Desenvolvimento da Agrobiodiversidade: Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais na Comunidade de Boa Esperança, no Município de São João de Pirabas, Pará

Carmen Célia Costa da Conceição1, Milton Guilherme da Costa Mota1, Joel Corrêa de Souza1, Vanessa Melo de Freitas1, Mateus Augusto de Carvalho Santana1 e João Pedro Pinheiro Silva1

Recebido em 24/05/2022 – Aceito em 30/12/2022

1 Universidade Federal Rural da Amazônia/UFRA. Brasil. <carmenceliac2@gmail.com, milton.mota@ufra.edu.br, joel.correa@ufra.edu.br, vanessafreitas.melo.1@gmail.com, ma1041578@gmail.com, jppinheiro1920@gmail.com>.

RESUMO A agrobiodiversidade é resultante da relação entre o ser humano com o meio ambiente, aliando-se no desenvolvimento de uma comunidade juntamente com as pesquisas etnobotânicas, em que essas pesquisas auxiliam nos levantamentos de espécies para uso farmacêutico, além de questões culturais e econômicas da população. Objetivou-se realizar um estudo etnobotânico de plantas medicinais como parte do conceito de agrobiodiversidade, em uma comunidade de agricultores familiares e pescadores artesanais da Vila de Boa Esperança, no município de São João de Pirabas, Pará. Foram feitas entrevistas semiestruturadas e estruturadas, com a aplicação de questionários, além da observação sobre a flora local. Para a realização das estimativas, foi obtida a frequência de uso de cada espécie em ecossistemas de capoeiras e quintais, e agrupadas de acordo com a classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde. Nos quintais, foram registradas 113 espécies medicinais distribuídas em 47 famílias botânicas. Nas capoeiras, foram registradas 50 espécies distribuídas em 25 famílias botânicas. O Pião branco obteve a maior frequência de uso nos quintais com 44,83%, e, nas capoeiras, o Barbatimão, Pau de cavalo e Verônica tiveram os mesmos valores de frequência, com 93,10%. A maioria das plantas utilizadas como medicamentos destinava-se para o tratamento de doenças infecciosas e parasitárias. As folhas foram a parte da planta mais usada como remédio. Dessa maneira, os estudos etnobotânicos tenderam a resgatar os conhecimentos da comunidade de Boa Esperança, e a conservar as espécies medicinais que se encontram em quintais e capoeiras, visando ao desenvolvimento sustentável da região.

Palavras-chave: Propriedades terapêuticas; frequência de uso; conservação; recursos naturais.

Development of Agrobiodiversity: Ethnobotanical Study of Medicinal Plants in the Community of Boa Esperança in the Municipality of São João de Pirabas, Pará

ABSTRACT – Agrobiodiversity is the result of the relationship between human beings and the environment, allied to the development of a community together with ethnobotanical research, in which these researches assist in the survey of species for pharmaceutical use, in addition to cultural and economic issues of the population. The objective was to carry out an ethnobotanical study of medicinal plants as part of the agrobiodiversity concept, in a community of family farmers and artisanal fishermen in Vila de Boa Esperança, in the municipality of São João de Pirabas, Pará. Semi-structured and structured interviews were carried out, with the application of questionnaires, in addition to the interviewee’s observation of the local flora. To carry out the estimates, the frequency of use of each species in ecosystems of capoeiras and backyards was obtained, and grouped according to the classification of diseases of the World Health Organization. In the backyards, 113 medicinal species distributed in 47 botanical families were recorded. In the capoeiras, 50 species distributed in 25 botanical families were recorded. The white Pião obtained the highest frequency of use in backyards with 44.83%, and, in capoeiras, Barbatimão, Pau de horse and Verônica had the same frequency values with 93.10%. Most plants used as medicines were intended for the treatment of infectious and parasitic diseases. The leaves were the part of the plant most used as medicine. In this way, ethnobotanical studies tended to rescue the knowledge of the community of Boa Esperança, and to conserve the medicinal species found in backyards and capoeiras, aiming at a sustainable development of the region.

Keywords: Therapeutic properties; frequency of use; conservation; natural resources.

Desarrollo de la Agrobiodiversidad: Estudio Etnobotánico de Plantas Medicinales en la Comunidad de Boa Esperança en el Municipio de São João de Pirabas, Pará

RESUMEN – La agrobiodiversidad es el resultado de la relación entre el ser humano y el medio ambiente, aliándose en el desarrollo de una comunidad junto con la investigación etnobotánica, en la que estas investigaciones ayudan en el relevamiento de especies de uso farmacéutico, además de cuestiones culturales y económicas de la población. El objetivo fue realizar un estudio etnobotánico de plantas medicinales como parte del concepto de agrobiodiversidad, en una comunidad de agricultores familiares y pescadores artesanales en Vila de Boa Esperança, en el municipio de São João de Pirabas, Pará. Se realizaron entrevistas semiestructuradas y estructuradas, con aplicación de cuestionarios, además de observación de la flora local. Para realizar las estimaciones se obtuvo la frecuencia de uso de cada especie en ecosistemas de capoeiras y traspatio, y se agruparon según la clasificación de enfermedades de la Organización Mundial de la Salud. En traspatios se registraron 113 especies medicinales distribuidas en 47 familias botánicas. En capoeiras se registraron 50 especies distribuidas en 25 familias botánicas. La mayoría de las plantas utilizadas como medicinas estaban destinadas al tratamiento de enfermedades infecciosas y parasitarias. Las hojas eran la parte de la planta más utilizada como medicina. De esta forma, los estudios etnobotánicos tendieron a recuperar el conocimiento de la comunidad de Boa Esperança, y a conservar las especies medicinales que se encuentran en los traspatios y capoeiras, visando el desarrollo sustentable de la región.

Palabras clave: Propiedades terapéuticas; frecuencia de uso; conservación; recursos naturales.

Introdução

A agrobiodiversidade consiste na interação do ser humano e as espécies vegetais, em uma determinada condição ambiental, na qual essas espécies podem servir como forma de alimentos, produtos para fins terapêuticos e outros oriundos da matéria prima (Polesi et al., 2017).

