Percepção e atuação de condutores de turismo sobre as interações com Botos no Parque Nacional de Anavilhanas, Estado do Amazonas, Brasil

Autores

  • Fábio Pereira Instituto Australis de Pesquisa e Monitoramento Ambiental, Imbituba/SC, Brasil https://orcid.org/0000-0002-3029-2388
  • Priscila Maria Costa Santo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Núcleo de Gestão Integrada Novo Airão, Novo Airão/AM, Brasil
  • Camilah Zappes Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Geografia de Campos, Campos dos Goytacazes/RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0002-5486-6577
  • Marcelo Vidal Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais, São Luís/MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9434-7333

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v12i3.1892

Palavras-chave:

Amazônia , Inia geoffrensis, visitação , unidade de conservação

Resumo

A identificação da percepção dos profissionais do turismo sobre os atrativos em áreas protegidas e como estes atores atuam junto aos visitantes permite aos gestores a elaboração de estratégias de manejo da visitação mais eficientes. Neste artigo discutimos aspectos da percepção e da atuação de condutores de turismo sobre as interações com botos (Inia geoffrensis) no Parque Nacional de Anavilhanas, Brasil. Utilizando um questionário semiestruturado, foram realizadas entrevistas com 33 condutores locais de turismo. Todos os entrevistados eram do sexo masculino, com faixa etária predominante de 38 a 47 anos (45,5%) e com ensino fundamental incompleto para a maioria (21,2%). Além do idioma português, falado por todos os entrevistados, apenas 12 (36,36%) condutores de turismo afirmaram falar outros idiomas. Antes de trabalharem como condutores de turismo, os entrevistados atuavam em outras profissões, sendo pescador artesanal (18,2%) e agricultor (12,1%) as mais citadas. Os temas ‘comportamento' e ‘dieta' (21,8%) são os mais abordados nas explicações sobre os botos aos visitantes. A maioria dos entrevistados (90,9%) acredita que o turismo com botos auxilia na preservação dos cetáceos, pois informações de conservação são fornecidas aos visitantes e essa sensibilização ambiental pode contribuir para minimizar a caça destes animais cujas carcaças são utilizadas na pesca da piracatinga (Calophysus macropterus). Os resultados contribuem para o melhor entendimento do uso público no Parque Nacional de Anavilhanas e na formulação de estratégias de gestão das interações turísticas com botos. 

Referências

Alves LCPS, Andriolo A, Orams MB, Azevedo AF. The growth of "botos feeding tourism", a new tourism industry based on the boto (Amazon river dolphin) Inia geoffrensis in the Amazonas State, Brazil. Sitientibus Série Ciências Biológicas, 11(1): 8-15, 2011. https://doi.org/10.13102/scb140

Alves LCPS, Zappes CA, Andriolo A. Conflicts between river dolphins (Cetacea: Odontoceti) and fisheries in the Central Amazon: a path toward tragedy? Zoologia (Curitiba): An International Journal for Zoology, 29(5): 420-429, 2012. https://doi.org/10.1590/s1984-46702012000500005

Alves LCPS, Machado CJS, Vilani RM, Vidal MD, Andriolo A, Azevedo AF. As atividades turísticas baseadas na alimentação artificial de botos-da-Amazônia (Inia geoffrensis) e a legislação ambiental brasileira. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 28: 89-106, 2013a. https://doi.org/10.5380/dma.v28i0.31511

Alves LCPS, Zappes, CA, Oliveira RG, Andriolo A, Azevedo AF. Perception of local inhabitants regarding the socioeconomic impact of tourism focused on provisioning wild dolphins in Novo Airão, Central Amazon, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 85(4): 1577-1591, 2013. http://dx.doi.org/10.1590/0001-37652013108812

Andersen MS, Miller ML. Onboard marine environmental education: Whale watching in the San Juan Islands, Washington. Tourism in Marine Environments, 2(2): 111-118, 2006. https://doi.org/10.3727/154427306779436327

Barezani CP. 2005. Conhecimento local sobre o boto vermelho, Inia geoffrensis (de Blainville, 1817), no baixo rio Negro e um estudo de caso de suas interações com humanos. Dissertação (Mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. 76p.

