Avaliação do manejo tradicional do fogo no cerrado brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v9i1.926Palavras-chave:
manejo integrado do fogo, queimadas prescritas, conhecimento tradicional, comunidades indígenas, recursos naturais, segurança alimentarResumo
O fogo é um componente natural dos ecossistemas e foi muito utilizado pelas populações autóctones no manejo das savanas tropicais. Entretanto, nas últimas décadas, políticas públicas direcionadas à exclusão do fogo reprimiram o uso de queimadas e o conhecimento tradicional relacionado começou a ser perdido. Recentemente, o manejo tradicional voltou a ser valorizado, sendo resgatado e aplicado como estratégia de proteção contra os incêndios florestais e de manejo dos recursos naturais pelas brigadas indígenas contratadas pelo Ibama/Prevfogo. No cerrado brasileiro, esse conhecimento tradicional recomenda um regime de fogo concentrado entre os meses de março a maio, com algumas variações regionais. Dentre os principais objetivos do manejo, foram citados o aumento na quantidade de frutos e de animais comestíveis. O presente trabalho teve como objetivo avaliar se esses objetivos foram alcançados, após 03 anos de implementação desse regime tradicional, em 16 Terras Indígenas. As frutíferas avaliadas foram: magaba (Hancornia speciosa), muricis (Byrsonima sp.), cajuí (Anacardium occidentale), puçá (Mouriri pusa), pequi (Caryocar brasiliense) e veadeira (Pouteria ramiflora). Os animais avaliados foram das famílias Cervidae (veados), Canidae (lobos, lobetes e raposas), Tinamidae (perdizes) e Dasypodidae (tatus); além das espécies tamanduá (Myrmecophaga tridactyla), ema (Rhea americana), anta (Tapirus terrestres) e seriema (Cariama cristata). Os efeitos na flora foram avaliados por meio da proporção de indivíduos em reprodução e da produtividade de frutos por planta. Os efeitos na fauna foram avaliados por meio da frequência de vestígios. As áreas manejadas tradicionalmente (queimadas prescritas) foram comparadas com áreas atingidas por incêndios florestais e com áreas submetidas à exclusão do fogo. Nas áreas manejadas, todas as plantas apresentaram melhores índices reprodutivos em relação aos demais tratamentos, exceto a mangaba, que apresentou melhores resultados com a exclusão do fogo. Em relação aos animais, a metade preferiu as áreas manejadas e a outra metade preferiu as áreas sob exclusão do fogo. Nenhum animal preferiu as áreas atingidas por incêndios florestais. Os resultados demonstram que o manejo tradicional foi eficiente para aumentar a produção de frutos e de caça para as comunidades indígenas estudadas, validando o uso tradicional do fogo para esses objetivos.
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