A relação entre pessoas e plantas é bastante observada em povos e comunidades tradicionais, pois, além de protegerem os seus territórios e os recursos naturais, com o seu conhecimento contribuem para a descoberta de novos medicamentos, cosméticos entre outros produtos. Além disso, a agrobiodiversidade faz parte do sistema agrícola, aliando a conservação e o manejo do solo com o desenvolvimento sustentável, podendo-se adequar às comunidades tradicionais com o objetivo de ajudá-las em seu desenvolvimento local (Duarte e Pasa, 2016; Conway, 1987; Santos, 1996).

Os estudos etnobotânicos são outro fator que contribui para o desenvolvimento de uma localidade, pois visam promover o reconhecimento do saber local e buscam estratégias que possibilitem a aproximação dos saberes científicos com os saberes das comunidades, contribuindo para o desenvolvimento de escolhas sustentáveis de uso e manutenção de recursos naturais (Strachulski e Floriani, 2013). Um estudo de Cajaiba et al. (2016) mostrou que a pesquisa etnobotânica torna-se uma oportunidade de adquirir uma diversidade de informações de cunho etnográfico e futuros recursos biológicos, como, por exemplo, a bioprospecção de novos fármacos ou o manejo de áreas de conservação.

Além disso, a etnobotânica abrange o estudo das plantas medicinais, por ser um estudo sobre o conhecimento da flora de uma região, que se preocupa com os indivíduos e os seus saberes, agrupando informações dos povos tradicionais que mantiveram associações com os vegetais e com os elementos culturais de um povo (Siqueira e Pereira, 2014).

O Brasil, por sua biodiversidade, é um berço de espécies nativas e exóticas com propriedades terapêuticas, sendo de grande importância a realização de estudos para se conhecer o maior número possível de espécies e sua aplicabilidade na área da saúde (Sobrinho et al., 2017). A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a relevância dos trabalhos etnobotânicos, que mostram o uso tradicional de espécies medicinais nos mais diversos tipos de enfermidades, incentivando as comunidades a identificarem suas próprias tradições em relação às terapias, explorando práticas seguras e eficazes para posterior utilização em cuidados primários de saúde (Scardelato et al., 2013).

Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo etnobotânico de plantas medicinais como parte do conceito de agrobiodiversidade, em uma comunidade de agricultores familiares e pescadores artesanais da vila de Boa Esperança, no município de São João de Pirabas, no Pará.

Material e Métodos

O estudo foi realizado na vila de Boa Esperança, localizada no município de São João de Pirabas, microrregião do salgado, nordeste paraense, delimitada pelas coordenadas geográficas 0º44’40’’S e 47º10’35’ W. O município possui uma população de 20.647 pessoas, com uma densidade demográfica de aproximadamente 29,26 hab/km² (IBGE, 2010). O clima, com base no sistema de Köppen, é da classe A (Awi). A precipitação pluviométrica compreende valores elevados, em torno de 3.543 mm. A temperatura média anual está em torno de 27,7ºC e, ao longo do ano, varia de 26,8 a 28,0ºC. As coletas dos dados foram feitas no período de julho/2004 a agosto/2006.

Para a obtenção dos dados etnobotânicos, foram entrevistadas as 29 famílias que compunham a comunidade. A maioria das entrevistas foi feita com o casal (65,5%) e, quando incompleta, só com o homem (7,0%) ou só com a mulher (27,5%). No total, foram entrevistados 25 homens e 26 mulheres. Entre os entrevistados estavam quatro pessoas (dois homens e duas mulheres) que foram consideradas informantes-chave devido ao conhecimento que possuíam da flora local.

As entrevistas foram feitas de forma semiestruturada e estruturada, com a aplicação de questionários, além das informações obtidas pela observação do entrevistado da flora local. As coletas de informações, de dados e de material botânico, bem como as análises, foram realizadas conforme Martin (2001), Cunningham (2001), e Albuquerque e Lucena (2004).

Durante o trabalho detectaram-se as seguintes unidades de ecossistemas com a presença de plantas medicinais, que são os quintais e as capoeiras. As exsicatas do material botânico foram identificadas por especialistas do Herbário da Embrapa Amazônia Oriental, onde foram catalogadas e depositadas.

As espécies medicinais utilizadas pela comunidade com fins terapêuticos, além de serem indicadas para as doenças mais comuns entre a população – como a diabetes, hipertensão dentre outras doenças –, também são utilizadas para algumas doenças que são características da comunidade estudada. As indicações foram agrupadas com base na classificação das doenças proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000).

Para se estimar a frequência de uso para cada espécie citada pelos informantes-chave e pela comunidade em geral, dentro de cada unidade de ecossistemas tomou-se uma amostra das 29 famílias e utilizou-se a fórmula adaptada de Phillips e Gentry (1993) para realizar as estimativas:

FUsp = ∑ Uspi / ns

Em que, FUsp é a frequência de uso de cada espécie em cada ecossistema estudado, ∑ Uspi é a somatória do número de citações e/ou registros por informante i para a espécie sp, e ns o número total de informantes (ns = 29). Desta forma, o valor de FUsp variará de 0 a 1, podendo ser expresso em valor relativo.

Resultados e Discussão

Na comunidade constatou-se uma diversidade de espécies medicinais que são cultivadas nos quintais das famílias. Essa diversidade de espécies medicinais também foi observada pelos povos tradicionais do estado do Amazonas, sendo bastante preservadas, cultivadas e utilizadas para tratamentos e curas de doenças da comunidade (Dário e Sandrini, 2021).

Nos quintais avaliados, foram registradas 113 espécies medicinais distribuídas em 47 famílias botânicas (Tabela 1), das quais 14,16% são nativas e 85,84% são exóticas. Berg e Silva (1986a), no estado do Maranhão, encontraram 113 espécies distribuídas em 58 famílias; e, no estado do Amazonas, Berg e Silva (1986b) registraram 122 espécies e 60 famílias. Comparando as listas de espécies apresentadas por esses autores com a produzida por esta pesquisa, verificou-se que 33 espécies tinham registro somente em Boa Esperança.