Bernard HR. 2000. Social research methods: qualitative and quantitative approaches. Sage tions, Thousand Oaks. p. 412.

Best RC, Da Silva VMF. 1989. Amazon River dolphin, Boto, Inia geoffrensis (de Blainville, 1817), p. 1-23. In: Ridgway SH, Harrison RJ (Eds.). Handbook of Marine Mammals. Academic Press. 442p.

Best RC, Da Silva VMF. Inia geoffrensis. Mammalian Species, 426: 1-8, 1993. https://doi.org/10.2307/3504090

Bogdan RC, Biklen SK. 1994. Investigação Qualitativa em Educação - Uma Introdução à Teoria e aos Métodos. Editora Porto. 336p.

Boggiani PC. A importância dos condutores de visitantes na divulgação das Geociências em unidades de conservação. Terrae Didatica, 14(4): 463-466, 2018 https://doi.org/10.20396/td.v14i4.8654197

Borges WJ, Gois PH, Tatto L. Storytelling e estratégia: A cognição como forma de integração. Saber Acadêmico, 11: 107-117, 2011.

Brasil. 2011. Cadeia produtiva do turismo em Parques Nacionais no Brasil e entorno - Parque Nacional de Anavilhanas. SEBRAE/ICMBio. 128p.

Brum SM, Da Silva VMF, Rossoni F, Castello L. Use of dolphins and caimans as bait for Calophysus macropterus (Lichtenstein, 1819) (Siluriforme: Pimelodidae) in the Amazon. Journal of Applied Ichthyology, 31: 675-680, 2015. https://doi.org/10.1111/jai.12772

Castro BJ, Costa PCF. Contribuições de um jogo didático para o processo de ensino e aprendizagem de Química no Ensino Fundamental segundo o contexto da Aprendizagem Significativa. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, 6 (2): 1-13, 2011.

Carvalho AB. 2016. Teoria, técnicas e tecnologias para formação e atuação profissional do guia de turismo. 1 ed. Editora do Instituto Federal de Sergipe. 95p.

Corrêa YG, Seibert CS. Uso do storytelling na educação ambiental para sensibilizar crianças sobre as arraias de água doce. Ambiente & Educação - Revista de Educação Ambiental, 24 (1): 3-31, 2019.

Cotes M, Sales WN, Brasil VZ, Ilha T, Schiavetti A, Nascimento JV. Perfil de condutores de trilha de longa duração em parques nacionais brasileiros. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 26(1): 167-177, 2018.

Crouch M, McKenzie H. The logic of small samples in interview-based qualitative research. Social Science Information, 45: 483-499, 2006. https://doi.org/10.1177/0539018406069584

Curtin, S. 2009. Wildlife tourism: The intangible, psychological benefits of human-wildlife encounters. Current Issues in Tourism, 12(5): 451-474. https://doi.org/10.1080/13683500903042857

Custódio GA, Nogueirab RE. Educação Geográfica e Ambiental numa Perspectiva Inclusiva: Da Sala de Aula ao Trabalho de Campo. PESQUISAR - Revista de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia, 1(1): 211-230, 2014.

Da Silva VMF, Best RC. Freshwater dolphin/fisheries interaction in the Central Amazon (Brazil). Amazoniana, XIV(1/2): 165-175, 1996.

Diedrich A, Garcia-Buades E. Local perceptions of tourism as indicators of destination decline. Tourism Management, 30(4): 512-521, 2009. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2008.10.009

Espírito Santo FM, Matos WR. Percepção dos visitantes sobre a maior floresta urbana do mundo: O Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil. Interdisciplinar, 14(2): 120-126, 2015.

García-Cegarra AM, Pacheco AS. Whalewatching trips in Peru lead to increases in tourist knowledge, proâ€conservation intentions and tourist concern for the impacts of whaleâ€watching on humpback whales. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, 27(5): 1011-1020, 2017. https://doi.org/10.1002/aqc.2754

Goldenberg M. 1999. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 8 ed. Record. 107p.

Iriarte V, Marmontel M. Insights on the use of dolphins (boto, Inia geoffrensis and tucuxi, Sotalia fluviatilis) for bait in the piracatinga (Calophysus macropterus) fishery in the Western Brazilian Amazon. Journal of Cetacean Research Management, 13: 163-173, 2013.

