Potencial do Uso de Amostras Fecais de Felinos como Ferramenta de Monitoramento Ambiental: Estudo de Caso no Parque Nacional da Serra dos Órgãos

Autores

  • Cecília Cronemberger de Faria ICMBio/Parque Nacional da Serra dos Órgãos e Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente/PPGMA
  • Rafael Conceição de Moura 2 Bioconservation, Brasil.
  • Marina Lopes Duarte Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz/IOC, Laboratório de Entomologia Médica e Forense e Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz/IOC, Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Saúde/PG
  • Lais Verdan Dib Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, Laboratório de Toxoplasmose e Outras Protozooses do Rio de Janeiro,
  • Alynne da Silva Barbosa Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, Laboratório de Toxoplasmose e Outras Protozooses do Rio de Janeiro, e Universidade Federal Fluminense/ UFF, Instituto Biomédico, Departamento de Microbiologia e Parasitologia
  • Leticia Oliveira Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia/IFRJ. Campus Rio de Janeiro
  • Roberta Loh Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia/IFRJ. Campus Rio de Janeiro
  • Maria Regina Reis Amendoeira Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, Laboratório de Toxoplasmose e Outras Protozooses do Rio de Janeiro
  • Helena Godoy Bergallo Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Departamento de Ecologia

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v12i1.1773

Palavras-chave:

Tricologia , fezes, Felidae

Resumo

O monitoramento das unidades de conservação (UCs) é fundamental para avaliar se
atingem seus objetivos. Felinos são bons indicadores ambientais e suas fezes podem fornecer informações
relevantes para o monitoramento de UCs. Utilizamos fezes encontradas em trilhas do Parque Nacional
da Serra dos Órgãos para registrar a presença de felinos e outros mamíferos, analisamos sua distribuição
espacial e discutimos o potencial do uso dessas amostras como ferramenta de monitoramento ambiental.
Entre 2009 e 2019, foram coletadas 486 amostras em 21 trilhas. Foi possível identificar um mamífero em
61% das 315 amostras analisadas por microscopia óptica dos pelos-guarda. As cinco espécies de felinos
com ocorrência confirmada no parque foram registradas, com destaque para o gato maracajá (Leopardus
wiedii), frequentemente registrado em altitudes mais elevadas que o conhecido. Foram identificados
mamíferos com poucos registros anteriores no parque, como o mão-pelada (Procyon cancrivorous).
A distribuição espacial das amostras reflete a altimetria da área amostrada, com uma concentração nos
campos de altitude, onde outros métodos têm-se mostrado menos eficazes no registro de mamíferos,
destacando-se a importância de usar métodos complementares de monitoramento. Fezes podem ser
utilizadas em análises moleculares, que, além de refinar a identificação taxonômica, podem desvendar
informações como o grau de isolamento genético das populações. As fezes podem fornecer informações
sobre a saúde animal através do estudo de parasitos gastrointestinais, que também são bons indicadores
de qualidade ambiental e sobre contaminação ambiental. Apesar de seu potencial, o uso de fezes de
felinos como ferramenta de monitoramento ainda é raro. 

Referências

Abrams JF et al. Studying terrestrial mammals in tropical rainforests. A user guide for camera-trapping and environmental DNA. Leibniz-IZW, Berlin, Germany. 2018.

AFC DAAC, 2014. Imagem ALOS PALSAR , L-Band, Cena ALPSRP269566730. Includes Material © JAXA/METI 2008. DOI: https://doi.org/10.5067/ Z97HFCNKR6VA

Ahumada JA et al. Community structure and diversity of tropical forest mammals: Data from a global camera trap network. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 366(1578): 2703-2711, 2011.

Alberts CC, Saranholi BH, Frei F & Galetti PM. Comparing hair-morphology and molecular methods to identify fecal samples from Neotropical felids. PLoS One, 12: 1-24, 2017

Aximoff I, Cronemberger C & Pereira FA. Amostragem de longa duração por armadilhas fotográficas dos mamíferos terrestres em dois parques nacionais no estado do Rio de Janeiro. Oecologia Australis, 19(1): 215-231, 2015.

Bianchi RC, Rosa AF, Gatti Av & Mendes SL. Diet of margay, Leopardus wiedii, and jaguarundi, Puma yagouaroundi, (Carnivora: Felidae) in Atlantic Rainforest, Brazil. Zoologia, 28(1): 127-132, 2011

Bianchi RC, Olifiers N, Gomper ME & Mourão G. Niche partitioning among mesocarnivores in a Brazilian wetland. PLoS ONE 11(9): e0162893. doi:10.1371/ journal.pone.0162893, 2016.

Bruner AG et al. Effectiveness of Parks in Protecting Tropical Biodiversity. Science, 125(5501): 125-128, 2001. Carvalho GO et al. Road-killed giant anteater’s fur as a tool for biomonitoring mercury contamination. Chemosphere. DOI: 10.1016/j. chemosphere.2020.128644. 2020.