As informações sobre a identificação das espécies e a frequência de uso das plantas medici-nais podem ser encontradas na Tabela 1. Neste trabalho, o número de citações e/ou de registros traduz a frequência de uso de uma determinada espécie. 

Nenhuma espécie nesta pesquisa foi citada e/ou registrada por 100% dos informantes, e os maiores valores de frequência de uso não ultrapassaram 45% (Tabela 1). As espécies com maior frequência de uso foram pião branco (44,83%), arruda (31,03%), capim santo (31,03%), erva cidreira (31,03%), pariri (27,59%), anador (24,14%) e mastruço (24,14%) (Tabela 1). Essas espécies também foram introduzidas na Amazônia e mencionadas por Pereira e Coelho (2017). À exceção do mastruço (ciclo curto e herbácea), as demais são perenes, sendo: pião branco (arbusto), arruda (herbácea), capim santo (herbácea), erva cidreira (subarbusto), pariri (subarbusto) e anador (subarbusto).  

Dessas espécies, somente a arruda é tida como de proteção dos povos nativos, mas também é usada como planta medicinal, segundo Pedro et al. (2016). As seguintes espécies da Tabela 1 também são consideradas como de proteção: alecrim d’angola, cipó d’alho, limão galego, malva rosa, mucuracaá, pau d’angola, pião caboclo, pião roxo, vassorinha de benzer e vindicá. O pião branco, também conhecido como pinhão manso, possui elevado teor de óleo e, por conta disso, está sendo recomendado para extração de óleo vegetal visando à produção de biodiesel (Nunes, 2008). Outras espécies têm potencial visível para serem utilizadas em sistemas de produção, tais como: andiroba, sacaca, babosa, pripioca, patchouli, oriza etc.

Do total de 113 espécies medicinais existentes nos quintais, 65 foram indicadas como remédio no uso terapêutico em 47 doenças envolvendo as diferentes categorias de afecções do organismo (Tabela 2). A importância das espécies medicinais em quintais para o uso de tratamentos de doenças também foi registrada por Pasa et al. (2005) ao estudar plantas medicinais dos quintais na comunidade de Conceição-Açu, quando fez referência de 35 espécies no tratamento de 30 doenças.

Segundo as famílias entrevistadas, as folhas foram consideradas a parte da planta mais usada como remédio; porém, outras foram utilizadas, tais como, rizomas, raízes, bulbos, cascas, flores, frutos e sementes. Entre as formas de preparo predominou o chá; entretanto, outras formas foram relatadas, como macerados, sumos, óleo e tinturas. Essas mesmas características de uso de plantas medicinais foram encontrados por Oliveira e Lucena (2015), em seus estudos com moradores no munícipio de Quixadá-Ceará, em que as partes das plantas utilizadas pelos entrevistados foram principalmente as folhas, representando 89,4% das citações, seguidas de caules, flores, sementes, frutos e raízes, e além disso, o chá como a principal forma de preparo para uso medicinal pelos moradores.

Verificou-se que as plantas usadas como remédio destinavam-se, em maior parte, para o tratamento de problemas relacionados a doenças infecciosas e parasitárias, doenças do aparelho genito-urinário, doenças do aparelho respiratório, doenças do aparelho circulatório, doenças do sistema nervoso, doenças do aparelho digestivo, doenças da pele ou do tecido subcutâneo e doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo (Tabela 2 e 5). 

Os tipos de espécies usadas para os trata-mentos das doenças (Tabela 2) difere do quadro de tratamentos encontrados por Pasa et al. (2005) na comunidade de Conceição-Açu, mostrando que essa diferença pode estar relacionada aos hábitos da cultura local. Pasa et al. (2005) verificaram que, na comunidade de Conceição-Açu, as plantas usadas como remédio destinavam-se, em maior uso, para as doenças do aparelho digestivo do que para as doenças infecciosas e parasitárias.

Na comunidade de Boa Esperança, também foram registradas as espécies medicinais encontradas nas capoeiras, que são extensões dos quintais para a população. Observou-se que são importantes tanto para a oferta de produtos para as famílias, como para a manutenção da biodiversidade local, sendo depositárias de representantes da flora e da fauna nativa. Essa importância também pode ser vista por Ferreira (2000), em seu estudo na comunidade pesqueira do litoral paraense, em que observou que florestas secundárias (capoeiras) em estágios de sucessão mais avançados são frequentemente visitadas pelos moradores, além de fornecerem frutos e plantas medicinais.

Pelos entrevistados da comunidade, foi identificado um total de 50 espécies medicinais, representadas por 25 famílias botânicas. Com relação às informações retiradas dos 4 informantes-chave, foi identificado um total de 53 espécies, representadas por 36 famílias botânicas, para o uso de remédios, com hábito de crescimento variando de plantas herbáceas até árvores (Tabela 3).

O conhecimento dos informantes-chave na capoeira contribuiu para a identificação de mais espécies úteis do que as identificadas por outros entrevistados da comunidade, distribuídas num maior número de famílias e com predominância de plantas medicinais. Essa diversidade de plantas encontrada na capoeira pode estar relacionada com a sua idade, visto que em um estudo realizado por Ana Lúcia et al. (2007) observou-se que, com o monitoramento durante cinco anos de medições entre duas capoeiras com idades de 34 e 44 anos, obteve-se um número de 110 e 142 espécies, respectivamente.

Os maiores valores de frequência de uso registrados de espécies medicinais encontradas nas capoeiras atingiram 93,10% (Tabela 4). Considerando-se as espécies com frequência de uso acima de 27,59%, as espécies mais importantes pela ordem decrescente de citação foram Barbatimão, Pau de Cavalo, Verônica, Sucuuba, Unha de Gato e Amapá. À exceção do Pau de Cavalo, todas são muito conhecidas e empregadas na fitoterapia da Amazônia (Vieira, 1991).

A diversidade de espécies medicinais nas capoeiras é constituída por 50 espécies distribuídas em 25 famílias botânicas (Tabela 4). Entre essas espécies, somente o Melão de São Caetano é exótica, as demais são nativas. Do total de espécies, 12 têm sido comumente citadas na fitoterapia da Amazônia (Vieira, 1991); a Andiroba (Carapa guianensis) alcança preço local de R$ 10,00 por litro de óleo; e o Capitiu (Siparuna guianensis) vem despertando interesse comercial.

