Vegetação em afloramentos rochosos litorâneos perturbados por incêndios na Região Metropolitana Fluminense, Estado do Rio de Janeiro

Autores

  • Izar Aximoff Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Escola Nacional de Botânica Tropical, Mestrado Profissional. Rua Pacheco Leão, 2040 – Solar da Imperatriz, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
  • Claudio Nicoletti Fraga Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Diretoria de Pesquisas. Rua Pacheco Leão, 915, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
  • Massimo Giuseppe Bovini Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Diretoria de Pesquisas. Rua Pacheco Leão, 915, Rio de Janeiro/RJ, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i2.536

Palavras-chave:

Alcantarea glaziouana, incêndio antrópico, Rio de Janeiro

Resumo

Um dos principais distúrbios com ocorrência nos afloramentos rochosos litorâneos fluminenses é o fogo, geralmente originado por ação antrópica. Considerando a diversidade vegetal elevada e restrita a cada montanha, o entendimento de como a vegetação rupícola responde a distúrbios que causam impactos diretos faz-se necessário para auxiliar na conservação desse ambiente. Este trabalho objetiva conhecer a composição e estrutura da vegetação de sítios recém-queimados sobre afloramentos rochosos litorâneos fluminenses, visando à discussão e sugestão de estratégias e de ações de proteção necessárias de serem promovidas pelas autoridades ambientais. Em quatro diferentes unidades de conservação foram analisados seis sítios, numa cronosseqüência de regeneração (2, 4, 5, 6, 30 e 96 meses após a última queimada), registrando-se a presença de 5, 6, 10, 12, 18 e 20 espécies. Em dois sítios que não queimaram, foram amostradas, respectivamente, 31 e 55 espécies. Os registros indicam que a ocorrência elevada de queimadas nos afloramentos rochosos é causada principalmente pela soltura de balões. A regeneração da cobertura vegetal nas áreas com menor tempo de regeneração foi devida às espécies que rebrotaram, como Alcantarea glaziouana, que foi a espécie mais importante (VI) em todos os sítios. O sítio com maior tempo de regeneração (96 meses) apresentou parâmetros como cobertura e composição de espécies similares aos sítios onde não há registro recente de incêndios. A forma de vida caméfita e o hábito herbáceo foram dominantes em todos os sítios, principalmente devido à dominância de A. glaziouana e Trilepis lhotzkiana, sendo mais frequente nos sítios queimados a espécie exótica invasora Megathyrsus maximum (capim colonião). Essa espécie deve ser manejada a fim de evitar novas ocorrências de incêndios. O rápido crescimento de A. glaziouana pode resultar em um aumento de sua dominância pós-fogo, o que, por outro lado, promove condições para o estabelecimento de outras espécies. Embora ocorra a regeneração da vegetação rupícola, espécies endêmicas e ameaçadas sensíveis à ação do fogo podem não estar sobrevivendo nesses afloramentos rochosos.

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Publicado

28/12/2016

Edição

Seção

Manejo do Fogo em Áreas Protegidas