A visão dos pescadores sobre a importância da participação dos Botos na pesca artesanal de tarrafa em dois estuários do sul do Brasil

Autores

  • Yasmin Camargo Gonçalves Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Brasil
  • Paulo Henrique Ott Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/UERGS, Brasil https://orcid.org/0000-0003-3303-1420

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v12i5.1898

Palavras-chave:

Conhecimento ecológico local, etnobiologia;, espécie ameaçada, populações tradicionais

Resumo

As populações costeiras do boto, Tursiops truncatus, apresentam uma relação única com pescadores artesanais de tarrafa em alguns estuários do sul do Brasil, denominada pesca cooperativa. Contudo, estas regiões vêm passando por inúmeras transformações ambientais e socioculturais nas últimas décadas. Com o objetivo de conhecer a visão atual dos pescadores sobre esta interação com a espécie, 40 pescadores artesanais de tarrafa dos estuários dos rios Tramandaí e Mampituba foram entrevistados, em 2018, com a aplicação de um questionário semiestruturado. Paralelamente, foram também realizadas observações in loco durante a própria pesca cooperativa. As entrevistas e as observações de campo revelaram que a pesca cooperativa ocorre com maior frequência e com a participação de um maior número de botos e pescadores no estuário do rio Tramandaí do que no rio Mampituba. Enquanto cerca de uma dezena de botos frequenta regularmente o estuário do rio Tramandaí, os pescadores do rio Mampituba relataram que, nos últimos anos, apenas um boto utiliza a porção interna do estuário. A menor frequência dos botos nesta última localidade parece estar refletindo na perda de alguns vínculos históricos desta interação, como a atribuição de nome aos botos pelos próprios pescadores. Contudo, de maneira geral, a elevada importância dada aos botos e a percepção a respeito das ameaças à espécie e aos recursos pesqueiros estuarinos são bastante semelhantes nas duas localidades. Claramente, a valorização da pesca artesanal de tarrafa e do conhecimento ecológico local se mostra fundamental para a conservação das populações costeiras do boto na região.

Biografia do Autor

Paulo Henrique Ott, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/UERGS, Brasil

Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul - GEMARS / Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS

Referências

Begossi A. Temporal stability in fishing spots: conservation and co-management in Brazilian artisanal coastal fisheries. Ecology and Society 11(1): 5, 2006.

Bernardi LR. 2000. Estudo ecológico e comportamental do Boto-da-tainha Tursiops truncatus Montagu, 1821 (Cetacea, Delphinidae) na foz do Rio Mampituba, Torres/RS. Tese (Mestrado em Biologia), Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 103p

Berkes F, Colding J & Folke C. Rediscovery of traditional ecological knowledge as adaptive management. Ecological Applications, 10(5): 1251-1262, 2000.

Berkström C, Papadopoulos M, Jiddawi NS & Mtwana NL. Fishers' local ecological knowledge (LEK) on connectivity and seascape management. Frontiers in Marine Science, 6 (130): 1-10, 2019.

Brasil. 1984. Portaria SUDEPE/RS Nº 006, de 30 de junho de 1984. Acesso em: 23/10/2020.

Brasil. 2004. Instrução Normativa MMA nº 05, de 21 de maio de 2004. a lista de espécies de água doce e salgada reconhecendo invertebrados aquáticos e peixes como espécies ameaçadas de extinção e espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação. Acesso em: 15/02/2022.

Brasil. 2007. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/ Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul. I relatório de reunião técnica para o ordenamento da pesca de tainha (Mugil platanus, M. liza) na Região Sudeste/Sul do Brasil. 85 p. Acesso em: 15/02/2022.

Brasil. 2015. Ministério da Pesca e Aquicultura/ Ministério do Meio Ambiente. Plano de Gestão para o uso sustentável da tainha, Mugil liza Valenciennes, 1836, no Sudeste e Sul do Brasil. 238p. Acesso em: 15/02/2022.

Brasil. 2012. Instrução Normativa Interministerial nº 9, de 13 de junho de 2012. Estabelece normas gerais para o exercício da pesca amadora em todo o território nacional. Acesso em: 15/02/2022.

Bryant PJ, Lafferty CM & Lafferty SK. 1984. Reoccupation of Laguna Guerrero Negro, Baja California, Mexico, by Gray Whales. p. 375-387 In: Jones ML, Swartz SL & Leatherwood S (Eds.). The Gray Whale, Eschrictius robustus. Academic Press, Orlando.

Camargo YR et al. Diagnóstico ambiental do estuário do rio Tramandaí, litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: e2020002, 2020.