Luck M. Education on marine mammal tours - But what do tourists want to learn? Ocean & Coastal Management, 103: 25-33, 2015. https://doi.org/10.1016/j.ocecoaman.2014.11.002

Mason M. Sample Size and Saturation in PhD Studies Using Qualitative Interviews. Forum: Qualitative Social Research, 11(3): Art. 8, 2010. https://doi.org/10.17169/fqs-11.3.1428

Mintzer VJ, Martin AR, Da Silva VMF, Barbour AB, Lorenzen K, Frazer TK. Effect of illegal harvest on apparent survival of Amazon River dolphins (Inia geoffrensis). Biological Conservation, 158: 280-286, 2013. https://doi.org/10.1016/j.biocon.2012.10.006

Morse JM. 1994. Designing funded qualitative research, p. 220-235. In: Denzin NK, Lincoln YS (Eds.). Handbook of Qualitative Research. Sage tions, Thousand Oaks. 656p.

Oliveira JF, Novaes JLC, Segundo ALNM, Peretti D. Caracterização da pesca e percepção de pescadores artesanais em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável no Nordeste brasileiro. Natureza Online, 14(1): 48-54, 2016.

Opdenakker R. Advantages and disadvantages of four interview techniques in qualitative research. Forum Qualitative Social Research, 7(4): Art. 11, 2006. http://nbn-resolving.de/urn:nbn:de:0114-fqs0604118

Orams MB. A conceptual model of tourist-wildlife interaction: The case for education as a management strategy. Australian Geographer, 27(1): 39-51, 1996. https://doi.org/10.1080/00049189608703156

Orlandi EP. 2010. Análise do discurso. Princípios e Procedimentos. Pontes Editores. 101p.

Pereira EM. 2004. Interpretação: valor adicional no turismo sustentável, pp. 139-178. In: Nelson SP, Pereira EM (Orgs.). Ecoturismo - práticas para um turismo sustentável. Editora Valer. 426p.

Pereira EM. 2007. From extraction to attraction: making ecotourism a reality in the municipality of Manaus, Amazonas, Brazil. Thesis (Doctoral Dissertation, Faculty of Social Sciences). University of Stavanger. 214p.

Pereira AIA, Silva FL, Silva-Junior JM. Influência dos cursos de capacitação do Projeto Golfinho Rotador na atuação profissional dos condutores de ecoturismo em Fernando de Noronha (PE): uma contribuição a sustentabilidade turística local. Revista Brasileira de Ecoturismo, 8(1): 31-58, 2015.

Prado HM, Murrieta RSS. A experiência do conhecimento em Tim Ingold e as etnociências: reflexões a partir de um estudo de caso etnoecológico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi - Ciências Humanas, 12(3): 839-853, 2017. https://doi.org/10.1590/1981.81222017000300010

Reeves RR, Smith BD, Crespo EA, Di Siara GN. 2003. Dolphins, Whales and Porpoises: 2002-2010. Conservation Action Plan for the World's Cetaceans. IUCN/SSC Cetacean Specialist Group. 139p. https://doi.org/10.2305/iucn.ch.2003.ssc-ap.2.en

Reynolds PC, Braithwaite D. Towards a conceptual framework for wildlife tourism. Tourism Management, 22(1): 31-42, 2001. https://doi.org/10.1016/s0261-5177(00)00018-2

Ritchie B, Inkari, M. Host community attitudes toward tourism and cultural tourism development: the case of the Lewes District, Southern England. International Journal of Tourism Research, 8(11): 27-44, 2006. https://doi.org/10.1002/jtr.545

Romagnoli FC. 2009. Interpretação ambiental e envolvimento comunitário: ecoturismo como ferramenta para a conservação do boto-vermelho, Inia geoffrensis. Dissertação (Mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior). Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. 133p.

Romagnoli FC, Da Silva VMF, Nelson SP, Shepard-Jr GH. Proposta para o turismo de interação com botos-vermelhos (Inia geoffrensis): como trilhar o caminho do ecoturismo? Revista Brasileira de Ecoturismo, 4(3): 463-480, 2011.

