Ilha do Bananal em Chamas: os Karajá e o Manejo do Fogo em seu Território
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v9i1.1663Resumo
A Ilha do Bananal (TO) sofre todos os anos com grandes incêndios. Os mais afetados são os povos indígenas Karajá e Javaé (autodenominados Inỹ), que vivem na Ilha desde tempos imemoriais, distribuídos em três Terras Indígenas. Esta pesquisa-ação se deu na Terra Indígena Parque do Araguaia, na Aldeia Fontoura, com cerca de 800 moradores. Desde 2015 o Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama)/Prevfogo em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) realizam o Manejo Integrado do Fogo (MIF) na Ilha. Para que o MIF tenha sucesso é fundamental o envolvimento dos indígenas em todas as etapas. Atualmente os brigadistas são Karajá, o que garante a participação deles no planejamento e execução das queimas prescritas.
Um dos desafios é envolver a comunidade para além do grupo de brigadistas, pois todos usufruem do território. O objetivo desta pesquisa-ação foi ampliar a compreensão dos Karajá sobre o MIF para qualificar sua participação, ao mesmo tempo em que busquei informações acerca do uso tradicional do fogo pelos Inỹ. Produzi o vídeo “Mifando a Ilha”, que traz os saberes
de indígenas, anciões e brigadistas, além de agentes do Estado. O vídeo foi utilizado em atividades nas aldeias para aprofundar o debate sobre o uso do fogo ao longo da história e na atualidade. Os Karajá separaram os tipos de fogo entre aqueles realizados por eles antigamente (roça e comunicação em pescarias), os que ocorrem atualmente (MIF, afastar animais, abrir
caminhos e retirar mel) e o “fogo dos outros”, que é a queima de pastagem para que a rebrota do capim alimente o gado. Quase a totalidade do rebanho na Ilha pertence a não indígenas, que utilizam o pasto nativo mediante o pagamento de uma mensalidade. A caracterização dos tipos de fogo feitas pelos Inỹ evidencia que eles entendem alguns como positivos e outros como negativos. O fogo que afeta o uso do território pelos Karajá poderia, mediante um dedicado trabalho, se transformar no fogo que favorece a biodiversidade e o uso sustentável do território. Desta maneira, o fogo passaria de vilão a mediador dos conflitos socioambientais na Ilha do Bananal.
Referências
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