Observou-se que para o tratamento de doenças foi encontrado um maior número de plantas medicinais nos quintais, comparado àquelas encontradas nas capoeiras. (Tabelas 2 e 5). Assim como os quintais, as espécies medicinais encontradas nas capoeiras são utilizadas principalmente para as doenças infecciosas e parasitárias (Tabela 5). O expressivo uso de espécies para uso medicinal, em capoeiras da comunidade estudada, pode estar relacionado ao que foi citado por Freitas e Fernandes (2006), segundo os quais a maioria dos informantes da comunidade de enfarrusca afirmaram que nunca plantaram as espécies medicinais da capoeira, devido ao fácil acesso em consegui-las.

Conclusões

O estudo demonstrou que o conhecimento dos entrevistados sobre a flora local se torna um patrimônio cultural, por ser um conhecimento advindo de outras gerações, possibilitando uma maior facilidade para a identificação de espécies medicinais, e, com isso, podendo ser utilizadas no tratamento das doenças mais comuns entre a comunidade.

Além disso, devem ser realizados estudos para a comprovação dos efeitos medicinais das espécies utilizadas como medicinal na comunidade, possibilitando o uso em programas de conservação de germoplasma in situ, processo importante para a conservação dos recursos genéticos dessas espécies.

Desse modo, é relevante a realização de mais estudos etnobotânicos que cataloguem o conhecimento associado ao uso das plantas medicinais em comunidades, visto que essa associação pode proporcionar elementos que são fundamentais para a conservação da biodiversidade e a manutenção da diversidade cultural.

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Tabela 1 – Espécies medicinais encontradas nos quintais de Boa Esperança, São João de Pirabas/PA, 2005/2006.

Nome popular

Nome científico

Família

Nº de citações

FUsp

FUsp%

Abacateiro

Persea americana Mill.

Lauraceae

1

0,0345

3,45

Açucena

Hippeastrum reginae (L.) Herb.

Amaryllidaceae

1

0,0345

3,45

Ajirú

Chysobalanus icaco L.

Chrysobalanaceae

1

0,0345

3,45

Alecrim d’angola

Vitex agnus-cactus L.

Verbenaceae

2

0,0690

6,90

Alfavaca japonesa

Ocimum gratissimum L.

Lamiaceae

5

0,1724

17,24

Alfavaquinha

Ocimum basilicum L.

Lamiaceae

4

0,1379

13,79

Algodão

Gossypium herbaceum L.

Malvaceae

4

0,1379

13,79

Algodão de seda

Calotropis procera (Aiton) W.T. Aiton

Asclepiadaceae

3

0,1034

10,34

Algodão roxo

Gossypium herbaceum L.

Malvaceae

3

0,1034

10,34

Amor crescido

Portulaca pilosa L.

Portulacaeae

3

0,1034

10,34

Anador

Plectranthus barbatus Andrews

Lamiaceae

7

0,2414

24,14

Anajai

Eleutherine bulbosa (Mill.) Urb.

Iridaceae

5

0,1724

17,24

Andiroba

Carapa guianensis Aublet

Meliaceae

4

0,1379

13,79

Andiroba-jarabu

Andira retusa (Lam) H. B. K.

Fabaceae

1

0,0345

3,45

Arruda

Ruta graveolens L.

Rutaceae

9

0,3103

31,03

Babosa

Aloe barbadensis L.

Liliaceae

6

0,2069

20,69

Batatão

Operculina macrocarpa (L.) Farwel

Convolvulaceae

1

0,0345

3,45

Boldinho

Plectranthus neochilus Schlechter

Lamiaceae

2

0,0690

6,90

Boldo africano

Vernonia condensata Baker

Compositae

1

0,0345

3,45

Nome popular

Nome científico

Família

Nº de citações

FUsp

FUsp%

Caju

Anacardium occidentale L.

Anacardiaceae

1

0,0345

3,45

Camapú

Phisalis angulata L.

Solonaceae

1

0,0345

3,45

Canaranã

Costus spicatus (Jacq.) Sw.

Zingiberaceae

2

0,0690

6,90

Canela

Cinnamomum zeylanicum Breyn.

Lauraceae

2

0,0690

6,90

Capim marinho miúdo

Sem identificação

Apiaceae

2

0,0690

6,90

Capim santo

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.

Poaceae

9

0,3103

31,03

Cariru

Talinum patens (Jacq.) Willd.

Portulacaceae

1

0,0345

3,45

Carmelitana

Lippia citriodora A. DC.

Verbenaceae

1

0,0345

3,45

Cebola bulbo

Hippeastrum puniceum (Lam.) Kuntze

Amaryllideceae

1

0,0345

3,45

Chicória

Eryngium foetidum L.

Apiaceae

1

0,0345

3,45

Cibalena

Sem identificação

Verbenaceae

1

0,0345

3,45

Cipó d’alho

Adenocalymna alliaceum Mart.

Bignoniaceae

3

0,1034

10,34

Cipó pucá

Cissus sicyoides L.

Ampelidaceae

3

0,1034

10,34

Coco pingo de ouro

Cocos nucifera L.

Arecaceae

1

0,0345

3,45

Coramina

Pedilanthus tithymaloides Poit

Euphorbiaceae

4

0,1379

13,79

Coramina rajada

Pedilanthus tithymaloides Poit

Euphorbiaceae

1

0,0345

3,45

Cravo de defunto

Tagetes erecta L.

Asteraceae

5

0,1379

13,79

Crista de galo

Celosia argêntea L.

Amaranthaceae

1

0,0345

3,45

Cuieira

Crescentia cujete L.

Bignoniaceae

1

0,0345

3,45

Elixir paregórico

Piper callosum H.B.K.

Piperaceae

6

0,2069

20,69

Embauba branca

Cecropia pachystachya Trécul

Cecropiaceae

2

0,0690

6,90

Erva cidreira

Lippia alba (Mill) N. E. Br.

Verbenaceae

9

0,3103

31,03

Erva de passarinho

Phthyrusa theobromae Baill.

