A gestão da fauna silvestre a partir das mudanças nos modos de vida açoriano em uma lagoa costeira do Sul do Brasil (1957-2004)

Autores

  • Rodrigo Rodrigues De Freitas Universidade do Sul de Santa Catarina/UNISUL, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Sul de Santa Catarina/UNISUL, Tubarão/SC, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v8i2.810

Palavras-chave:

Fauna cinegética, história ecológica, instituições de gestão, manejo da fauna silvestre

Resumo

Este artigo fornece subsídios para as políticas públicas no tratamento da caça, por meio de uma análise das mudanças nos modos de vida açoriano e nas instituições de apropriação e uso dos recursos faunísticos ocorridas na Paisagem da Lagoa de Ibiraquera (PLI, Estado de Santa Catarina), desde a década de 1950 até 2004. Foram mobilizadas variáveis espaciais que evidenciam as mudanças na paisagem e realizados inventários (avifauna e mastofauna) e entrevistas (abertas e semiestruturadas). As práticas de caça foram registradas para 68 espécies da fauna silvestre atuais e extintas da PLI, incluindo 46 aves, 19 mamíferos de médio e grande porte e 3 répteis. Essas práticas foram correlacionadas com as percepções e com as normas locais e legais de manejo da fauna silvestre. Colonizada em 1880, até a década de 1950, a maior parte da fauna silvestre da PLI já havia desaparecido, permanecendo somente espécies de hábitos generalistas. Até o final da década de 1970, a caça foi a principal responsável pela extinção local de três espécies de mamíferos de médio porte, quando os incentivos, regras e práticas dos pescadores-agricultores frente à fauna silvestre começam a legitimar a proibição da caça para maior parte das espécies. São propostos três fatores que explicam a diminuição da caça: (i) ao aumento da área urbanizada e redução da área agrícola; (ii) a apropriação privada e cercamento dos espaços e; (iii) maior fiscalização do estado. Sugerimos que a análise histórica e integrada das mudanças na caça e nos habitats das espécies cinegéticas pode suscitar formas criativas e participativas de gerir a fauna silvestre com responsabilidades e benefícios compartilhados entre estado e sociedade civil.

Biografia do Autor

Rodrigo Rodrigues De Freitas, Universidade do Sul de Santa Catarina/UNISUL, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Sul de Santa Catarina/UNISUL, Tubarão/SC, Brasil

Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais

Referências

Andriguetto-Filho. J.M.; Krüger, A.C.; Lange, M.B.R. 1998. Caça, biodiversidade e gestão ambiental na Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Biotemas, 11 (2): 133-156.

Avellar, M.L. 1993. Ibiraquera: historia de um lugar... um movimento singular e universal. Dissertação de Mestrado. Centro de Educação (CED). Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 187p.

Belton, W. 1986. Aves silvestres do Rio Grande do Sul. 2a Edição. Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. RS. Editora Pallotti. 169p.

Berger, P. 1996. Ilha de Santa Catarina: Relato de viajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. 4ª ed. Editora da UFSC, Florianópolis, 334pp.

Berkes, F. 1996. Social Systems, Ecological Systems, and Property Rights. In: Rights to Nature: Ecological, Economic, Cultural, and Political Principles of Institutions for the Environment (Org. Hanna, S.; C. Folke; Mäler K.G. & Å. Jansson) Washington D.C.: Island Press.

Berkes, F.; Folke, C.; Gadgil, M. 1995. Traditional ecological knowledge, biodiversity, resilience and sustainability. In: Biodiversity Conservation - Problems and Policies. (Ed. C.A. Perrings; K.-G. Mäler; C. Folke; C. S. Holling & B.-O. Jansson). Kluwer Academic Publishers. 269-293.

Bernard, H.R. 1995. Research Methods in Antropology. Qualitative and Quantitative Approachs. 2nd ed. Walnut Creek, Altamira Press.

Bodmer, R.E.; Robinson, J.G. 2003. Análise da sustentabilidade de caça em florestas tropicais no Peru - Estudo de Caso. In: Métodos de estudos em Biologia da Conservação & Manejo da Vida Silvestre (L.R. Rudran; C. Valladares-Padua).

Brasil (1965). Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965. Institui o Código Florestal. Brasília: Diário Oficial da União, de 19 de setembro de 1965. Seção 1.