Cardoso JA. 2007. Pesca artesanal; das experiências sensíveis à s práticas econômicas: um olhar sobre a pesca com tarrafa em Laguna/SC. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Antropologia), Universidade Federal de Santa Catarina. 66p.

Da Rosa DSX, Hanazaki N, Cantor M, Simões-Lopes PC & Daura-Jorge FG. The ability of artisanal fishers to recognize the dolphins they cooperate with. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 16(1): 30, 2020.

Daura-Jorge F, Ingram SN & Simões-Lopes PC. Seasonal abundance and adult survival of bottlenose dolphins (Tursiops truncatus) in a community that cooperatively forages with fishermen in southern Brazil. Marine Mammal Science, 29(2): 293-311, 2012.

Fruet P, Secchi E, Di Tullio J & Kinas P. Abundance of bottlenose dolphins, Tursiops truncatus (Cetacea: Delphinidae), inhabiting the Patos Lagoon estuary, southern Brazil: Implications for conservation. Zoologia 28(1): 23-30, 2011.

Fujimoto NSVM, Strohaecker TM, Gruber NL, Kunst AV & Ferreira AH. Litoral norte do estado do Rio Grande do Sul: indicadores socioeconômicos e principais problemas ambientais. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 13: 99-124, 2006.

Machado MAS et al. Artisanal fishers' perceptions of the ecosystem services derived from a dolphin-human cooperative fishing interaction in southern Brazil. Ocean and Coastal Management, 173: 148-156, 2019.

Moura NSV, Mouran EF, Strohaec-Ker TM & Kunst AV. The urbanization in the coastal zone: local and regional processes and the environmental changes-the case of the north coast of the Rio Grande do Sul state, Brazil. Ciência e Natura, 37: 594-612, 2015.

Musiello-Fernandes J, Zappes CA & Hostim-Silva M. Small-scale shrimp fisheries on the Brazilian coast: Stakeholders perceptions of the closed season and integrated management. Ocean & Coastal Management 148: 89-96, 2017.

Moreno IB, Tavares M, Danilewicz D, Ott PH & Machado R. Descrição da pesca costeira de média escala no litoral norte do Rio Grande do Sul: Comunidades pesqueiras de Imbé/Tramandaí e Passo de Torres/Torres. Boletim do Instituto de Pesca, 35(1): 129-140, 2009.

Pereira BE & Diegues AC. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade de conservação da natureza: uma reflexão sobre a perspectiva da etnoconservação. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 22: 37-50, 2010.

Pinheiro L, Da Cunha LP, Andrigue TFJM & Hanazaki N. Pesca de pequena escala e a gestão patrimonial: o caso da pesca da tainha no litoral paranaense. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 21: 143-155, 2010.

Pirotta E, Laesser BE, Hardaker A, Riddoch N, Marcoux M & Lusseau D. Dredging displaces bottlenose dolphins from an urbanised foraging patch. Marine Pollution Bulletin, 74: 396-402, 2013.

Vermeulen E, Fruet P, Costa A, Coscarella M & Laporta P. 2019. Tursiops truncatus ssp. gephyreus. The IUCN Red List of Threatened Species 2019: e.T134822416A135190824. . Acesso em: 26/10/2020.

Wenger AS, Rawson CA, Wilson S et al. Management strategies to minimize the dredging impacts of coastal development on fish and fisheries. Conservation Letters 11: e12572, 2018.

Würsig B & Würsig M. The photographic determination of group size, composition, and stability of coastal porpoises (Tursiops truncatus). Science, 198: 755-756, 1997.

Zappes CA, Andriolo A, Simões-Lopes PC & Beneditto APMD. Human-dolphin (Tursiops truncatus Montagu, 1821) cooperative fishery and its influence on cast net fishing activities in Barra de Imbé/Tramandaí, Southern Brazil. Ocean & Coastal Management, 54: 427-432, 2011.

Zappes CA, Simões-Lopes PC, Andriolo A & Di Beneditto APM. Traditional knowledge identifies causes of bycatch on bottlenose dolphins (Tursiops truncatus Montagu 1821): An ethnobiological approach. Ocean & Coastal Management, 120: 160-169, 2016.

Zasso LA, Barboza EG & Gruber NLS. Alterações na deriva litorânea e no balanço sedimentar nas adjacências dos molhes do rio Mampituba/RS-SC. Gravel 11(1): 1-17, 2013.

Downloads

Publicado

2022-11-01

Edição

Seção

Manejo Comunitário de Recursos Naturais em Unidades de Conservação