Lorantaceae

2

0,0690

6,90

Erva Lombrigueira

Spigelia anthelmia L.

Loganiaceae

1

0,0345

3,45

Esqueleto

Euphorbia tirucalli L.

Euphorbiaceae

1

0,0345

3,45

Estutuque

Achyrocline satureoides L.

Asteraceae

1

0,0345

3,45

Fedegoso

Senna occidentalis (L.) Link

Caesalpinioideae

1

0,0345

3,45

Gengibre

Zingiber officinalis Roscoe

Zingiberaceae

5

0,1724

17,24

Gergelim preto

Sesamum indicum L.

Pedaliaceae

1

0,0345

3,45

Goiaba

Psidium guajava L.

Myrtaceae

1

0,0345

3,45

Hortelã de panela

Mentha x piperita L.

Lamiaceae

4

0,1379

13,79

Hortelã miúdo

Mentha pulegium L.

Lamiaceae

2

0,0690

6,90

Jambu

Spilanthes oleraceae L.

Asteraceae

2

0,0690

6,90

Japana branca

Eupatorium triplinerve Vahl.

Asteraceae

4

0,1379

13,79

Japana roxa

Eupatorium triplinerve Vahl.

Asteraceae

3

0,1034

10,34

Jiló amarelo

Não identificado

Solanaceae

1

0,0345

3,45

Juca

Caesalpinia ferrea Mart.

Caesalpinaceae

1

0,0345

3,45

Laranja da terra

Citrus aurantium L.

Rutaceae

1

0,0345

3,45

Lima

Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle

Rutaceae

1

0,0345

3,45

Nome popular

Nome científico

Família

Nº de citações

FUsp

FUsp%

Limão galego

Citrus limón (L.) Burm. f.

Rutaceae

1

0,0345

3,45

Língua de vaca

Elephantopus scaber L.

Asteraceae

2

0,0690

6,90

Losna

Ambrosia artemisiifolia L.

Asteraceae

1

0,0345

3,45

Malva rosa

Pelargonium zonale L’Herit

Geraniaceae

4

0,1379

13,79

Malvarisco

Pothomorphe umbellata (L.) Miq

Piperaceae

1

0,0345

3,45

Mamona

Ricinus communis L.

Euphorbiaceae

3

0,1034

10,34

Mandacaru

Cereus jamacaru DC.

Cactaceae

1

0,0345

3,45

Manjericão

Ocimum minimum L.

Lamiaceae

5

0,1724

17,24

Manjericão roxo

Ocimum brasiliensis L.

Lamiaceae

1

0,0345

3,45

Mangueira (casca)

Mangifera indica L.

Anacardiaceae

1

0,0345

3,45

Manjerioba

Senna occidentalis (Linn.) Link.

Caesalpinioideae

1

0,0345

3,45

Manjerona

Majorana hortensis Moench

Lamiaceae

3

0,1034

10,34

Mastruço

Chenopodium ambrosioides L.

Chenopodiaceae

7

0,2414

24,14

Monja-senhor

Não identificado

1

0,0345

3,45

Mucuracaá

Petiveria alliacea L.

Phytolaccaceae

3

0,1034

10,34

Mudubim

Arachis hypogaea L.

Fabaceae

1

0,0345

3,45

Mulatinha

Aeolanthus suaveolens Mart ex K. Spreng

Lamiaceae

4

0,1379

13,79

Murtinha branca

Myrcia bracteata (Rich.) DC.

Myrtaceae

2

0,0690

6,90

Oriza

Pogostemon patchouly Pellet

Lamiaceae

5

0,1724

17,24

Palma

Opuntia dillenii Haw

Cactaceae

1

0,0345

3,45

Pariri

Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) Verlot

Bignoniaceae

8

0,2759

27,59

Patchouli

Vetiveria zizanioides Stapf.

Poaceae

3

0,1034

10,34

Pau d’angola

Piper arboreum Ruiz et Pav.

Piperaceae

1

0,0345

3,45

Pega rapaz

Não identificado

1

0,0345

3,45

Perpetua Roxa

Gomphrena globosa L.

Amaranthaceae

2

0,0690

6,90

Pião branco

Jatropha curcas L.

Euphorbiaceae

13

0,4483

44,83

Pião caboclo

Jatropha multifida L.

Euphorbiaceae

2

0,0690

6,90

Pião roxo

Jatropha gossypiifolia L.

Euphorbiaceae

2

0,0690

6,90

Pimenta malagueta

Capsicum baccatum L.

Solanaceae

1

0,0345

3,45

Pluma

Não identificada

1

0,0345

3,45

Poejo

Mentha pulegium L.

Lamiaceae

Priprioca

Cyperus articulatus L

Cyperaceae

1

0,0345

3,45

Pripriocão

Cyperus prolixus H.B.K.

Cyperaceae

1

0,0345

3,45

Quebra pedra

Phyllanthus cf. niruri L.

Euphorbiaceae

1

0,0345

3,45

Rinchão

Starchytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl

Verbenaceae

1

0,0345

3,45

Sacaca ou cajuçara

Croton cajucara Benth.

Euphorbiaceae

1

0,0345

3,45

São Raimundo

Briophyllum calicinum Salisb.

Crassulaceae

5

0,1724

17,24

Saracurinha

Alternanthera ficoidea R. Br.

Amaranthaceae

1

0,0345

3,45

Sucubeira

Himatanthus sucuuba (Spruce ex Muell. Arg.) Woodson

Apocinaceae

1

0,0345

3,45

Nome popular

Nome científico

Família

Nº de citações

FUsp

FUsp%

Sucuriju

Cissamtelos sp.

Minispeermaceae

1

0,0345

3,45

Taperebazeiro (casca)

Spondias mombin L.

Anacardiaceae

1

0,0345

3,45

Terramicina

Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze.

Amaranthaceae

2

0,0690

6,90

Trevo roxo

Hyptis atrorubens Poit.

Lamiaceae

3

0,1034

10,34

Vassorinha de benzer

Scoparia dulcis L.

Scrophulariaceae

3

0,1034

10,34

Vassorinha de botão

Spermacoce verticillata L.

