Vertebrados Atropelados na BR-163, Entorno da Floresta Nacional do Tapajós, Pará: Influência dos Padrões Espaciais e Climáticos
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v12i1.1802Palavras-chave:
Unidade de conservação , ecologia de estradas , impacto ambientalResumo
O atropelamento de fauna em rodovias é responsável pela mortalidade de inúmeras
espécies, podendo causar declínio das populações animais. Este estudo avaliou a influência dos
padrões espaciais e das variáveis climáticas dos grupos de vertebrados silvestres atropelados na
BR-163, Pará. Realizamos o monitoramento em 201km da rodovia, dos quais 151km fazem limite
com a Floresta Nacional do Tapajós. Identificamos os hotspots de atropelamento utilizando análise de
Kernel e escolhemos os dados de temperatura e precipitação como variáveis climáticas. A paisagem
do entorno da rodovia foi caracterizada e dividida em três recortes espaciais (Trechos 1, 2 e 3).
Registramos 650 animais e a taxa de atropelamento de vertebrados foi de 0,08ind./km/dia. Entre as
classes de animais, a maior taxa foi de anfíbios (0,03ind./km/dia), seguida de mamíferos (0,02ind./
km/dia), aves (0,02ind./km/dia) e répteis (0,01ind./km/dia). Somente os mamíferos tiveram correlação
significativa com as variáveis climáticas. As espécies com maior número de registro para mamíferos
foram Didelphis sp. (29%), Tamandua tetradactyla (17%) e Cerdocyon thous (16%); para aves foram
Coragyps atratus (55%) e Crotophaga ani (12%); para anfíbios foi Rhinella marina (58%) e para
répteis foi Boa constrictor (36%). Os hotspots dos vertebrados ocorreram, principalmente, nos Trechos
1 e 2, que são caracterizados pela presença de adensamentos urbanos e de plantações agrícolas.
Os hotspots estão aparentemente relacionadas aos hábitos dos animais e paisagem do entorno, com
alto índice de animais sinantrópicos sendo atropelados em trechos mais próximos a centros urbanos.
Dessa forma, discutimos medidas de mitigação que podem garantir a conservação da fauna local (ex.
redutores de velocidade, cercas e túneis).
Referências
Abra FD, Huijserd MP, Magiolia M, Bovo AAA & Ferraza KMPMB. An estimate of wild mammal roadkill in São Paulo state, Brazil. Available online, 2021.
Abra F, Canena AC, Garbino GST & Medici EP. Use of unfenced highway underpasses by lowland tapirs and other medium and large mammals in central-western Brazil. Perspectives in Ecology and Conservation, v. 18, p. 247-256, 2020.
Alencar AAC. A rodovia Br-163 e o desafio da sustentabilidade – Relatório do Projeto. MAPAS, 2005.
Aragão L et al. Spatial patterns and fire response of recent Amazonian droughts. Geophysical Research Letters, 2007.
Ascensão F & Mira A. Factors affecting culvert use by vertebrates along two stretches of road in southern Portugal. Ecological Research,22: 57-66, 2007.
Ayres M, Ayres-jr M & Santos AS. BioEstat 3.0. Aplicações Estatísticas nas áreas das Ciências BioMédicas. Sociedade Civil Mamirauá, 290Pp. 2007.
Bager A & Rosa CA. Priority ranking of road sites for mitigating wildlife roadkill.Biota Neotropica, v. 10, n. 4, 2010.
Banhos A, Fontes BL, Yogui DR, Alves MH, Ardente NC & Valls R, Schettino VR. Highways are a threat for giant armadillos that underpasses can mitigate. Biotropica, 2020.
Barbo FE, Marques OAV & Sawaya RJ. Diversity, Natural History, and Distribution of Snakes in the Municipality of São Paulo. South American Journal of Herpetology, 6(3): 135-160, 2011.
