Acácias australianas no Brasil: histórico, formas de uso e potencial de invasão
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v3i2.321Palavras-chave:
Acacia mangium, Acacia mearnsii, espécies exóticas invasorasResumo
Em diversos países, espécies do gênero Acacia, provenientes da Austrália, possuem um histórico consistente de introdução e invasão. No Brasil, estas espécies começaram a ser registradas em áreas adjacentes aos seus locais de introdução e, dada sua ampla utilização, este fato desperta preocupação. Assim sendo, torna-se oportuno estimar o potencial de invasão das espécies Acacia mangium e A. mearnsii, pois estas são as espécies do gênero observadas com maior frequência nas listas de espécies exóticas invasoras no Brasil. Os riscos associados à introdução e uso destas espécies foram estimados através da compilação e avaliação de informações intrínsecas e extrínsecas às espécies. Estas informações são referentes à biologia, formas de uso, distúrbio potencial, locais de introdução e histórico de invasão das espécies. As principais formas de introdução das espécies são o plantio comercial, para a produção de polpa para celulose e extração de tanino, e os reflorestamentos para recuperação de áreas degradadas. Ambas as espécies possuem características biológicas favoráveis ao seu estabelecimento como invasoras como, a capacidade de estabelecimento em ampla variedade de condições climáticas e tolerância a escassez de água e nutrientes no solo. O estabelecimento de indivíduos dessas espécies em áreas adjacentes a plantios comerciais já é registrado no Brasil, indicando que o processo de invasão já está em curso. Nessas áreas, alterações na concentração de nutrientes do solo, pH e na composição da comunidade de plantas já foram observadas. Registros de introdução de A. mangium foram encontrados no norte e leste do território nacional. Os registros de ocorrência de A. mearnsii foram encontrados principalmente nas regiões sul e sudeste. Considerando que o plantio destas espécies vem se tornando uma atividade cada vez mais popular e economicamente rentável no Brasil, o desenvolvimento de estratégias nacionais de prevenção à invasão torna-se indispensável diante do potencial invasor apresentado.
Referências
ABRS 2001. Flora of Australia. vol. 11. CSIRO Publishing. 673p.
Aguiar Jr, A.; Barbosa, R.I.; Barbosa, J.B.F. & Mourão Jr., M. (no prelo). Invasion of Acacia mangium in Amazonian savannas following planting for forestry. Plant Ecology & Diversity.
Balieiro, F.C.; Dias, L.E.; Franco, A.A.; Campello, E.F.C. & Faria, S.M. 2004. Acúmulo de nutrientes na parte aérea, na serrapilheira acumulada sobre o solo e decomposição de filódios de Acacia mangium Willd. Ciência Florestal, 14(1): 59-65.
Balieiro, F.D.C.; Franco, A.A.; Fontes, R.L.F.; Dias, L.E.; Campello, E.F.C. & Faria, S.M.D. 2007. Evaluation of the throughfall and stemflow nutrient contents in mixed and pure plantations of Acacia mangium, Pseudosamenea guachapele and Eucalyptus grandis. Revista Árvore, 31(2): 339-346.
Barbosa, R.I. 2002. Florestamentos dos sistemas de vegetação aberta (Savanas/Cerrados) de Roraima por espécies exóticas (Acacia mangium Willd). Temas de Discussão, Reflexão e Informação. Conselho Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Roraima. 9p.
Baret, S.; Rouget, M.; Richardson, D.M.; Lavergne, C.; Egoh, B.; Dupont, J. & Strasberg, D. 2006. Current distribution and potential extent of the most invasive alien plant species on La Reunion (Indian Ocean, Mascarene islands). Austral Ecology, 31(6): 747-758.
Barichello, L.R. 2003. Quantificação da biomassa e dos nutrientes em floresta de Acacia mearnsii De. Wild. na região sul do Brasil. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal). Universidade Federal de Santa Maria. 74p.
Barua, S.P.; Khan, M.M.H. & Reza, A.H.M.A. 2001. The Status of Alien Invasive Species in Bangladesh and their Impact on the Ecosystems. Relatório. Report of the workshop on alien invasive species, GBFSSEA. IUCN Biodiversity Programme. 7p.
Broennimann, O. & Guisan, A. 2008. Predicting current and future biological invasions: both native and invaded ranges matter. Global Change Biology, 4(5): 585-589.