Rubiaceae

3

0,1034

10,34

Vick (menta)

Mentha arvensis L.

Lamiaceae

2

0,0690

6,90

Vinagreira

Hibiscus sabdariffa L.

Malvaceae

1

0,0345

3,45

Vinagreira branca

Hibiscus sabdariffa L.

Malvaceae

2

0,0690

6,90

Vinagreira do talo roxo

Hibiscus sabdariffa L.

Malvaceae

1

0,0345

3,45

Vinagreira roxa

Hibiscus sabdariffa L.

Malvaceae

3

0,1034

10,34

Vindicá

Alpinia zerumbert (Pers.) B.L. Burtt. & R.M. Sm.

Zingiberaceae

1

0,0345

3,45

Ucuuba

Virola surinamensis (Rol.) Warb.

Myristicaceae

2

0,0690

6,90

Urubu-caa

Casearia javitensis H.B.K.

Flacortiaceae

1

0,0345

3,45

Urucu

Bixa orellana L.

Bixaceae

1

0,0345

3,45

Tabela 2 Relação entre as categorias de afecções orgânicas, as espécies medicinais cultivadas nos quintais como remédio e seus usos. Boa Esperança, São João de Pirabas/PA, 2005/2006.

Categorias

Espécies

Usos

Doenças do sistema nervoso

Capim santo, oriza, erva cidreira, hortelã de panela, reira, vindicá, malva rosa, babaçu, cravo de defunto, maravuvuia mirim, caroço do tucumã

Ansiedade, agitação, fraqueza da cabeça

Doenças do aparelho digestivo

Boldo, amor crescido, anador, canela, elixir paregórico, hortelã de panela

Digestão, dor de estômago, dor de barriga, azia, mal-estar, fígado, ânsia de vômito

Doenças do aparelho respiratório

Algodão roxo, chicória, gengibre, hortelã da folha grossa, hortelã miúdo, japana branca, juca, jutai, japana branca, amapá, mastruço, patchouli

Gripe, resfriado, sinusite

Doenças do aparelho circulatório

Cipó puçá, coramina, cravo de defunto, gergelim preto, mulatinha, oriza, vindica, batatão, ajirú, pariri, saracurinha, massaranduba

Pressão alta, sangue grosso, hemorróida, limpar o sangue, anemia, hemorragia

Doenças do aparelho genito-urinário

Abacateiro, alfavaquinha, arruda, canarana, chicória, mandacaru, murtinha branca, pariri, quebra pedra, sucuriju, terramicina, barbatimão, verônica, unha de gato, uxi

Diurético, inflamação dos ovários, útero, bexiga, urina, menstruação, menopausa

Doenças da pele o do tecido subcutâneo

Babosa, laranja da terra, limão galego, são Raimundo, vassorinha de benzer

Coceiras, alergia, manchas

Doenças infecciosas e parasitárias

Terramicina, andiroba-jaruba, erva lombrigueira, ajiru mamona, mastruço, perpetua roxa, trevo-roxo, verônica, sucuuba, apio, barbatimão, vinagreira roxa, maravuvuia mirim, tapirica, são raimundo, anajai

Vermes, infecção intestinal, diarréia, erisipela, fungo, amidalite, ameba

Traumatismo

Apui, mastruço, babosa, coramina rajada, catigia, visqueiro, veronica

Osso quebrado, golpe, baque, queimadura, ferrada de peixe

Dor de cabeça

Açucena, japana branca, alecrim d’angola, arruda, mulatinha, cuieira, capitiu, buiuçu, cibalena

Sintoma de várias doenças

Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjutivo

Andiroba, gengibre, mucuracaá

Reumatismo, energético

Tabela 3 – Espécies para diferentes categorias de uso (A: alimento; R: remédio; M: madeira; Ot: outros) identificadas nas capoeiras de Boa Esperança, segundo os informantes-chave. São João de Pirbas/PA, 2005/2006.

Nome científico

Família

Nome popular

Categoria de uso

Hábito

Arrabidaea cinnamomea (DC.) Sandw.

Bignoneaceae

abuta grande

R

Cipó

Euterpe oleracea Mart.

Aracaceae (Palmae)

açaí

A, R, M

Árvore

Chrysobalanus icaco L.

Chrysobalanaceae

ajirú da praia

A, R

Arbusto

Parahancomia amapá (Huber) Ducke

Apocynaceae

amapá

R

Árvore

Eugenia cumini (L.) Druce

Myrtaceae

ameixeira do pará

A, R

Árvore

Carapa guianensis Aubl.

Meliaceae

andiroba

R, M

Árvore

Andira retusa (Lam) H. B. K.

Fabaceae

andiroba jaruba ou lombrigueira

R

Árvore

Parkia pendula Benth. Ex Walp.

Mimosaceae

angelim pedra

M, R

Árvore

Licania macrophylla Benth.

Chrysobalanaceae

anuerá

R, M

Árvore

Agonandra brasiliensis Miers ex Benth

Opiliaceae

apio

R, Ot

Árvore

Fícus guianensis Desv. Ex Ham.

Moraceae

apuí

R

Cipo

Cordia nodosa Lamarck

Boraginaceae

aracatinga

R

Arbusto

Orbignya phalereta Mart.

Arecaceae

babaçu

Ot, R

Árvore

Ouratea microdonta (Dalz) Engl.

Ochnaceae

barbatimão

R

Árvore

Maytenus myrcinoides Reissek.

Celastraceae

barbatimão

R

Árvore

Protium hepetaphyllum (Aubl.) March.

Burseraceae

breu branco

R, M, Ot

Árvore

Ormosia coutinhoi Ducke

Fabaceae

buiuçu mirim

R, M

Árvore

Arrabidaea cinnamomea (DC) Sandw

Bignoniaceae

butarana

A, R

Cipo

Psychotria barbiflora DC.

Rubiaceae

caamembeca

R

Subarbusto

Cordia multispicata Cham.

Boraginaceae

carucaa ou maria preta

R

Arbusto

Lecythis pisonis Cambess.