Braz VS &, França FGR. Wild vertebrate roadkill in the Chapada dos Veadeiros National Park, Central Brazil. Biota Neotropica, 16:1-11, 2016.
Becker CG, Fonseca CR, Haddad CFB, Batista RF & Prado PI. Habitat-split and the Global Decline of Amphibians. Science, v. 318, 2007.
Bernarde OS & Abe AS. A snake community at Espigão do Oeste, Rondônia, southwestern Amazon, Brazil. South American Journal of Herpetology, 1(2): 102-11,2006.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Plano de desenvolvimento sustentável para a região de influência da rodovia br-163 (PLANO CUIABÁ-SANTARÉM SUSTENTÁVEL). Brasília, 2004.
Brum TR, Santos-Filho M, Canales GR & Ignacio RA. Effects of roads on the vertebrates diversity of the Indigenous Territory Paresi and its surrounding. Brazilian Journal of Biology, 78(1):125-132,2017.
Câmara G & Carvalho MS. Análise de eventos pontuais. In: druck, s.; Carvalho M.S., Câmara G, Monteiro, AVM. Análise espacial de dados geográficos. Brasília, EMBRAPA, 2004.
Carvalho CF. Atropelamento de vertebrados, hotspots de atropelamento e parâmetros associados, BR-050, trecho Uberlândia-Uberaba. (Mestrado em Ecologia). Universidade Federal de Uberlândia, 2014.
Cardoso TR. Tempo de permanência de carcaças em rodovias: análise metodológica em ecologia de estradas. Undergraduate thesis. Universidade Federal de Lavras, 2010.
Carneiro EO & Santos RL. Análise espacial aplicada na determinação de áreas de risco para algumas doenças endêmicas (calazar, dengue, diarréia, DST - Doenças sexualmente transmissíveis e tuberculose), no bairro de Campo Limpo, Feira de Santana (BA). Sitientibus, v.28, p. 51-75, 2003.
Cáceres N, Casella J & Santos Goulart C. Variação espacial e sazonal de atropelamentos de mamíferos no bioma Cerrado, rodovia BR 262, sudoeste do Brasil. Mastozoología Neotropical, 19(1): 21-33, Mendoza, 2012.
CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas). Projeto Malha Manual para Equipe de Campo, 2013.
Chainey S, Tompson, L & Uhlig, S. The utility of hotspot mapping for predicting spatial patterns of crime. Security journal, Springer, v. 21, n. 1-2, p. 4–28, 2008.
Cirino DW & Freitas SR. Quais são os mamíferos silvestres mais atropelados no Brasil? p.48-56. In: Anais do 5° Workshop de Evolução e Diversidade, 2018.
Clevenger AP, Chruszcz B & Gunson KE. Spatial patterns and factors influencing small vertebrate fauna road-kill aggregations. Biological conservation, 109(1): 15-26, 2003.
Coelho IP, Kindel A & Coelho AVP. Roadkills of vertebrate species on two higways through the Atlantic Forest Biosphere Reserve, southern Brazil. Eur. J. Wildl, 2008.
Coelho, IP, Teixeira, FZ, Colombo P, Coelho A VP & Kindel, A. Anuran road-kills neighboring a periurban reserve in the Atlantic Forest, Brazil. Journal of environmental management, 112, 17-26, 2012.
Costa FG & Sperber CF. Atropelamentos de vertebrados na Floresta Nacional de Carajás, Pará, Brasil. Acta Amazonia, 39 (2), 2009.
Cordeiro JFA. Efeito mitigador das barreiras antiatopelamento de anfíbios na estrada municipal EM 529. Dissertação (Mestrado em Biologia da Conservação). Universidade de Évora. 51p.,2019.
Cunnington GM, Garrah E, Eberhardt E & Fahrig L. Culverts alone do not reduce road mortality in anurans. Écoscience 21, 69-78, 2014.