Brown, A.G. & Ko, H.C. 1997. Black Wattle and its Utilisation. Rural Industries Research and Development Corporation. 180p
Calil, F.N.; Schumacher, M.V.; Santos, E.M. & Witschoreck, R. 2004. Biomassa em um sistema silvipastoril com Acacia mearnsii De. Wild. na região sul do Brasil. Biomassa & Energia, 1(2): 165-171.
Carpanezzi, O.T.B. 2011. Espécies vegetais exóticas no parque estadual de Vila Velha: subsídios para controle e erradicação, p. 67-74. In: Carpanezzi, O.T.B. & Campo, J.B. (orgs.). Coletânea de Pesquisas: Parques Estaduais de Vila Velha, Cerrado e Guartelá. Instituto Ambiental do Paraná. 374p.
Carvalho, S.R.; Almeida, D.L.; Aronovich, S.; Camargo Filho, S.T.; Dias, P.F. & Franco, A.A. 1998. Recuperação de Áreas Degradadas do Estado do Rio de Janeiro. Documentos (76) da Embrapa-CNPAB. 11p.
Castro-Díez, P.; Langendoen, T.; Poorter, L. & López, A.S. 2011. Predicting Acacia invasive success in South Africa on the basis of functional traits, native climatic niche and human use. Biodiversity and Conservation, 20(12): 2729-2743.
Charão, L.S. 2005. Polinização em Acacia mearnsii De Wild. Revista de Ciências Agro-Ambientais, 3: 92-109.
Chong, K.Y.; Tan, H.T.W. & Corlett, R.T. 2009. A Checklist of the total vascular plant flora of Singapore: Native, Naturalised and Cultivated Species. Raffles Museum of Biodiversity Research, National University of Singapore. 273p. Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica. Decisão VI – 23. www.cbd.int. Acessado em 12/08/2013.
Daehler, C.C. & Carino, D.A. 2000. Predicting invasive plants: prospects for a general screening system based on current regional models. Biological Invasions, 2: 93-102.6/10/2010).
Dahl, H.; Jakobsen, J. & Raitzer, D.A. 2001. Wattle eradication via the Working for Water Programme, compared with wattle utilization and management for Makomereng, South Africa. SLUSE Report. 52p.
Faria, S.M.; Franco, A.A.; Campello, E.F. & Silva, E.M.R. 1998. Recuperação de Solos Degradados com Leguminosas Noduladas e Micorrizadas. Documentos (77) da Embrapa-CNPAB. 23p.
FAO (Food and Agriculture Organization). 2006. Global forest resources assessment 2005: progress towards sustainable forest management. Relatório Técnico. 350 p.
Francis, J.K. 2002a. Acacia mangium Willd, p. 256-258. In: J.A. Vozzo (ed.) Tropical Tree Seed Manual. USDA. 899p.
Francis, J.K. 2002b. Acacia mearnsii De Wild, p. 259-261. In: J.A. Vozzo (ed.) Tropical Tree Seed Manual. USDA. 899p.
Frohlich, D. & Lau, A. 2008. New plant records from O’ahu for 2007. Bishop Museum Occasional Papers, 100: 3-12.
Galatowitsch, S. & Richardson, D.M. 2005. Riparian scrub recovery after clearing of invasive alien trees in headwater streams of the Western Cape, South Africa. Biological Conservation, 122: 509-521.
Garay, I.; Kindel, A.; Carneiro, R.; Franco, A.A.; Barros, E. & Abbadie, L. 2003. Comparação da matéria orgânica e de outros atributos do solo entre plantações de Acacia mangium e Eucalyptus grandis. Revista Brasileira de Ciências do Solo, 27(1): 705-712.
GISP (Global Invasive Species Database). 2011. Acacia mangium. . (Acesso em 15/05/2011) GISP (Global Invasive Species Database). 2011. Acacia mearnsii. . (Acesso em 15/05/2011)
Griffin, A.R.; Midgley, S.J.; Bush, D.; Cunningham, P.J. & Rinaudo, A.T. 2011. Global uses of Australian acacias - recent trends and future prospects. Diversity and Distributions, 17: 837-847.
