Apresentação do Número Temático Avaliação do Estado de Conservação dos Ungulados
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v2i1.232Palavras-chave:
Ciências Biológicas, Ecologia, Meio Ambiente, Biologia da ConservaçãoResumo
Este terceiro número da Biodiversidade Brasileira apresenta os resultados da avaliação do estado de conservação dos mamíferos ungulados brasileiros, as antas, porcos-do-mato e veados. Esta avaliação responde a uma grande urgência de enfocar o estado de conservação destas espécies, já que embora apenas duas tenham sido reconhecidas como ameaçadas pela presente lista oficial, o cervo-do-pantanal Blastocerus dichotomus e o veado-mão-curta Mazama nana, ambas na categoria Vulnerável, algumas delas já desapareceram de imensas áreas do país. Entre os ungulados encontra-se o maior mamífero terrestre brasileiro, a anta Tapirus terrestris. Mesmo as menores espécies, o veado-mão-curta e o veado-catingueiro Mazama gouazoubira, são grandes em comparação com a maioria dos mamíferos terrestres brasileiros. Consequentemente, todas as espécies do grupo sofrem intensa pressão de caça, diferindo, entretanto, na capacidade de suportar e recuperar-se das perdas populacionais decorrentes desta pressão. Outras ameaças ainda pesam sobre estas espécies, como desmatamento, degradação da qualidade ambiental, doenças disseminadas por animais domésticos e isolamento genético. Embora aparentemente incoerente com o grande porte das espécies, a falta de dados básicos sobre taxonomia e distribuição geográfica ainda é um problema para a conservação de alguns dos ungulados brasileiros. A distribuição geográfica do veado-galheiro Odocoileus virginianus no país é praticamente desconhecida; os veados mateiro e roxo, Mazama americana e Mazama nemorivaga, podem representar, cada um, mais de uma espécie; e uma das espécies deste grupo, o veado-mateiro-pequeno Mazama bororo, foi recentemente descrita, mesmo ocorrendo na região sudeste, a mais pesquisada do país. O estado de conservação dos biomas brasileiros não é o mesmo; enquanto a Amazônia e o Pantanal ainda possuem vastas extensões de ambiente adequado para as espécies de grande porte, os demais biomas já se apresentam em grande parte degradados e os problemas de conservação das espécies nos remanescentes destes biomas são mais críticos do que no restante do país. Desta forma, a avaliação do estado de conservação das antas Tapirus terrestris, queixadas Tayassu pecari e catetos Pecari tajacu adotou a abordagem inovadora de avaliar separadamente o estado de conservação das espécies em cada um dos biomas. Desta forma, procuramos possibilitar a adoção de medidas de conservação adequadas à situação das espécies em cada bioma, impedir que as grandes populações presentes na Amazônia e no Pantanal mascarem os graves problemas enfrentados pelas espécies em outros biomas e, também, chamar a atenção para o fato de que mesmo nestes dois biomas mais conservados as populações podem vir a declinar seriamente, dadas as atuais tendências de perda de habitat nos mesmos. Os resultados destas avaliações são eloquentes: por exemplo, o queixada foi classificado como Criticamente em perigo (CR) na Mata Atlântica e a anta está Regionalmente extinta (RE) na Caatinga e Em perigo (EN) na Mata Atlântica, embora ambas tenham sido classificadas como Menos preocupantes (LC) na Amazônia e Vulneráveis (VU) no Brasil como um todo. Para cervídeos, por outro lado,considerou-se que as avaliações estaduais respondem à necessidade de caracterização regionalizada do estado de conservação das espécies; apenas para os veados-campeiros Ozotoceros bezoarticus adotou-se uma avaliação distinta para as duas subespécies, tendo em vista as diferentes ameaças a que estão submetidas. Estas avaliações chegaram à mesma classificação - Vulnerável (VU), porém os critérios utilizados para atingir esta classificação evidenciam a situação mais preocupante da subespécie O. b. bezoarticus, que ocorre no Cerrado. Desta forma, no presente número da Biodiversidade Brasileira apresentamos o estado de conservação de nossos ungulados com os enfoques adequados a cada espécie e grupo. Esperamos com isto contribuir para um avanço efetivo nas políticas de conservação destes animais.
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