escala sediada em Matinhos (PR), operante com redes de emalhe, foi monitorada em 2014/2015. As redes possuem tamanhos de malha variando de 5 a 45 cm entre nós opostos, altura de 2 a 25 m, comprimento total de 400 a 4.000 m. Quatro modalidades de uso são comuns: fundeio e caceio (passivas), cerco e caracol (ativas). Tais modalidades são empregadas em sete técnicas, reunindo combinações de petrechos, locais de operação e sazonalidade, para capturar determinados recursos. São pescarias multiespecíficas, envolvendo ao menos 34 espécies de teleósteos e 11 de elasmobrânquios (maioria capturada na modalidade fundeio e como fauna acompanhante). Tainhas, pescadas, linguados e cações estão entre os recursos-alvo. No entanto, certos recursos são alvos numa modalidade, mas fauna acompanhante noutra. Em consequência das peculiaridades das técnicas, indivíduos pequenos são vulneráveis às malhas maiores, e os maiores, às malhas menores, fatos que dificultam o manejo por tamanho. Segundo categorias IUCN, três recursos tratam-se de espécies NT; sete VU; um EN; e dois CR. A  técnica de fundeio malha 10 incide sobre três deles. A malha 18 sobre nove, no inverno e/ou primavera. Embora, ao menos 41 recursos ocorram permanentemente na região, a pesca de emalhe incide mais intensamente sobre 17,  indicando que o rodízio de técnicas pode refletir uma menor pressão de pesca sobre a comunidade ictíica local. Recomenda-se redução do esforço de pesca da rede com malha 18 na técnica de fundeio no final de inverno e na primavera por capturar proporcionalmente um maior número de espécies ameaçadas.

Biografia do Autor

Maíra Gnoatto Afonso, Centro de Estudos do Mar da UFPR

Primeira autora.

Paulo de Tarso da Cunha Chaves

Melhor endereço: ptchaves@ufpr.br

Referências

ALVES, P. M., ARFELLI, C. A. & TOMÁS, A. R. G. 2009. Caracterização da pesca de emalhe do litoral de São Paulo, Brasil. Bol. Inst. Pesca, 35(1): 17-27.

ANDERSON, R. O. & GUTREUTER, S. J. 1986. Length, weight, and associated structural indices. In: NIELSEN, L.A. & JOHNSON, D.L. (Eds), Fisheries Techniques. American Fish Society, Southern Printing Company, Inc., Blacksburg, Virginia, USA. 2nd ed., p. 469.

ANDRIGUETTO-FILHO, J. M., CHAVES, P. T., SANTOS, C. & LIBERATI, S. A. 2006. Diagnóstico da pesca no litoral do estado do Paraná. In: ISAAC, V.J., HAIMOVICI, M., MARTINS, S.A. & ANDRIGUETTO, J.M. (Eds.), A pesca marinha e estuarina do Brasil no início do século XXI: recursos, tecnologias, aspectos socioeconômicos e institucionais. Belém, Universidade Federal do Pará, p. 41-66.

CARDOSO, L. G., BUGONI, L., MANCINI, P. L. & HAIMOVICI, M. 2011. Gillnet fisheries as a major mortality factor of Magellanic penguins in wintering areas. Mar. Pollut. Bull., 62(8): 840-844. DOI:10.1016/j.marpolbul.2011.01.033

CEMA 2013. Conselho Estadual do Meio Ambiente, Paraná, Resolução CEMA Nº 91, de 03/12/2013. Dispõe sobre o equilíbrio e o uso sustentável dos recursos pesqueiros, mediante o enfoque do princípio da precaução; sobre a necessidade de estabelecer áreas para a proteção e conservação da ictiofauna e restrições às atividades de pesca, de modo a evitar e eliminar a sobrepesca. Diário Oficial do Estado - PR, Curitiba, PR, 23 de jan. de 2014.

CHAVES, P. T. C., ALMEIDA, M. P. & PLATNER, M. 2019. Tubarões e raias como captura incidental na pesca artesanal do litoral do Paraná: condição reprodutiva e variações sazonais em composição e abundância. Arq. C. Do Mar 52(2): 7-23.