Henderson, L. 2007. Invasive, naturalized and casual alien plants in southern Africa: a summary based on the Southern African Plant Invaders Atlas (SAPIA). Bothalia, 37(2): 215-248.
Heriansyah, I.; Miyakuni, K.; Kato, T.; Kiyono, Y. & Kanazawa, Y. 2007. Growth characteristics and biomass accumulations of Acacia mangium under different management practices in Indonesia. Journal of Tropical Forest Science, 19(4): 226-235.
Hoong, Y.B.; Paridah, M.T.; Luqman, C.A.; Koh, M.P. & Loh, Y.F. 2009. Fortification of sulfited tannin from the bark of Acacia mangium with phenol–formaldehyde for use as plywood adhesive. Industrial Crops and Products, 30(3): 416-421.
Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. Base de Dados I3N Brasil de Espécies Exóticas Invasoras. Acessado em 12/08/2010. IUCN – ISSG – Base de Dados Global sobre Espécies Exóticas Invasoras (www.issg.org/database). Acessado em 12/08/2011.
Jobbágy, E.G. & Jackson, R.B. 2003. Patterns and mechanisms of soil acidification in the conversion of grasslands to forests. Biogeochemistry, 64: 205-229.
Kamo, K.; Vacharangkura, T.; Tiyanon, S.; Viriyabuncha, C.; Thaingam, R. & Sakai, M. 2009. Response to unmanaged Acacia mangium plantations to delayed thinning in north-east Thailand. Journal of Tropical Forest Science, 21(3): 223-234.
Kodela, P.G. & Harden, G.J. 2002. Acacia, p. 381-476 In: Harden, G.J. (ed) Flora of New South Wales. Vol. 2. 2 ed,. Royal Botanic Gardens & Domain Trust. 574p
Krisnawati, H.; Kallio, M. & Kanninen, M. 2011. Acacia mangium Willd: Ecology, silviculture and productivity. CIFOR (Center for International Forestry Research). 26 p.
Kriticos, D.J.; Sutherst, R.W.; Brown, J.R.; Adkins, S.W. & Maywald, G.F. 2003. Climate change and the potential distribution of an invasive alien plant: Acacia nilotica ssp. indica in Australia. Journal of Applied Ecology, 40: 111-124.
Kull, C.A. & Rangan, H. 2008. Acacia exchanges: Wattles, thorn trees, and the study of plant movements. Geoforum, 39: 1258-1272.
Leão, T.C.C.; Almeida, W.R.; Dechoum, M.S. & Ziller, S.R. 2011. Espécies Exóticas Invasoras no Nordeste do Brasil: Contextualização, Manejo e Políticas Públicas. CEPAN. 99p.
Little Jr., E.L. & Skolmen, R.G. 1989. Common Forest Trees of Hawaii (Native and Introduced), p. 732-733 In: Agriculture Handbook n. 679. Forest Service of the U.S. Department of Agriculture. 321p.
Lockwood, J.L.; Simberloff, D.; Mckinney, M.L. & Holle, B.V. 2001. How many, and which, plants will invade natural areas? Biological Invasions, 3: 1-8.
Lorenzi, H.; Souza, H.M.; Torres, M.A.V. & Bacher, L. 2003. Árvores Exóticas no Brasil: Madeireiras, ornamentais e aromáticas. Instituto Plantarum. 352p.
Lorenzo, P.; González, L. & Reigosa, M.J. 2010. The genus Acacia as invader: the characteristic case of Acacia dealbata Link in Europe. Annals of Forest Science, 67(1): 101.
Lowe, S.; Browne, M.; Boudjelas, S. & De Poorter, M. 2000. 100 of the World’s Worst Invasive Alien Species: A selection from the Global Invasive Species Database. Hollands Printing Ltd. 11p.
Marchante, H.S.D.C. 2001. Invasão dos ecossistemas dunares portugueses por Acacia : uma ameaça para a biodiversidade nativa. Dissertação (Mestrado em Ecologia). Universidade de Coimbra. 147p.
Maslin, B.R.; Miller, J.T. & Seigler, D.S. 2003. Overview of the generic status of Acacia (Leguminosae: Mimosoideae). Australian Systematic Botany, 16(1): 1-18.
Midgley, S.J. & Beadle, C. 2006. Tropical Acacias – An Expanding Market for Solid Wood, p. 1-5. In: 4th Blackwood workshop. Proceedings of the Australian blackwood industry group.