Brasil (1967). Lei no 5.197, de 03 de janeiro de 1967 - Lei de Proteção à Fauna. Brasília: Diário Oficial da União, de 05 de janeiro de 1967. Seção 1.

Brasil (1988). Constituição Brasileira - promulgada em 05 de outubro de 1988. Brasília: Congresso Nacional. 292p.

Brasil. Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 e Decreto nº 3.179 de 21 de outubro de 1999. A Lei da Vida: Lei dos Crimes Ambientais. Brasília. 38p.

Bromley, D.W. Making the commons Work: Theory, Practice and Police. San Francisco: Institute for Contemporary Studies Press, 1992. p. 41-59.

Campos-Rozo, C.; Ulloa, A. 2003. Perspectiva y tendéncias en torno al manejo participativo de fauna en América Latina. In: Fauna Socializada: tendencias en el manejo participativo de la fauna en América Latina (Orgs.: C. Campos-Rozo & Ulloa, A.) Fundación Natura. McArthur Fundation. Instituto Colombiano de Antropología e Historia.

Caruso, M.M.L. O desmatamento da Ilha de Santa Catarina de 1500 aos dias atuais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1983. 158p.

Cherem, J.J.; Simões-Lopes, P.C.; Althoff, S.; Graipel, M.E. 2004. Lista dos mamíferos do Estado de Santa Catarina, Sul do Brasil. Mastozoología Neotropical, Mendoza. 11(2):151-184.

Cordell, J.; McKean, M.A. (1992). Sea tenure (apropriação) in Bahia, Brazil. In: D.W. Bromley (Ed.), Making the common work: Theory, practice and policy. San Francisco: ICS Press, pp. 183-206.

Davis, A.; Wagner, J.R. Who Knows? On the Importance of Identifying "Experts" When Researching Local Ecological Knowledge. Human Ecology. New York. v. 31, n. 3, p. 463-489, 2003.

De Freitas, R.R. Mudanças na paisagem da Lagoa de Ibiraquera e a gestão da sua fauna silvestre. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFSC, 2005.

De Freitas, R.R.; Beltrame, A. V. Biogeografia e cobertura vegetal original da paisagem da Lagoa de Ibiraquera (Santa Catarina, Brasil). Geografia, 38, 2013.

De Freitas, R.R.; Beltrame, A.V.Mudanças no uso e cobertura da terra do entorno da Lagoa de Ibiraquera (Santa Catarina, Brasil) no período de 1957 a 2011. Geosul, 27, 2012.

Emmons, L.H. 1997. Neotropical Rainforest Mammals: a field guide. Second Edition. The University of Chicago Press. 307p.

Folke, C, L. Pritchard, F. Berkes, J. Colding, and U. Svedin. 2007. The problem of fit between ecosystems and institutions: ten years latter. Ecology and Society 12(1): 30p.

Geertz, C. 1978. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 101-42p.

Graipel, M.E.; Cherem, J.J.; Ximenez, A. 2001. Mamíferos terrestres não voadores da Ilha de Santa Catarina, sul do Brasil. Biotemas, 14(2); 109-140.

Hermes-Silva, E. 2002. Vidas pedem passagem: Afinidades e conflitos na relação de moradores do entorno do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro com a fauna local. Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Biológicas. Universidade Federal de Santa Catarina. 130p.

Lourival, R. F. F.; Fonseca, G. A. B. 1997. Análise de sustentabilidade do modelo de caça tradicional, no Pantanal da Nhecolândia, Corumbá, MS. In: Valadares-Padua C. & Bodmer R. D. (ed.) Manejo e conservação de vida silvestre no Brasil. Sociedade Civil Mamirauá. Belém-PA. 1-285pp.

Magnusson, W. E.; Mourão, G. 1997. Manejo extensivo de jacarés no Brasil. pp. 214-221. In: Valladares-Padua, C., Bodmer, R. E.; Cullen, L., JR. [Eds.]. Manejo e Conservação de Vida Silvestre no Brasil. CNPq. Brasília, D.F., Brasil.

Marques, J.G.M. 2001. Pescando Pescadores: ciência e etnoecologia em uma perspectiva ecológica. 2a Ed. NUPAUB-USP. 258p.

