Avaliação do manejo tradicional do fogo no cerrado brasileiro

Autores

  • Rodrigo de Moraes Falleiro Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil
  • Marcelo Trindade Santana Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil
  • Pedro Paulo Xerente Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil
  • José Adilson dos Santos Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v9i1.926

Palavras-chave:

manejo integrado do fogo, queimadas prescritas, conhecimento tradicional, comunidades indígenas, recursos naturais, segurança alimentar

Resumo

O fogo é um componente natural dos ecossistemas e foi muito utilizado pelas populações autóctones no manejo das savanas tropicais. Entretanto, nas últimas décadas, políticas públicas direcionadas à exclusão do fogo reprimiram o uso de queimadas e o conhecimento tradicional relacionado começou a ser perdido. Recentemente, o manejo tradicional voltou a ser valorizado, sendo resgatado e aplicado como estratégia de proteção contra os incêndios florestais e de manejo dos recursos naturais pelas brigadas indígenas contratadas pelo Ibama/Prevfogo. No cerrado brasileiro, esse conhecimento tradicional recomenda um regime de fogo concentrado entre os meses de março a maio, com algumas variações regionais. Dentre os principais objetivos do manejo, foram citados o aumento na quantidade de frutos e de animais comestíveis. O presente trabalho teve como objetivo avaliar se esses objetivos foram alcançados, após 03 anos de implementação desse regime tradicional, em 16 Terras Indígenas. As frutíferas avaliadas foram: magaba (Hancornia speciosa), muricis (Byrsonima sp.), cajuí (Anacardium occidentale), puçá (Mouriri pusa), pequi (Caryocar brasiliense) e veadeira (Pouteria ramiflora). Os animais avaliados foram das famílias Cervidae (veados), Canidae (lobos, lobetes e raposas), Tinamidae (perdizes) e Dasypodidae (tatus); além das espécies tamanduá (Myrmecophaga tridactyla), ema (Rhea americana), anta (Tapirus terrestres) e seriema (Cariama cristata). Os efeitos na flora foram avaliados por meio da proporção de indivíduos em reprodução e da produtividade de frutos por planta. Os efeitos na fauna foram avaliados por meio da frequência de vestígios. As áreas manejadas tradicionalmente (queimadas prescritas) foram comparadas com áreas atingidas por incêndios florestais e com áreas submetidas à exclusão do fogo. Nas áreas manejadas, todas as plantas apresentaram melhores índices reprodutivos em relação aos demais tratamentos, exceto a mangaba, que apresentou melhores resultados com a exclusão do fogo. Em relação aos animais, a metade preferiu as áreas manejadas e a outra metade preferiu as áreas sob exclusão do fogo. Nenhum animal preferiu as áreas atingidas por incêndios florestais. Os resultados demonstram que o manejo tradicional foi eficiente para aumentar a produção de frutos e de caça para as comunidades indígenas estudadas, validando o uso tradicional do fogo para esses objetivos.

Biografia do Autor

Rodrigo de Moraes Falleiro, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil

Engenheiro agrônomo (UFRGs 2000) e MSc em fitotecnia (UFV 2002), é analista ambiental do Ibama desde 2002. Atualmente trabalha no Centro Especializado Prevfogo (Ibama Sede/DF), atuando na área de manejo integrado do fogo. Tem experiência em capacitação, planejamento, perícia, ecologia do fogo, queimadas e em prevenção e combate aos incêndios florestais. O histórico profissional inclui Gerência do Fogo em Unidade de Conservação (ESEC Serra das Araras/MT 2002-2004), Coordenação do Prevfogo Estadual (Mato Grosso 2005-2009 e Sergipe 2010-2011), Coordenação Nacional do Prevfogo (2012-2015), Coordenação do Núcleo de Operações e Combate do Prevfogo Sede (2016) e Coordenação do Manejo Integrado do Fogo (2017-2018). Dentre as atividades realizadas destacam-se a capacitação de 1.426 brigadistas e instrutores (47 cursos), realização de 14 perícias de investigação das causas e origens dos incêndios, comando de 06 operações de combate ampliado aos incêndios florestais (Nível III) e coordenação da execução de 3.083 queimadas prescritas em Terras Indígenas nos anos de 2017 e 2018. A experiência internacional inclui curso de proteção contra incêndios Florestais na Espanha (Segóvia e Madrid - 2005), curso de queimas prescritas nos Estados Unidos da América (Novo México - 2018), operações de combate aos incêndios florestais na Espanha (Galícia - 2005) e Chile (Bio Bio e Magallanes - 2012), perícias de incêndios florestais no Chile (Bio Bio - 2017), manejo integrado do fogo na Namíbia (Katima Mulilo e Swakopmund - 2014) e apresentações em Congressos, Oficinas e Eventos na África do Sul (Sun City e Johanesburgo - 2011), Colômbia (Cali - 2012), Chile (Santiago - 2013 e Valparaíso 2017), Coréia do Sul (Pyeongchang - 2015) e Uruguai (Chuy - 2017). As principais atividades que estão sendo desenvolvidas no momento são a implementação do manejo integrado do fogo nas terras indígenas do Brasil e a avaliação dos resultados ecológicos e sociais das queimadas prescritas realizadas em 2017 e 2018.

Marcelo Trindade Santana, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil

Gerente de Brigadas, Instrutor, Comandante de Operações de Combate Ampliado e Consultor de Manejo Integrado do Fogo

Pedro Paulo Xerente, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil

Gerente de Brigadas, Instrutor e Comandante de Operações de Combate Ampliado.

José Adilson dos Santos, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Brasília, Brasil

Chefe de Esquadrão e especialista em queimas prescritas

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Publicado

2019-05-15