Chame M. Terrestrial Mammal Feces: A Morphometric Summary and Description. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 98: 71-94, 2003.

Cronemberger C et al. 2019. Mamíferos do Parque Nacional da Serra dos Órgãos: Atualização da lista de espécies e implicações para a conservação. Oecologia Australis, 23: 191-214, 2019.

Cronemberger C & Viveiros de Castro EB. Ciência e Conservação na Serra dos Órgãos. Brasília: IBAMA. 296p. 2007.

Cullen Jr L, Abreu CK, Sana D & Nava AFD. As onçaspintadas como detetives da paisagem no corredor do Alto Paraná, Brasil Natureza e Conservação 3: 43-58, 2005.

Cunha AA. Alterações na composição da comunidade e o status de conservação dos mamíferos de médio e grande porte da Serra dos Órgãos. In: Cronemberger C, Viveiros de Castro EB. Ciência e Conservação na Serra dos Órgãos. Brasília: IBAMA: 211-224, 2007.

Davis DE. The Annual Cycle of Plants, Mosquitoes, Birds, and Mammals in Two Brazilian Forests. Ecological Monographs, 15(3), 243-295, 1945. Dib LV et al. Gastrointestinal parasites among felids inhabiting the Serra dos Órgãos National Park, Rio de Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia, 27(2): 131-140, 2018.

Dib LV et al. Noninvasive Sampling: Monitoring of Wild Carnivores and Their Parasites, p. 1-13. In: Ahmad NB, Mohd NS. (orgs). Protected Areas, National Parks and Sustainable Future. Londres: IntechOpen. 570p. 2019.

Dib LV et al. Noninvasive fecal sampling in Itatiaia National Park, Brazil: wild mammal identification and parasite detection. Dryad. 2: Dataset, 2020.

Di Bitetti MS, De Angelo CD, Di Blanco YE & Paviolo A. Niche partitioning and species coexistence in a Neotropical felid assemblage. ActaOecologica, 36: 403- 412, 2010.

Elbroch LM, Quigley HB & Caragiulo A. Spatial associations in a solitary predator: using genetic tools and GPS technology to assess cougar social organization in the Southern Yellowstone Ecosystem. Acta Ethologica, 18: 127-136, 2015.

Espinosa CC et al. Geographic distribution modeling of the margay (Leopardus wiedii) and jaguarundi (Puma yagouaroundi): a comparative assessm ent. Journal of Mammalogy, 99(1): 252-262, 2018.

ESRI. ArcGIS Pro: Release 2.6.3. Redlands, CA: Environmental Systems Research Institute. 2020.

Farrell LE, Roman J & Sunquist ME. Dietary separation of sympatric carnivores identified by molecular analysis of scats. Molecular Ecology, 9(10): 1583-1590, 2000.

Fontes BL et al. The local extinction of one of the greatest terrestrial ecosystem engineers, the giant armadillo (Priodontes maximus), in one of its last refuges in the Atlantic Forest, will be felt by a large vertebrate community. Global Ecology and Conservation, 24, e01357, 2020.

Galindo-Leal C, Câmara IG & Reis E. Mata Atlântica: Biodiversidade, ameaças e perspectivas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica. Belo Horizonte: Conservação Internacional. 472 p. 2005.

Galleti M et al. Atlantic Rainforest’s Jaguars in Decline. Science, 342(6161): 930, 2013. Haag T et al. The effect of habitat fragmentation on the genetic structure of a top predator: loss of diversity and high differentiation among remnant populations of Atlantic Forest jaguars (Panthera onca). Molecular Ecology, 19: 4906-4921, 2010.

Harmsen BJ, Foster RJ, Silver S, Ostro L & Doncaster CP. Differential use of trails by forest mammals and the implications for camera-trap studies: A case study from Belize. Biotropica, 42: 126-133, 2010.

Jorge MLSP, Galetti PM, Ribeiro MC & Ferraz KMPMB. Mammal defaunation as surrogate of trophic cascades in a biodiversity hotspot. Biological Conservation, 163: 49-57, 2013

Lindenmayer DB & Likens GE. Adaptive monitoring: a new paradigm for long-term research and monitoring. Trends in Ecology and Evolution, 24(9): 482-486, 2009.

Lopes MCB et al. Total mercury in wild felids occurring in protected areas in the central Brazilian Amazon. Acta Amazonica, 50: 142-148, 2020.

Lovett GM et al. Who needs environmental monitoring? In a nutshell. The Ecological Society of America, 5(5): 253-260, 2007.

Lucena FM. Pequenos mamíferos como biomonitores da contaminação por mercúrio em duas unidades de conservação montanas (SE-Brasil). Trabalho de conclusão de curso (graduação). Universidade Federal do Rio de Janeiro. 54 p. 2018.

