A legalidade da caça de subsistência no contexto das unidades de conservação na Amazônia Brasileira

Autores

  • Tiago Juruá Damo Ranz Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema. Av. Avelino Chave, 1935, Bairro Bosque, Sena Madureira/AC, Brasil
  • Rogerio Fonseca Universidade Federal do Amazonas, Faculdade de Ciências Agrárias. Av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Campus Universitário Coroado I ou Japiim, Manaus/AM, Brasil
  • Ronis Da Silveira Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia. Av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Mini-Campus, Coroado, Manaus/AM, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v8i2.753

Palavras-chave:

Amazônia, caça de subsistência, legalidade, unidades de conservação

Resumo

As populações tradicionais da Amazônia fazem uso da fauna silvestre, principalmente como fonte de proteína animal, evidenciando a importância que o tema possui para a região. Nas unidades de conservação (UCs), essa também é uma realidade; porém, a caça de subsistência ainda é um tema tabu na sociedade e inclusive nos órgãos ambientais, onde ainda não há consenso quanto à legalidade da prática. A falta de um posicionamento claro sobre essa questão nas instituições ambientais traz inúmeras dificuldades para as equipes gestoras das UCs e também para as pessoas que vivem nessas regiões. Isso se deve ao fato de que os órgãos geralmente tomam como base somente a legislação ambiental, que, em regra, proíbe a caça, conforme dispõem a Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5.197/1967) e a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998). O estudo da legislação vigente, aqui apresentado, permitiu analisar a viabilidade legal do exercício da caça de subsistência por populações tradicionais em UCs federais na Amazônia. O objetivo foi suscitar uma discussão sobre as questões jurídicas relacionadas à caça de subsistência e ao estado de necessidade, demonstrando-se que uma série de normas dá amparo legal para a prática da caça de subsistência, destacando-se, dentre elas o Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.286/2003), que prevê a categoria de caçador para subsistência. Conforme preconiza a teoria da tipicidade conglobante, um ato não pode ser tipificado como crime se é permitido por outra norma constante no ordenamento jurídico de um dado país. Portanto, conclui-se que a caça de subsistência possui amparo legal, havendo necessidade de que posicionamento institucional com relação à criminalização da caça de subsistência nas UCs seja revisto pelos órgãos gestores, para que os instrumentos de gestão, como planos de manejo e acordo de gestão, possam abordar o tema, visando seu ordenamento e regramento, com foco no uso e no manejo sustentável da fauna.

Biografia do Autor

Tiago Juruá Damo Ranz, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema. Av. Avelino Chave, 1935, Bairro Bosque, Sena Madureira/AC, Brasil

Analista Ambiental do ICMBio, Chefe da RESEX do Cazumbá-Iracema. Graduações em Biologia e Direito. Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia - MPGAP/INPA.

Rogerio Fonseca, Universidade Federal do Amazonas, Faculdade de Ciências Agrárias. Av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Campus Universitário Coroado I ou Japiim, Manaus/AM, Brasil

Graduado em Biologia, Mestre em Gestão Ambiental e Áreas Protegidas. Atualmente leciona no curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência na área de Gestão Ambiental e Ecologia de Paisagens, com ênfase em geotecnologias aplicadas aos temas: manejo de fauna, monitoramento e avaliação de áreas protegidas; Planejamento, Administração e Fiscalização de Unidades de Conservação.

Ronis Da Silveira, Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia. Av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Mini-Campus, Coroado, Manaus/AM, Brasil

Bacharel (1988) e Licenciado (1989) em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo. Mestre (1994) e Doutor (2001) em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Professor Associado I na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus. Experiência na área de Ecologia, Zoologia e Etnoconservação, com ênfase em gestão, monitoramento e manejo de fauna em Unidades de Conservação de Proteção Integral ou de Uso Sustentável e Terras Indígenas na Amazônia brasileira. Especialista em crocodilianos.

Referências

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Publicado

2018-08-09

Edição

Seção

Caça: subsídios para a gestão de unidades de conservação e manejo de espécies (v. 2)

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