Os Caminhos da conservação da biodiversidade brasileira frente aos impactos da infraestrutura viária

Autores

  • Alex Bager Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG, 37200-000 Brasil
  • Priscila da Silva Lucas Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil. CEP 37.200-000
  • Aldem Bourscheit Superintendência de Políticas Públicas do WWF-Brasil, SHIS EQ QL 6/8 , Conjunto E, 71620-430, Brasília (DF), Brasil
  • Angela Kuczach Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, Avenida Manoel Ribas 842, sala 38, Mercês, Curitiba – PR. CEP 80510-020
  • Brenda Maia Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, Universidade Federal de Lavras, Lavras-MG, 37200-000 Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i1.530

Palavras-chave:

atropelamento de fauna, ecologia de estrada, rodovias, Sistema Urubu, Nordeste do Brasil

Resumo

Rodovias, estradas, ferrovias e todos os caminhos por onde transportamos nossas cargas e pessoas são fundamentais para o desenvolvimento social e econômico destas regiões. Entretanto cada quilômetro de rodovia agrega uma infinidade de impactos ambientais diretos e indiretos à biodiversidade local e regional. O mais visível destes impactos é o atropelamento de fauna selvagem, que no Brasil afeta mais de 475 milhões de vertebrados todos os anos, ou 17 animais a cada segundo. O crescimento do país requer o aumento da malha rodoviária de pouco mais de 1,7 milhões de quilômetros, gerando impactos crônicos em todo o território e com consequências imprevisíveis à biodiversidade. As unidades de conservação não escapam ao problema e um elevado percentual tem extensas áreas afetadas por fragmentação, afugentamento de espécies, efeitos barreira que impedem ou reduzem o acesso aos recursos, o atropelamento, entre outros. Entender o efeito do atropelamento nas unidades de conservação requer a adoção de coleta de dados que subsidiem a tomada de decisão sobre medidas de mitigação e para a priorização de ações. Muitas informações ter sido perdidas em decorrência da ausência de sistematização de dados, sendo os mesmos, na melhor das hipóteses, mantidos na própria unidade. Propomos que as unidades adotem um protocolo único de coleta e armazenamento, utilizando monitoramentos sistemáticos e/ou não sistemáticos, conforme a capacidade de infraestrutura e pessoal.Rodovias, estradas e ferrovias por onde transportamos nossas cargas e pessoas são fundamentais para o desenvolvimento social e econômico do país. Entretanto cada quilômetro de rodovia agrega uma infinidade de impactos ambientais diretos e indiretos à biodiversidade local e regional. O mais visível desses impactos é o atropelamento de fauna selvagem, que no Brasil afeta mais de 475 milhões de vertebrados todos os anos, ou 15 animais a cada segundo. O crescimento econômico do país requer o aumento da malha rodoviária de pouco mais de 1,7 milhões de quilômetros, gerando impactos crônicos em todo o território e com consequências imprevisíveis à biodiversidade. As Unidades de Conservação não escapam ao problema, e um elevado percentual delas tem extensas áreas afetadas por fragmentação, afugentamento de espécies, efeitos barreira, atropelamento, entre outros. Entender esses efeitos, sobretudo do atropelamento de fauna selvagem nas Unidades de Conservação, requer a adoção de coleta de dados que subsidiem a tomada de decisão sobre medidas de mitigação e para a priorização de ações. Muitas informações têm sido perdidas pela não sistematização de dados, sendo os mesmos, na melhor das hipóteses, mantidos nas próprias Unidades. Propomos que as unidades adotem um sistema integrado de coleta, armazenamento e sistematização de atropelamento de fauna, utilizando monitoramentos sistemáticos e/ou não sistemáticos, conforme a capacidade de infraestrutura e pessoal.

Biografia do Autor

Angela Kuczach, Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, Avenida Manoel Ribas 842, sala 38, Mercês, Curitiba – PR. CEP 80510-020

Diretora Executiva

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Publicado

07/03/2016

Edição

Seção

Pesquisa e manejo de Unidades de Conservação