Depois do fogo há vida:

impacto de uma queima sobre a fauna de campo de altitude do Parque Nacional do Itatiaia (Chordata; Arthropoda; Annelida; Crustacea)

Autores

  • Rafael P Indicatti Instituto Butantan
  • Everton F Trova Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Rio Claro
  • Victor M. Ghirotto Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Rio Claro
  • Marcelo Motta Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade , Brasil
  • Guilherme Gomes Instituto de Física, Universidade de São Paulo, São Carlos.
  • José P L. Guadanucci Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Rio Claro

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v9i1.1205

Palavras-chave:

manejo, monitoramento, montanha, zoologia

Resumo

Existem poucos estudos do impacto do fogo sobre a fauna não relacionados ao Cerrado. Apresentamos um estudo piloto em um Campo de Altitude (2550 m) no Parque Nacional do Itatiaia. O monitoramento foi realizado em uma parcela de um hectare no interior de aceiro negro com queima realizada em 6 de maio, sob umidade relativa do ar variando entre 63-83%, temperatura entre 17-22ᵒC, e ventos de 4-12 km/h, com a frente de fogo se propagando predominantemente contra o vento e contrária à declividade. A amostragem foi realizada logo após a queima e 48 horas depois, por varredura de busca visual e manual de animais, levantando pedras e escavando tocas. Toda a fauna observada no pós-queima foi registrada, e a maioria encontrava-se viva. Foram encontrados mortos, um morcego (Vespertilionidae - Lasiurus sp.), um piolho-de-cobra (Polydesmida), uma lagarta Geometridae, e formiga Camponotus rufipes, acima das cinzas. Foram encontrados vivos sob serapilheira úmida e sob rochas: roedores, lagartos (Mabuya dorsivittata), centopéias (Geophilomorpha, Scolopendridae - Otostigmus sp.), ácaros (Trombiculidae, etc), aranhas (Lycosidae, Anyphaenidae, Theraphosidae - Hommoeomma montanum, Salticidae, Thomisidae, Zoropsidae - Itatiaya modesta), opiliões, colêmbolas, cigarrinha (Cicadellidae), baratas (Ectobiidae), formigas (incluindo C. rufipes), besouros (Staphyllinidae, Carabidae e Lucanidae - Altitatiayus cf. godinhorum) e isópodas (Oniscidea). Dentro de tocas foram encontrados: minhocas, opiliões, piolhos-de-cobra, formigas, aranhas-de-alçapão (Nemesiidae - Prorachias sp.), larvas e adultos do besouro Altitatiayus cf. godinhorum, cupins (Termitidae), e grilos (Gryllidae e Anostostomatidae). Embora tenham sido observados indivíduos do sapinho Melanophryniscus moreirae em atividade nas proximidades, não foram encontrados exemplares queimados nem em tocas, mas supõe-se que eles resistam ao fogo em seus hibernáculos, visto que animais enterrados foram encontrados vivos e houve baixa variação de temperatura, aferida no solo através de sensores. O besouro Altitatiayus é endêmico da região, apresentando distribuição muito restrita, e sua resistência ao fogo é notável para sua conservação. Embora ocorreram poucos registros de animais mortos, o dano pode ter sido maior, principalmente para a fauna associada a estratos acima do solo. Portanto, sugerimos que estudos futuros incluam uma maior amostragem antes e após a queima, considerando também a fauna associada ao dossel da vegetação.

Referências

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Publicado

15/05/2019