CHAVES, P. T., PICHLER, H. A. & ROBERT, M. C. 2002. Biological, technical and socioeconomic aspects of the fishing activity in a Brazilian estuary. J. Fish. Biol., 61(Suppl. A): 52-59. DOI: 10.1111/j.1095-8649.2002.tb01760.x

CHAVES, P. T. & ROBERT, M. C. 2003. Embarcações, artes e procedimentos da pesca artesanal no litoral sul do Estado do Paraná, Brasil. Atlântica, Rio Grande, 25(1): 53-59.

CHAVES, P. T. & ROBERT, M. C. 2009. Extravios de petrechos e condições para ocorrência de pesca-fantasma no litoral Norte de SC e sul do PR. Bol. Inst. Pesca, 35: 513-519.

CHAVES, P. T. & SILVA, A. V. F. 2019. Recursos-alvo que são também bycatch, e recomendação para a gestão da pesca de emalhe no litoral do Paraná, Brasil. Biodiversidade e Conservação Marinha, 8, e2019001.

COSTA, L. & CHAVES, P. T. 2006. Elasmobrânquios capturados pela pesca artesanal na costa sul do Paraná e norte de Santa Catarina, Brasil. Biota Neotrop., 6(3): 1-10.

DAROS, F. A., BUENO, L. S., VILAR, C. C., PASSOS, A. C. & SPACH, H. L. 2012. Checklist of rocky reef fishes from the Currais Archipelago and Itacolomis Island, Paraná state, Brazil. Check-list, 8(3): 349-354. DOI: 10.15560/8.3.349

FELIX, F. C., SPACH, H. L., HACKRADT, C. W., MORO, P. S. & ROCHA, D. C. 2006. Abundância sazonal e a composição da assembleia de peixes em duas praias estuarinas da Baía de Paranaguá, Paraná. Revista Brasileira de Zoociências, 8(1): 35-47.

FIGUEIREDO, J. L. & MENEZES, N. A. 2000. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. 1a ed. São Paulo: Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo. VI. Teleostei (5), 116p.

FROESE, R. & PAULY, D. 2019. FishBase. World Wide Web electronic publication. Disponíevl em: www.fishbase.org (version 08/2019). Acesso em: 31 ago. 2019.

GODEFROID, R. S., SPACH, H. L., SCHWARZ JR., R. & MACLAREN, G. 2003. A fauna de peixes da praia do Balneário Atami, Paraná, Brasil. Atlântica, Rio Grande, 25(2): 147-161.

GOMES, I. D. & CHAVES, P. T. 2006. Ictiofauna integrante da pesca de arrasto camaroeiro no litoral sul de estado do Paraná, Brasil. Bioikos, Campinas, 20(1): 9-13.

HOLDEN, M. J. & RAITT, D. F. S. 1974. Manual of Fisheries Science, Part 2 - Methods of Resource Investigation and their Application. FAO, Roma, Disponível em: www.fao.org/3/F0752E/F0752E00.htm Acesso em: 19 out. 2020.

HOOS, L. A., BUCKEL, J. A., BOYD, J. B., LOEFFLER, M. S. & LEE, L. M. 2019. Fisheries management in the face of uncertainty: Designing time-area closures that are effective under multiple spatial patterns of fishing effort displacement in an estuarine gill net fishery. PLOS ONE, 18: 1-21. DOI: 10.1371/journal.pone.0211103

IBAMA/CEPSUL 2006. Relatório da Reunião Técnica sobre a Pesca de Emalhe no Litoral Brasileiro: período 28/8 a 01/09/2006. Itajaí – SC, CEPSUL, p. 48.

ICMBio 2014. Lista das Espécies Consideradas Quase Ameaçadas (NT). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Brasília. Disponível em: www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/lista-de-especies-dados-insuficientes. Acesso em: 28 nov.2019.

ICMBio 2015. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Portaria nº 09 de 29 de janeiro de 2015. Aprova o Plano de Ação Nacional para Conservação das Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal - PAN Manguezal, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, ações, prazo de execução, abrangência, formas de implementação e supervisão. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 30 de jan. de 2015.

IUCN 2019. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2019-2. Disponível em: www.iucnredlist.org. Acesso em: 28 nov. 2019.