Dornas RAP, Kindel A, Bager A & Freitas SR. Avaliação da mortalidade de vertebrados em rodovias.In :BAER.A.(ed) Ecologia de Estradas: tendência e pesquisa. Lavras:Ed. UFLAp.139-152, 2012.
Druck S, Carvalho MS, Camara G & Monteiro AMV. Análise espacial de dados geográficos. Cad. Saúde Pública vol.21 nº.4, 2005.
Dyson B & Chang NB. Forecasting municipal solid waste generation in a fast-growing region with system dynamics modeling. Waste Management, 25(7); 669- 679, 2005.
ESRI. Classifying Numerical Fields for Graduated Symbology. Disponível em: . Acesso em: 23/04/2021.
Fearnside PM & Laurance WF. Infraestrutura na Amazônia: as lições dos planos plurianuais, Cad. CRH Scielo, vol. 25, 2012.
Fearnside PM. A tomada de decisão sobre grandes estradas amazônicas. pp. 59-75. In: A Bager (Ed.) Ecologia de Estradas: Tendências e Pesquisas. Universidade Federal de Lavras, 313p. 2012.
Forman RT & Alexander LE. Roads and their major ecological effects. Ann. Rev. Ecol. Syst, 1998.
Forman RTT et al. Science and solutions. Island Press, Washington, DC, 2003.
Garriga N, Santos X, Montori A, Richter-Boix A, Franch M & Llorente GA. Are protected areas truly protected? The impact of road traffic on vertebrate fauna. Biodiversity and Conservation, 21(11), 2761-2774, 2012.
Grilo C, Bissonette JA & Santos-Reis, M. Spatialtemporal patterns in Mediterranean carnivore road casualtis: Consequences for mitigation. Biological Conservation. V. 142,p.301-313, 2009.
Gunson K & Teixeira FZ. Road- Wildlife mitigation planning can be improved by identifying the patterns and processes associated with wildlife-vehicle collisions. In Ree R, Smith Dj & Grilo O. (Orgs). 1. ed. Handbook of road ecology. West Sussex, UK: John Wiley & Sons, p. 101-109, 2015.
Hegel CGZ, Consalter GC & Zanella N. Mamíferos silvestres atropelados na rodovia RS – 135, norte do Estado do Rio Grande do Sul. Biotemas, 25(2): 165- 170, 2012. Frizzo TLM, Bonizario C, Borges MP & Vasconcelos H. Revisão dos efeitos do fogo sobre a fauna de formação savânica do Brasil. Oecologia Australis 15(15):365- 379,2011.
Helldin JO & Petrovan SO. Effectiveness of small road tunnels and fences in reducing amphibian roadkill and barrier effects; case studies of retrofitted roads in Sweden. PeerJ Preprints, 2019. Huijser MP et al. Effectiveness of short sections of wildlife fencing and crossing structures along highways in reducing wildlife–vehicle collisions and providing safe crossing opportunities for large mammals. Biological Conservation, 197(61): 68, 2016.
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Floresta Nacional do Tapajós. Plano de Manejo. Belterra: IBAMA, 373p. 2004.
ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). A Floresta Nacional do Tapajós. . Acesso em: 21/04/ 2018.
ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I / 1. ed. - Brasília, DF:
ICMBio/MMA, p. 492, 2018. INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). Dados meteorológicos. . Acesso em: 29/07/2019.
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Projeto TERRACLASS-2012 – Mapeamento do Uso e Cobertura da Terra na Amazônia Legal Brasileira, Brasília, 2014.
IBRAM (Instituto Brasília Ambiental). Relatório Rodofauna.21p.,2012.
Jackson ND & Fahrig L. Relative effects of road mortality and decreased connectivity on population genetic diversity. Biol. Conserv. 144: 3143-3148,2011.
Jarvis LE, Hartup M & Petrovan SO. Road mitigation using tunnels and fences promotes site connectivity and population expansion for a protected amphibian. Eur. J. Wildl.,2019.