Midgley, S.J. & Turnbull, J.W. 2003. Domestication and use of Australian acacias: case studies of five important species. Australian Systematic Botany, 16(1): 89-102.
Mochiutti, S.; Higa, A.R. & Simon, A.A. 2007. Susceptibilidade de ambientes campestres à invasão de acácia-negra (Acacia mearnsii De Wild.) no Rio Grande do Sul. Floresta, 37(2): 239-253.
Moyo, H.P.M. & Fatunbi, A.O. 2010. Utilitarian perspective of the invasion of some South African biomes by Acacia mearnsii. Global Journal of Environmental Research, 4(1): 6-17.
Nardelli, A. 2004. Resumo Público do Relatório de Certificação de Manejo Florestal da Tanagro S.A.. Vol. 27. Relatório Técnico. 46p. National Research Council 1983. Mangium and other fast growing acacias for the humid tropics. National Academy Press. 62 p
Nykvist, N. & Sim, B.L. 2009. Changes in carbon and inorganic nutrients after clear felling a rainforest in Malaysia and planting with Acacia mangium. Journal of Tropical Forest Science, 21(2): 98-112.
Pellens, R. & Garay, I. 1999. Edaphic macroarthropod communities in fast-growing plantations of Eycalyptus grandis Hill ex Maid (Myrtaceae) and Acacia mangium (Leguminosae) in Brazil. European Journal of Soil Biology, 35(2): 77-89.
Pimentel, D.; McNair, S.; Janecka, J.; Wightman, J.; Simmonds, C.; O’Connell, C.; Wong, E.; Russel, L.; Zern, J.; Aquino, T. & Tsomondo, T. 2001. Economic and enviornmental threats of alien plant, animal, and microbe invasions. Agriculture, Ecosystems and Environment, 84: 1-20.
Pysek, P. & Richardson, D.M. 2007. Traits Associated with Invasiveness in Alien Plants: Where Do we Stand?, p. 97-125. In: Nentwig W. (ed.). Biological Invasions, Ecological Studies 193. Springer. 441p.
Rachwal, M.F.G.; Dedecek, R.A.; Curcio, G.R. & Simon, A.A. 2007. Manejo dos resíduos da colheita de Acácia-negra (Acacia mearnsii De Wild.) e a sustentabilidade do sítio. Ciência Florestal, 17(2): 137-144.
van Wilgen, B.W.; Reyers, B.; Le Maitre, D.C.; Richardson, D.M. & Schonegevel, L. 2008. A biomescale assessment of the impact of invasive alien plants on ecosystem services in South Africa. Journal of Environmental Management, 89: 336-349..
van Wilgen, B.W.; Dyer, C.; Hoffmann, J.H.; Ivey, P.; Le Maitre, D.C.; Moore, J.L.; Richardson, D.M.; Rouget, M.; Wannenburgh ,A. & Wilson, J.R.U. 2011. National-scale strategic approaches for managing introduced plants: insights from Australian acacias in South Africa. Diversity and Distributions, 17: 1060-1075.
Weber, J.; Tham, F.Y.; Galiana, A.; Prin, Y.; Ducousso, M. & Lee, S.K. 2007. Effects of nitrogen source on the growth and nodulation of Acacia mangium in aeroponic culture. Journal of Tropical Forest Science, 19(2): 103-112
Wilson, J.R.U.; Dormontt, E.E.; Prentis, P.J.; Lowe, A.J. & Richardson D.M. 2009. Something in the way you move: dispersal pathways affect invasion success. Trends in Ecology & Evolution, 24(3): 136-44.
Xiong, Y.; Xia, H.; Li, Z.; Cai, X. & Fu, S. 2008. Impacts of litter and understory removal on soil properties in a subtropical Acacia mangium plantation in China. Plant Soil, 304: 179-188.
Zenni, R.D. & Ziller, S.R. 2011. An overview of invasive plants in Brazil. Revista Brasileira de Botânica, 34(3): 431-446.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Biodiversidade Brasileira - BioBrasil
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os artigos estão licenciados sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O acesso é livre e gratuito para download e leitura, ou seja, é permitido copiar e redistribuir o material em qualquer mídia ou formato.
v3-3-0-3-2-1-8-release.27