Moran, E. F. 1993. Ecosystem ecology in biology and anthropology: a critical assessment. In: Moran, E.F. (ed.) The ecosystem aproach in anthropology: from concept to practice. Univ. Michigan Press. 3-40p.

Moreira, J. R.; MacDonald, D. W. 1997. Técnicas de manejo de capivaras e outros grandes roedores na Amazônia. In: Valadares-Padua C. & Bodmer R. D. (ed.) Manejo e conservação de vida silvestre no Brasil. Sociedade Civil Mamirauá. Belém-PA. 1-285pp.

Olimpio, J.S., 1995. Conservação da fauna de mamíferos silvestres da ilha de santa catarina: aspectos biogeográficos, históricos e sócio-ambientais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia/ Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil.

Ostrom, E. Understanding Institutional Diversity. Princeton: Princeton University Press, 2005.

Ostrom, E. Beyond Markets and States: Polycentric Governance of Complex Economic Systems. American Economic Review. Pittsburgh.v. 100, p. 641-672, 2010.

Pereira, R.M.F.A., 2003. Formação sócio-espacial do litoral de Santa Catarina (Brasil): gênese e transformações recentes. Geosul, Florianópolis, 18 (35): 99-129.

Piacentini, V.Q.; Campbell-Thompson, E.R. Lista comentada da avifauna da microbacia hidrográfica da Lagoa de Ibiraquera, Imbituba, SC. Biotemas, 19 (2): 55-65, 2006.

Redford, K. H. (1992). The empty Forest. Bioscience, 42: 412-422.

Reynolds, J.; Peres, C.A. (2005) Overexploitation. In: Groom, M. Meffe G. and Carroll, R. (eds.) Principles of Conservation Biology, 3rd Edition, Sinauer, Sunderland, Mass, 249-287.

Rosário, L.A. 1996. As aves em Santa Catarina: distribuição geográfica e meio ambiente. Fundação do Meio Ambiente (FATMA). Editora Pallotti. 326p.

Santos, M. 1996. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. HUCITEC. 309p.

Seixas, 2002. Social-Ecological Dynamics in Management Systems: investigating a coastal lagoon fishery in Southern Brazil. Ph.D. in Natural Resources and Environmental Management. University of Manitoba - Canada. 265p.

Seixas, C.S.; Begossi, A. 2001. Ethnozoology of fishing communities from Ilha Grande (Atlantic Forest Coast, Brazil). Journal of Ethnobiology 21(1):107-135.

Silva, F. 1994. Mamíferos silvestres do Rio Grande do Sul. 2a Edição. Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. RS. Editora Pallotti. 244p.

Silva, G.O. 1989. Tudo que tem na terra tem no mar: a classificação dos seres vivos entre trabalhadores da pesca em Piratininga, Rio de Janeiro. FUNARTE, Instituto Nacional do Folclore. 90p.

Souza, D.G.S. 1998. Todas as aves do Brasil. Legal Editora Gráfica LTDA - Feira de Santana. BA. 258p.

Thomas, K. 1988. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação à s plantas e aos animais (1500-1800). Companhia das Letras. 454p.

Thompson, P. 1992. A voz do Passado: História Oral. Editora Paz e Terra S.A. 385p.

Verdade, L.M. A exploração da fauna silvestre no Brasil: jacarés, sistemas e recursos humanos. Biota Neotropica, 4(2).

Verdade, L.M.; Seixas, C.S. 2013. Confidentiality and professional secrecy in studies about hunting. Biota Neotropica. 13(1).

Vieira, C.A. 2004. Distrito de Ratones, Florianópolis, SC: A comunidade tradicional e suas relações ambientais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Santa Catarina. 152p.

Wallauer, J.P. 2003. Geografia da Gestão de Fauna no Brasil: em busca de alternativas. Tese de Doutorado. Programa de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina. 339p.

Zucco, C.A.; Freitas, R.R.; Vieira, P.H.F.; Beltrame, A. 2004. Gestão da fauna silvestre na mata atlântica: subsídios para a conservação. Anais do XXV do Congresso Brasileiro de Zoologia.

Downloads

Publicado

2018-08-09

Edição

Seção

Caça: subsídios para a gestão de unidades de conservação e manejo de espécies (v. 2)