Junior TSS. Mamíferos do Cerrado de Mato Grosso, com ênfase no uso de espaços por Cerdocyon thous (Carnivora, Canidae) e Mazama gouazoubira (Artyodctyla, Cervidae). Tese (Doutorado em Ecologia). Universidade Federal de São Carlos. 97p., 2013.
Koproski PL. O fogo e seus efeitos sobre a herpeto e a mastofauna terrestre no parque nacional de ilha grande (pr/ms), Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais). Universidade Federal do Paraná.143p.,2005.
Laurance WF, Goosem M & Laurance SGW. Impacts of roads and linear clearings on tropical forests. Trends in Ecology and Evolution, 24(12): 659- 669,2009.
Laurance SGW, Stouffer PC & Laurance WF. Effects of road clearings on movement patterns of understory rainforest birds in central Amazonia. Conservation Biology, volume 18, 2004.
Rytwinski T, Soanes K, Jaeger JAG, Fahrig L, Findlay CS, Houlahan J et al. How Effective Is Road Mitigation at Reducing Road-Kill? A Meta-Analysis. PLoS ONE, 2016.
Rosa CA, Cardoso TR, Teixeira FZ & Bager A. Atropelamento de fauna selvagem: Amostragem e análise de dados em ecologia de estradas. Ed. UFLA. In: Ecologia de estradas: tendências e pesquisas, 2012.
Rosa AO & Maus J. Atropelamento de animais silvestres na rodovia RS-040. Caderno de Pesquisa Sér.Bio, 16:35-42, 2004.
Secco H, Ratton P, Castro E, Lucas PS & Bager A. Intentional snake road-kill: a case study using fake snakes on a Brazilian road. Tropical Conservation Science, 7(3): 561-571, 2014.
SETRAN (Secretária do Estado de Transporte) – Pesquisa Rodovias Estado do Pará .. Acesso em: 22/07/2020
Slater FM. An assessment of wildlife road casualties— the potential discrepancy between numbers counted and numbers killed. Web Ecol, 3: 33-42,2002.
Sullivan BK. Observed differences in body temperature and associated behaviour of four snake species. Journal of Herpetology, 15:245-246,1981.
Teixeira FZ et al. Are road-kill hotspots coincident among different vertebrate groups? Oecologia Australis 17:36-47.,2013.
Teixeira FZ, Gonçalves LO, Biasotto LD, Nóbrega RAA & Kindel A. Ferramentas geográficas para análise e mitigação de impactos ambientais causados por infraestruturas viárias de transporte terrestre. In: Sutil T, Pereira JR, Ladwig NI, Zocche JJ, Pereira JL (org.). Geoprocessamento na análise ambiental. Criciúma (SC): Unesc, 2020.
Turci LCB & Bernarde PS. Vertebrados atropelados na rodovia estadual 383 em Rondônia, Brasil. Biotemas, 22(1): 121-127, 2009.
Wenhao Y & Tinghua A. The visualization and analysis of urban facility pois using network kernel density estimation constrained by multi-factors. Bol. Ciênc. Geod, vol. 20 n. 4, 2014.
Winton SA, Bishop CA & Larsen KW. When protected areas are not enough: low-traffic roads projected to cause a decline in a northern viper population. Endang. Species Research, 41:131-139, 2020.
Zandonadi AP, Brunaldi FG, Meneguelli AZ & Araújo RMG. Vertebrados atropelados na br-429 no eixo alvorada d´ oeste–São Miguel do Guaporé, Rondônia, Brasil. Revista Científica da UNESC, 12(1), 2014.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Biodiversidade Brasileira - BioBrasil
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os artigos estão licenciados sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O acesso é livre e gratuito para download e leitura, ou seja, é permitido copiar e redistribuir o material em qualquer mídia ou formato.
v3-3-0-3-2-1-8-release.27