Saraiva ALO, Anjos FO. As competências do guia de turismo: um estudo sobre os cursos de formação técnica no Brasil. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 13(3): 36-54, 2019. https://doi.org/10.7784/rbtur.v13i3.1536

Schensul SL, Schensul JJ, Lecompte MD. 1999. Essential Ethnographic Methods: Observations, Interviews and Questionnaires. 2nd ed. Altamira Press. 344p.

Silva AH, Fossá MIT. Análise de conteúdo: exemplo de aplicação da técnica para a análise de dados qualitativos. Revista Eletrônica Qualitas, 16 (1): 1-14, 2015.

Silva JH, Pires MLLS. Associativismo em áreas protegidas: restrições e possibilidades na experiência dos guias de turismo do Catimbau, Pernambuco. Ambiente & Sociedade, XIX(2): 169-186, 2016.

Silva MA, Simonetti SR. Avaliação dos atrativos turísticos do Parque Nacional de Anavilhanas (AM). Revista Brasileira de Ecoturismo, 13(1): 69-87, 2020. https://doi.org/10.34024/rbecotur.2020.v13.6791

Simonetti SR, Silva GT. Percepção dos conflitos socioambientais gerados pelo turismo na Vila de Paricatuba (Iranduba-AM). Desafio Online, 1(2): 29-43, 2013.

Ternes MLF, Gerhardinger LC, Schiavetti A. Seahorses in focus: local ecological knowledge of seahorse-watching operators in a tropical estuary. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 12(1): Art. 52, 2016. https://doi.org/10.1186/s13002-016-0125-8

Tremblay P. Tourism wildlife icons: attractions of marketing symbols? Journal of Hospitality and Tourism Management, 9(2): 164-180, 2002.

Vasco AP, Zakrzevski SBB. O estado da arte das pesquisas sobre percepção ambiental no Brasil. Perspectiva, 34(125): 17-28, 2010.

Vidal MD. Botos e turistas em risco. Ciência Hoje, 47(281): 73-75, 2011.

Vidal MD, Santos PMC, Oliveira CV, Melo LC. Perfil e percepção ambiental dos visitantes do flutuante dos botos, Parque Nacional de Anavilhanas, Novo Airão - AM. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 7(3): 419-435, 2013. https://doi.org/10.7784/rbtur.v7i3.583

Vidal MD, Alves LCPS, Zappes CA, Andriolo A, Azevedo AF. 2017a. Percepção de pescadores sobre as interações de botos com a pesca e sua relação com o turismo de alimentação artificial em Novo Airão, Amazonas, Brasil, p. 103-120. In: Marchand G, Vander Velden F. (Eds.) Olhares cruzados sobre as relações entre seres humanos e animais silvestres na Amazônia (Brasil, Guiana Francesa). Editora da Universidade Federal do Amazonas. 320p.

Vidal MD, Santos PMC, Jesus JS, Alves LCPS, Chaves MPSR. Ordenamento participativo do turismo com botos no Parque Nacional de Anavilhanas, Amazonas, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi - Ciências Naturais, 12(1): 85-98, 2017b.

Vidal MD, Moura MF, Muniz GPS. Conhecimentos e crenças de pescadores artesanais sobre os golfinhos fluviais do Médio Rio Tapajós, Pará. Revista Brasileira de Biociências, 17: 53-60, 2019.

Weiler B, Black R. The Changing Face of the Tour Guide: One-way Communicator to Choreographer to Co-Creator of the Tourist Experience. Tourism Recreation Research, 40(3): 364-378, 2015. https://doi.org/10.1080/02508281.2015.1083742

Zappes CA, Alves LD, Di Beneditto APM. Educação Ambiental aplicada à conservação costeira: Uma abordagem da Oceanografia Socioambiental em escolas da rede pública no norte do estado do Rio de Janeiro. Revista de Extensão UENF, 4: 84-107, 2019.

Zeineddine GC, Oliveira KS, Ramires M, Barrella W, Guimarães JP. Percepções dos pescadores artesanais e a pesca acidental de tartarugas marinhas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Barra do Una, Peruíbe, São Paulo, Brasil. Ethnoscientia, 3: 1-13, 2018. https://doi.org/10.22276/ethnoscientia.v3i0.60

Downloads

Publicado

2022-03-31

Edição

Seção

Gestão do Uso Público: Turismo e Lazer em Áreas Protegidas