McDonald RI & Boucher TM. Global development and the future of the protected area strategy. Biological Conservation, 144(1): 383–392, 2011.

Miranda GHB, Rodrigues FHG & Paglia AP. Guia de Identificação de Pelos de Mamíferos Brasileiros. Brasília: Ciências Forenses. 112 p. 2014.

Miotto R A et al. Genetic diversity and population structure of pumas (Puma concolor) in southeastern Brazil: Implications for conservation in a humandominated landscape. Conservation Genetics, 12(6): 1447-1455, 2011.

Miotto RA, Cervini M, Kajin M, Begotti RA & Galetti PM. Estimating puma Puma concolor population size in a human-disturbed landscape in Brazil, using DNA mark–recapture data. Fauna e Flora International, 48(2): 250-257, 2014.

Morrison JC et al. Persistence of large mammal faunas as indicators of global human impacts. Journal of Mammalogy, 88(6): 1363-1380, 2011.

Moura RC &, Faria CC. Protocolo de coleta de amostras fecais de mamíferos terrestres da Ordem Carnivora para estudos de dieta. Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, 64: 22-24, 2012a.

Moura RC & Faria CC. Coleção de Referência de pelos de Mamíferos do PARNA Serra dos Órgãos. In: Anais do Simpósio Latinoamericano de Coleções Biológicas e Biodiversidade: Conhecimento e Gestão. 97 p. 2012b.

Nagy-Reis M. et al. Neotropical Carnivores: a dataset of occurrence of carnivores in the Neotropics. Ecology 101 (11), e03128. 2020.

Oliveira TG, Almeida LB, Tortato MA & Beisiegel BM. Avaliação do risco de extinção do gatomaracajá Leopardus wiedii (Schinz, 1821) no Brasil. Biodiversidade Brasileira, 31(1), 76-83, 2013.

Oliveira TG et al. Leopardus wiedii. The IUCN Red List of Threatened Species 2015: e.T11511A50654216. 2015 Pilgrim KL, MCkelvey KS, Riddle AE & Schwartz MK. Felid sex identication based on noninvasive genetic samples. Molecular Ecology Notes, 5: 60-61, 2005.

Quadros J. 2002. Identificação microscópica de pêlos de mamíferos brasileiros e sua aplicação no estudo da dieta de carnívoros. Tese (Doutorado em Ciências – Zoologia). Universidade Federal do Paraná. 127 p.

Quadros J & Monteiro-filho ELA. Coleta e preparação de pelos de mamíferos para identificação em microscopia óptica. Revista Brasileira de Zoologia. 23: 274-278, 2006a.

Quadros J & Monteiro-Filho ELA. Revisão conceitual, padrões microestruturais e proposta nomenclatória para os pêlos-guarda de mamíferos brasileiros. Revista Brasileira de Zoologia, 23: 279-292, 2006b.

Rocha-Mendes F, Mikich SB, Quadros J & Pedro WA. Feeding ecology of carnivores (Mammalia, Carnivora) in Atlantic Forest remnants, Southern Brazil. Biota Neotropical. 10: 21-30, 2010.

Rodríguez-Castro KG, Saranholi BH, Bataglia L, Blanck DV & Galetti Jr, PM. Molecular species identification of scat samples of South American felids and canids. Conservation Genetics Resources, 1-6, 2020.

RStudio Team. RStudio: Integrated Development for R. RStudio, PBC, Boston, MA , 2020.

Sanchez-Barradas A & Villalobos F. Species geographical co-occurrence and the effect of Grinnellian and Eltonian niche partitioning: The case of a Neotropical felid assemblage. Ecological Research, 2020: 1–12, 2020.

Santos J, Paschoal A, Massara R & Chiarello A. High consumption of primates by pumas and ocelots in a remnant of the Brazilian Atlantic Forest. Brazilian Journal of Biology. 74: 632-641, 2014.

Saranholi BH, Chávez-Congrains K & Galetti PM. Evidence of Recent Fine-Scale Population Structuring in South American Puma concolor. Diversity, 9: 1-11, 2017.

Sunquist M & Sunquist F. Wild Cats Of The World. University of Chicago Press, Chicago. 462 p. 2002.

Tomas WM, Rodrigues FHG & Fusco R. Técnicas de levantamento e monitoração de populações de carnívoros. Corumbá: Embrapa Pantanal, 34 p. 2004.

Wang E. Diets of Ocelots (Leopardus pardalis), Margays (L. wiedii), and Oncillas (L. tigrinus) in the Atlantic Rainforest in Southeast Brazil, Studies on Neotropical Fauna and Environment, 37(3): 207-212, 2002.

Wearn OR & Glover-Kapfer P. Camera-trapping for conservation: a guide to best-practices. WWF Conservation Technology Series. 1: 1-180, 2017.

Downloads

Publicado

18/01/2022

Edição

Seção

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Pibic/ICMBio