Diagnóstico de pesquisas realizadas em unidades de conservação: subsídio ao programa de monitoramento da biodiversidade de manguezais
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i1.503Palavras-chave:
áreas protegidas, biodiversidade, Unidade de conservação, manguezal, monitoramentoResumo
O presente artigo traz um diagnóstico que integra o processo de planejamento do "Programa de Monitoramento da Biodiversidade de Manguezais de UCs Federais (MoMa)", do ICMBio. O objetivo foi levantar e avaliar as pesquisas sobre a biodiversidade de manguezais com potencial de contribuição ao monitoramento deste ecossistema. A metodologia envolveu consultas ao Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), acessos ao Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), e uma pesquisa junto a representantes de UCs, que responderam a questionários estruturados. Foram levantadas 50 UCs com manguezal, sendo 32% do grupo de proteção integral e 68% do grupo de uso sustentável. Das 48 UCs cujos gestores responderam aos questionários, 56% ainda não possuíam dados de medição de área de cobertura de manguezal. Segundo os gestores, em 48% das UCs não eram executadas pesquisas científicas sobre biodiversidade de manguezal. Adicionalmente, as 162 pesquisas registradas com potencial de contribuição para monitoramento estavam mal distribuídas geograficamente, com uma maior concentração nos estados do Pará e Paraíba, o que dificulta a formação de redes nacionais de monitoramento. Observou-se uma concentração das pesquisas em algumas espécies, notadamente ameaçadas de sobrexplotação (p. ex., caranguejo-uçá, Ucides cordatus) ou ameaçadas de extinção (p. ex., peixe-boi, Trichechus manatus). Esta concentração de pesquisas poderá facilitar a formação das redes de monitoramento destas espécies. Por outro lado, é preocupante a carência de pesquisas sobre espécies importantes para a conservação, como as aves congregatórias (p. ex., guará-vermelho, Eudocymus ruber). O fato de 60% das pesquisas existentes à época serem executadas por universidades indica que estas instituições são potenciais parceiras das UCs na condução desses monitoramentos. No entanto, foi observada uma curta duração (média de dois anos), provavelmente devido ao tempo limitado para a finalização de teses e dissertações e/ou à limitação de recursos financeiros, cerceando os monitoramentos de longo prazo. Assim, o grande desafio para elaborar e implementar um programa de monitoramento da biodiversidade de manguezais não é apenas o de estabelecer métodos padronizados e viáveis, mas também permitir o encadeamento e a continuidade dos estudos realizados por sucessivas gerações de pesquisadores no interior das UCs. Para tanto, a captação de recursos através da vinculação de monitoramentos a condicionantes de licenciamento ambiental de empresas privadas e o investimento em monitoramentos participativos são duas estratégias promissoras, e podem viabilizar a execução do Programa de Monitoramento.Referências
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