A visão dos pescadores sobre a importância da participação dos Botos na pesca artesanal de tarrafa em dois estuários do sul do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v12i5.1898Palavras-chave:
Conhecimento ecológico local, etnobiologia;, espécie ameaçada, populações tradicionaisResumo
As populações costeiras do boto, Tursiops truncatus, apresentam uma relação única com pescadores artesanais de tarrafa em alguns estuários do sul do Brasil, denominada pesca cooperativa. Contudo, estas regiões vêm passando por inúmeras transformações ambientais e socioculturais nas últimas décadas. Com o objetivo de conhecer a visão atual dos pescadores sobre esta interação com a espécie, 40 pescadores artesanais de tarrafa dos estuários dos rios Tramandaí e Mampituba foram entrevistados, em 2018, com a aplicação de um questionário semiestruturado. Paralelamente, foram também realizadas observações in loco durante a própria pesca cooperativa. As entrevistas e as observações de campo revelaram que a pesca cooperativa ocorre com maior frequência e com a participação de um maior número de botos e pescadores no estuário do rio Tramandaí do que no rio Mampituba. Enquanto cerca de uma dezena de botos frequenta regularmente o estuário do rio Tramandaí, os pescadores do rio Mampituba relataram que, nos últimos anos, apenas um boto utiliza a porção interna do estuário. A menor frequência dos botos nesta última localidade parece estar refletindo na perda de alguns vínculos históricos desta interação, como a atribuição de nome aos botos pelos próprios pescadores. Contudo, de maneira geral, a elevada importância dada aos botos e a percepção a respeito das ameaças à espécie e aos recursos pesqueiros estuarinos são bastante semelhantes nas duas localidades. Claramente, a valorização da pesca artesanal de tarrafa e do conhecimento ecológico local se mostra fundamental para a conservação das populações costeiras do boto na região.
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