Lecythidaceae

castanha de sapucaia

A, R, M

Árvore

Fícus catappifolia Kunth & Bouché ex Kunth

Moraceae

caxinguba

R

Árvore

Clusia grandiflorum Splits.

Clusiaceae

ceboleira

R, Ot

Árvore

Não identificado

cipó tiquira

R

Cipó

Nome científico

Família

Nome popular

Categoria de uso

Hábito

Copaifera martii Hayne

Caesalpiniaceae

copaíba

R, M

Árvore

Duoclea virgata (Rich) Amsh.

Fabaceae

cordão de vila

R, Ot

Cipó

Solanum asperum Rich

Solanaceae

cujuçara ou cega burro

R, Ot

Arbusto

Cecropia palmata Willd.

Cecropiaceae

embauba branca

R, Ot

Árvore

Securidaea bialata Benth.

Polygalaceae

emburate (mato invasor)

R, Ot

Subarbusto

Phoradendron pteroneurum Eichler.

Loranthaceae

erva de passarinho

R

Cipó

Bauhinha coronata Bentham

Caesalpiniaceae

escada de jabuti ou jabutimutá

R, Ot

Cipó

Matayba arborea (Aubl) Radlk

Sapindaceae

espeturana

R, Ot

Arbórea

Justicia sp.

Acanthaceae

eucalipto de jardim

R, Ot

Subarbusto

Piper ottonoides Yunck

Piperaceae

jambú açú

R

Subarbusto

Genipa americana L.

Rubiaceae

jenipapo

A, R, Ot, M

Árvore

Hymenaea courbaril L.

Caesalpiniaceae

jutaí ou jatobá

A, R, M

Árvore

Platymiscium filipes Benth.

Fabaceae

macacauba

R, M

Árvore

Cereus sp.

Cactaceae

mandacaru

R

Arbusto

Croton matonensis Aubl

Euphorbiaceae

maravuvuia

R, M

Árvore

Manilkara triflora (F. Allemão)

Sapotaceae

massaranduba

R, M

Árvore

Manilkara triflora (F. Allemão)

Sapotaceae

massaranduba

R, M

Árvore

Siparuna guianensis Aube

Monimiaceae

mucuracaa

R

Arbusto

Brosimum acutifolium Hub.

Moraceae

mururé

R

Árvore

Connarus angustifolius (Radlkofer) G. Schellend.

Connaraceae

pau de cavalo

R

Árvore

Hibanthus ipecacuanha Baill

Violaceae

pecaconha

R

Arbusto

Eugenia punicifolia (H.B.K.) DC

Myrtaceae

pedra-ume-caá

R

Arbusto

Eugenia punicifolia (H. B. K. P) DC.

Myrtaceae

pimentão do mato

R

Subarbusto

Tabemaemontana angulata C. Martius ex Muell. Arg.

Apocynaceae

pocoro

R, Ot

Arbusto

Pogonophora schomburgriana Miers ex Beuth

Euphorbiaceae

pocoró

R

Subarbusto

Conyza bonariensis (L) Cronq.

Asteraceae

rabo de raposa

R

Arbusto

Stachytarpheta cayennensis

Verbenaceae

rinchão

R

Subarbusto

Manilkara sp.

Sapotaceae

sarandubim

R

Justicia leucophoea DC (Nees) Nassh

Acanthaceae

sonrizal ou sulfato ferroso

R

Subarbusto

Cissamtelos sp.

Minispeermaceae

sucuriju

R

Cipó

Himatanthus sucuuba (Spruce ex Muell. Arg.) R.E. Wood

Apocynaceae

sucuuba

R

Árvore

Chelonanthus alatus Aubl.

Grentianaceae

tabacarana

R

Subarbusto

Tapirira guianensis Aubl.

Apocinaceae

tapiririca

R, Ot

Subarbusto

Justicia sp.

Acanthaceae

trevo cumaru

R

Árvore

Casearia javitensis H.B.K.

Flacourtiaceae

urubucaa do mato

R

Cipó

Virola surinamensis (Rol.) Warb.

Miristicaceae

ucuuba ou virola

R, M

Árvore

Machaerium ferox (Marte x Benth.) Ducke

Fabaceae

unha-de-gato

R

Cipó

Dalbergia ecastophyllum Duckl

Papilionoideae

verônica branca

R

Árvore

Stryphnodendron purpureum Ducke.

Mimoraceae

visgueiro

R, Ot

Árvore

Tabela 4 – Espécies medicinais encontradas nas capoeiras de Boa Esperança, segundo informantes da comunidade. São João de Pirabas/PA, 2005/2006.

Nome popular

Nome científico

Família

Nº de citações

FUsp

FU (%)

Amapá

Parahancomia amapá (Huber) Ducke

Apocynaceae

8

0,2759

27,59

Ananim

Symphonia globulifera B. Maguire

Apocynaceae

2

0,0690

6,90

Andiroba

Carapa guianensis Aublet

Meliaceae

4

0,1379

13,79

Anuerá

Licania macrophylla Benth.

Chrysobalanaceae

2

0,0690

6,90

Apio

Agonandra brasiliensis Miers ex Benth

2

0,0690

6,90

Apui

Fícus guianensis Desv. Ex Ham.

Moraceae

1

0,0345

3,45

Babaçu

Orbignya phalereta Mart.

Arecaceae

1

0,0345

3,45

Barbatimão

Ouratea microdonta (Dalz) Engl.

Maytenus myrcinoides Reissek.

Ochnaceae

Celastraceae

27

0,9310

93,10

Batatão

Operculina macrocarpa (L.) Farwel

Convolvulaceae

5

0,1724

17,24

Breu

Protium hepetaphyllum (Aubl.) March.

burseraceae

1

0,0345

3,45

Buiuçu mirim

Ormosia coutinhoi Ducke

Fabaceae

2

0,0690

6,90

Cajuaçu

Anacardium giganteum L.

Anacardiaceae

1

0,0345

3,45

Copaiba

Copaifera martii Hayne

Caesalpiniaceae

4

0,1379

13,79

Capitiu

Siparuna guianensis Aubl.