KOTAS, J. E., PETRERE JR, M., FIEDLER, F., MASTROCHIRICO, V. & SALES, G. 2008. A pesca de emalhe de superfície de Santa Catarina direcionada à captura dos tubarões-martelo, Sphyrna lewini (Griffith & Smith, 1834) e Sphyrna zygaena (Linnaeus, 1758). Atlântica, Rio Grande, 30(2): 113-128.

MAPA 2019. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instrução Normativa no 8, de 8 de maio de 2019. Estabelece cota de captura e medidas associadas para a temporada de pesca de tainha (Mugil liza) do ano de 2019. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 08 de mai. de 2019.

MAZZOLENI, R. C. & SCHWINGEL, P. R. 1999. Elasmobranch species landed in Itajaí Harbour, Southern Brazil. Notas Técnicas Facimar, Itajaí, 3: 111-118.

MENDONÇA, J. T. & MIRANDA, L. V. 2008. Estatística pesqueira do litoral sul do estado de São Paulo: subsídios para gestão compartilhada. PANAMJAS, 3(3): 152-173.

MENDONÇA, J. T. & PEREIRA, A. L. C. 2014. Management of gillnet fisheries in the south coast of the state of São Paulo, Brazil. An. Acad. Bras. Cienc, 86(3): 1227-1237. DOI: 10.1590/0001-3765201420130139

MMA 2005. Ministério do Meio Ambiente, Instrução Normativa nº 53 de 22 de novembro de 2005. Estabelece o tamanho mínimo de captura de espécies marinhas e estuarinas do litoral Sudeste e Sul do Brasil. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 22 de nov. de 2005.

MMA 2014. Ministério do Meio Ambiente, Portaria no 445, de 17 de dezembro de 2014. Reconhece como espécies de peixes e invertebrados aquáticos da fauna brasileira ameaçadas de extinção aquelas constantes da "Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção - Peixes e Invertebrados Aquáticos Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 17 de dez. de 2014.

MMA 2015. Ministério do Meio Ambiente, Portaria nº 163 de 08 de junho de 2015. Altera a redação da Portaria MMA no 445/2014. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 08 de jun. de 2015.

MPA/MMA 2012. Ministério da Pesca e Aquicultura e Ministério do Meio Ambiente, Instrução Normativa Interministerial nº 12 de 22 de agosto de 2012. Dispõe sobre critérios e padrões para o ordenamento da pesca praticada com o emprego de redes de emalhe nas águas jurisdicionais brasileiras das regiões Sudeste e Sul. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 22 de ago. de 2012.

PINA, J. V. & CHAVES, P. T. 2005. A pesca de tainha e parati na Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. ACTA BIOL PAR, 34(1,2,3,4): 103-113.

PIO, V. M., PEZZUTO, P. R. & WAHRLICH, R. 2012. Aspectos tecnológicos das pescarias industriais com rede de emalhar de fundo no Estado de Santa Catarina – Brasil. Bol Inst. Pesca, 38(1): 1-14.

PUPO, M. M., SOTO, J. M. R. & HANAZAKI, N. 2006. Captura incidental de tartarugas marinhas na pesca artesanal da Ilha de Santa Catarina, SC. Biotemas, 19(4): 63-72. DOI: 10.5007/%25x

RODRIGUES, A. F. S., RANGEL, B. S., WOSNICK, N., BORNATOWSKI, H., SANTOS, J. L., MOREIRA, R. G. & AMORIM, A. F. 2019. Report of injuries in batoids caught in small-scale fisheries: implications for management plans. Oecologia Australis 23(1): 78–89. DOI: 10.4257/oeco.2019.2301.07

SILVANO, R. A. M., HALLWASS, G., JURAS, A. A. & LOPES, P. F. M. 2017. Assessment of efficiency and impacts of gillnets on fish conservation in a tropical freshwater fishery. Aquat. Conserv. 27: 521-533. DOI: 10.1002/aqc.2687

THE GEAR TECHNOLOGY SUBCOMMITTEE 1994. Conservation aspects of groundfish gear technologies in eastern Canada. FRCC Discussion Paper. Fisheries Resource Conservation Council, Otawa, Canada, p. 37.

Downloads

Publicado

16/01/2021

Versões

Edição

Seção

Artigo