As áreas protegidas no semiárido do Brasil podem conservar aves ameaçadas de extinção diante de mudanças climáticas e de cobertura da terra?
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v10i2.1469Palavras-chave:
Modelos de nicho ecológico, priorização espacial, caatingaResumo
As unidades de conservação funcionam como pilares sobre os quais as estratégias de conservação são construídas. Além das ameaças diretas à biodiversidade causadas pelas atividades antrópicas, as mudanças climáticas previstas pelo Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas se configuram como outra preocupação à conservação das espécies. No nordeste do Brasil, as mudanças climáticas devem provocar a substituição da vegetação nativa atual por um semideserto. Este trabalho tem como objetivo avaliar se as áreas protegidas da Caatinga podem contribuir para a manutenção das condições climáticas adequadas para que os táxons de aves ameaçadas persistam ao longo do tempo diante das mudanças climáticas e ameaças antrópicas. Para tanto, utilizamos modelos de nicho ecológico como camadas de entrada em um programa de priorização espacial, no qual índices de estabilidade foram usados para dar pesos aos alvos. Os resultados preveem que, no futuro, a maioria dos táxons (18) terão a adequabilidade reduzida, e que todos os táxons (23) terão um deslocamento geográfico do seu nicho ecológico. Entretanto, o sistema de áreas protegidas da Caatinga, integrado a um conjunto de área prioritárias, pode manter as condições climáticas adequadas para que os táxons de aves ameaçadas persistam ao longo do tempo diante das mudanças climáticas e das ameaças antrópicas. Em média, em cenários futuros, o sistema de áreas protegidas da Caatinga pode proteger 1,7 vez mais áreas de refúgios climáticos do que quando está ausente. Isso reforça a importância do sistema de unidades de conservação como uma estratégia nacional de conservação da biodiversidade.
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