Unidades de conservação e proteção contra incêndios florestais: relação entre focos de calor e ações articuladas pelas brigadas contratadas
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i2.558Palavras-chave:
áreas protegidas, incêndios florestais, indicadores, manejo do fogo, políticas públicas para conservaçãoResumo
A efetividade das unidades de conservação (UCs) na proteção contra incêndios florestais relaciona-se à capacidade destas em impedir a ocorrência de queimadas com causas antrópicas em seu interior. A formação de brigadas de prevenção combate a incêndios, programa iniciado em 2001, reforçou a estrutura de proteção existente previamente. Para avaliar o efeito da criação das brigadas, comparamos a densidade de focos de calor (focos / km2, satélite NOAA-12) no interior e em uma faixa de 10 km no entorno das unidades. Avaliamos 37 UCs, cujos critérios de seleção foram: ter área mínima de 10.000 hectares e brigada formada entre 2001 e 2004, logo pós a criação do programa. Utilizamos dois períodos nas análises: anterior (1999-2000) e posterior (2005-2006) à criação das brigadas. Não encontramos evidência no período anterior que a densidade de focos no interior das UCs fosse diferente de seu entorno (Z=1,027, p=0,304). Já no período posterior, foi registrada densidade 76% menor nas UCs que em seus entornos (Z=-2,663, p=0,008). A avaliação da evolução temporal, por outro lado, não evidenciou qualquer redução do número de focos de calor nas UCs entre os dois períodos (Z=0,854, p=0,393), mas um aumento na densidade de focos ocorridos nos entornos das UCs (Z=-2,617, p=0,009). Estes resultados evidenciam um aumento da proteção a incêndios florestais conferido à s UCs após a criação das brigadas, quando comparada à s densidades de interior e entorno das áreas, mas não quando comparamos a evolução das densidades de focos no interior das mesmas. Isso se deve ao fato deste método não incorporar mudanças causadas por fatores extrínsecos à s Unidades (ex. clima e aumento da pressão antrópica). Com isso, a variação de focos de calor parece ser um indicador pouco preciso para a avaliação das ações de proteção implementadas. A comparação das densidades de focos no interior e fora deve ser utilizado preferencialmente, quando o entorno atender a premissa de representar o grau de pressão regional a que a UC está sujeita.Referências
Andam, K.S.; Ferraro, P.J.; Pfaff, A.; Sanchez-Azofeifa, G.A. & Robalino, J.A. 2008. Measuring the effectiveness of protected area networks in reducing deforestation. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 105(42): 16089-16094. http://doi.org/10.1073/pnas.0800437105
Brasil. 2012. Indicadores - orientações básicas aplicadas à gestão pública. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal. Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos. Brasília.
De Castro, E.A.; & Kauffman, J.B. 1998. Ecosystem structure in the Brazilian Cerrado: a vegetation gradient of aboveground biomass, root mass and consumption by fire. Journal of Tropical Ecology, 14(3): 263-283.
Diaz, M.C.V.; Nepstad, D.; Mendonça, M.J.C.; Seroa, R.M.; Alencar, A.A.; Gomes, J.C. & Ortiz, R.A.O. 2002. Prejuízo oculto do fogo: custos econômicos das queimadas e dos incêndios florestais da Amazônia. Instituto de Pesquisa Ambiental do Amazônia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
França, H.; Ramos Neto, M.B. & Setzer, A. 2007. O fogo no Parque Nacional das Emas. Série Biodiversidade, v. 27. MMA, Ministério do Meio Ambiente.
Ferreira, H.; Cassiolato, M., & Gonzalez, R. 2007. Como elaborar modelo lógico de programa: um roteiro básico. Nota Técnica, IPEA.
Fidelis, A. & Pivello, V. 2011. Deve-se usar o fogo como instrumento de manejo no Cerrado e Campos Sulinos? Biodiversidade Brasileira, 1(2): 12-25.
Hardesty, J.; Myers, R. & Fulks, W. 2005. Fire, ecosystems, and people: a preliminary assessment of fire as a global conservation issue. The George Wright Forum, 22(4):78-87).
Hothorn, T.; Hornik, K.; van de Wiel, M.A. & Zeileis, A. 2008. Implementing a Class of Permutation Tests: The coin Package. Journal of Statistical Software, 28(8): 1-23.
IBGE. 2008. Síntese dos indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE.
INPE. 2015. Monitoramento de queimadas e incêndios por satélite em tempo quase-real.
Kauffman, J.B.; Cummings, D.L. & Ward, D.E. 1994. Relationships of fire, biomass and nutrient dynamics along a vegetation gradient in the Brazilian Cerrado. The Journal of Ecology, 82(3): 519-531.
Magalhães, M.T.Q. 2004. Metodologia para desenvolvimento de sistemas de indicadores: uma aplicação no planejamento e gestão da política nacional de transportes. Dissertação (Mestrado em Transportes). Universidade de Brasília, 135p.
Medeiros, M.B. de & Fiedler, N.C. 2003. Incêndios florestais no Parque Nacional da Serra da Canastra: desafios para a conservação da biodiversidade. Ciência Florestal, 14(2): 157-168.
Miranda, H.S.; Bustamante, M.M.C. & Miranda, A.C. 2002. The fire factor. Pp. 51-68. In: Oliveira, P.S. & Marquis, R.J. (Orgs.). The Cerrados of Brazil. Ecology and Natural History of a Neotropical Savanna. Nova York: Columbia University Press.
Morais, J.C.M. de. 2013. Fighting forest fires in Brazil. Pp. 179-190. In: Proceedings of the Fourth International Symposium on Fire Economics, Planning, and Policy: Climate Change and Wildfires. Albany, CA: U.S.: Department of Agriculture, Forest Service, Pacific Southwest Research Station.
Myers, R.L. 2006. Convivendo com o fogo: manutenção dos ecossistemas e subsistência com o Manejo Integrado do Fogo. Nature Conservancy, Global Fire Initiative.
Nepstad, D.; Schwartzman, S.; Bamberger, B.; Santilli, M.; Ray, D.; Schlesinger, P. & Rolla, A. 2006. Inhibition of amazon deforestation and fire by parks and indigenous Lands. Conservation Biology, 20(1): 65-73. http://doi.org/10.1111/j.1523-1739.2006.00351.x
NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). Advanced very high resolution radiometer (AVHRR): Overview. . (Acessado em 30/03/2015).
R Core Team. 2014. R: A Language and Environment for Statistical Computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statistical Computing. http://www.r-project.org/.
Ramos-Neto, M.B.; & Pivello, V.R. 2000. Lightning fires in a Brazilian Savanna National Park: Rethinking management strategies. Environmental Management, 26(6): 675-684. http://doi.org/10.1007/ s002670010124
Miranda, H.S.; Sato, M.S. & Maia, J.M.F. 2010. O fogo e o estrato arbóreo do Cerrado: efeitos imediatos e de longo prazo. Pp. 77-91. In: Miranda, H.S. (org.). Efeitos do regime do fogo sobre a estrutura de comunidades de cerrado: resultados do Projeto Fogo. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, IBAMA.
Whelan, R.J. 1995. Fire - the phenomenon. Pp. 8-56. In: R.J. Whelan (Ed.). The ecology of fire. Cambridge: Cambridge University Press.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Biodiversidade Brasileira - BioBrasil
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os artigos estão licenciados sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O acesso é livre e gratuito para download e leitura, ou seja, é permitido copiar e redistribuir o material em qualquer mídia ou formato.