Monimiaceae

1

0,0345

3,45

Catigia

Não identificada

1

0,0345

3,45

Cipó de canoinha

Não identificada

1

0,0345

3,45

Cipó de caranguejo

Não identificada

1

0,0345

3,45

Cipó de flor roxa

Não identificada

1

0,0345

3,45

Cipó jabutimuta

Bauhinha coronata Bentham

Caesalpiniaceae

2

0,0690

6,90

Cipó de macaco

Não identificada

1

0,0345

3,45

Castanha de sapucaia

Lecythis pisonis Cambess.

Lecythidaceae

1

0,0345

3,45

Envira mata

Guatteria paraensis R.E. Fries

Annonaceae

1

0,0345

3,45

Erva de passarinho

Phoradendron pteroneurum Eichler.

Loranthaceae

1

0,0345

3,45

Ervão cumaru

Não identificada

1

0,0345

3,45

Ingá pretinho

Inga heterophylla Willd.

Mimosoideae

1

0,0345

3,45

João-caá ou pimenta lagarto

Não identificada

1

0,0345

3,45

Jucá

Caesalpinia ferrea Mart.

Caesalpinaceae

2

0,0690

6,90

Juquiri (cipo espinho)

Não identificada

1

0,0345

3,45

Jutaí

Hymenaea courbaril L.

Caesalpiniaceae

2

0,0690

6,90

Lacreiro

Vismia guianensis (Aubl.) Choisy

Clusiaceae

1

0,0345

3,45

Mamãozinho do mato

Não identificada

1

0,0345

3,45

Massaranduba

Manilkara triflora (F. Allemão)

Sapotaceae

2

0,0690

6,90

Maravuvuia

Croton matonensis Aubl

Euphorbiaceae

7

0,2414

24,14

Maravuvuia mirim

Cróton cajucara Benth.

Euphorbiaceae

5

0,1724

17,24

Melão são caetano

Mormodica charantia L.

Cucurbitaceae

1

0,0345

3,45

Murtinha do mato

Myrcia cuprea (Berg) Kiaerskou

Myrcia cuprea (Berg) Kiaerskou

2

0,0690

6,90

Nome popular

Nome científico

Família

Nº de citações

FUsp

FU (%)

Pau d’arco amarelo

Tabebuia aurea (Manso) Benth. & Hook.

Bignoniaceae

2

0,0690

6,90

Pau de cavalo

Connarus angustifolium (Radlkofer) G. Schellenb.

Connaraceae

27

0,9310

93,10

Pocoró

Pogonophora schomburgriana Miers ex Beuth

Euphorbiaceae

3

0,1034

10,34

Santo Antônio

Não identificada

1

0,0345

3,45

Sucuuba

Himatanthus sucuuba (Spruce ex Muell. Arg.) R. E. Wood

Apocynaceae

15

0,5172

51,72

Tapiririca

Tapirira guianensis Aubl.

Apocinaceae

1

0,0345

3,45

Tatajuba

Não identificada

2

0,0690

6,90

Tiriba

Eschweilera ovata (Cambess) Miers.

Lecythidaceae

1

0,0345

3,45

Umbura pé

Não identificada

1

0,0345

3,45

Unha de gato

Machaerium ferox (Marte x Benth.) Ducke

Fabaceae

12

0,4138

41,38

Ucuuba

Virola surinamensis (Rol.) Warb.

Miristicaceae

3

0,1034

10,34

Uxi

Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.

Humiriaceae

1

0,0345

3,45

Verônica

Dalbergia monetaria L. f.

Dalbergia ecastophylla (L.) Taub.

Fabaceae

27

0,9310

93,10

Visgueiro

Stryphnodendron purpureum Ducke.

Mimoraceae

1

0,0345

3,45

Tabela 5 Relação entre as categorias de afecções orgânicas, as espécies medicinais da capoeira como remédio e seus usos. Boa Esperança, São João de Pirabas/PA, 2005/2006.

Categorias

Espécies

Usos

Doenças do sistema nervoso

buiuçu mirim

Ansiedade, agitação, fraqueza

Doenças do aparelho digestivo

angelim pedra, sucuuba, pedra-ume-caa

Digestão, dor de estômago, dor de barriga, azia, mal-estar, fígado, ânsia de vômito

Doenças do aparelho respiratório

amapá, jutaí, pecaconha,

Gripe, resfriado

Doenças do aparelho circulatório

camembeca, massaranduba

Pressão alta, sangue grosso, hemorróida, limpar o sangue, hemorragia

Doenças do aparelho genitourinário

amapá

Diurético, inflamação dos ovários, útero, bexiga, urina, menstruação, menopausa

Doenças da pele o do tecido subcutâneo

andiroba, pau japecanga

Coceiras, alergia, manchas

Doenças infecciosas e parasitárias

andiroba, andiroba jaruba, apio, sapucaia, copaíba, cururu timbó, jabutimuta, massaranduba, maravuvuia, rabo-de-raposa, sucuuba, tabacarana, açaí, cajuçara, tapirica, unha de gato

Vermes, infecção intestinal, diarréia, erisipela, fungo, amidalite, ameba

Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo

andiroba, copaíba, jambuaçu, murure, sucuuba, amapá, capim açu, unha-de-gato

Doenças fisiológicas

ajiru da praia, butarana, carucaá embaúba, murure, anuera, hepatite, pimentão do mato, cipó tiquira

Diabete, colesterol, hepatite, albumina, anemia

Traumatismo

andiroba, apuí, copaiba, caximguba, ceboleira, erva de passarinho, ingá, murtinha

Osso quebrado, golpe, baque, queimadura, ferrada de peixe

Dor de cabeça e inflamação

barbatimão, andiroba, copaíba, mucuracaá, pau de cavalo, pocoro, sucuriju, trevo cumaru, urubu-caá, unha de gato,

Sintoma de várias doenças

Biodiversidade Brasileira – BioBrasil.

Fluxo Contínuo

n.2, 2023

http://www.icmbio.gov.br/revistaeletronica/index.php/BioBR

Biodiversidade Brasileira é uma publicação eletrônica científica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que tem como objetivo fomentar a discussão e a disseminação de experiências em conservação e manejo, com foco em unidades de conservação e espécies ameaçadas.

ISSN: 2236-2886