Plantas e vertebrados exóticos invasores em unidades de conservação no Brasil

Autores

  • Sílvia Renate Ziller Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação AmbientalUniversidade Federal de Santa Catarina
  • Michelede Sá Dechoum Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação AmbientalUniversidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v3i2.328

Palavras-chave:

áreas protegidas, banco de dados, plano de manejo, espécies exóticas invasoras, invasão biológica, manejo

Resumo

Com base na informação disponível na Base de Dados I3N Brasil de Espécies Exóticas Invasoras, foi realizada uma análise dos registros de ocorrência de plantas e vertebrados exóticos invasores em unidades de conservação enquadradas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação do Brasil. Constam na Base de Dados 19 espécies de água doce e 148 espécies terrestres com ocorrências em 227 unidades de conservação, com 902 ocorrências em unidades de proteção integral e 268 em unidades de uso sustentável. O maior número de espécies exóticas invasoras registrado é de plantas terrestres, seguido de peixes, mamíferos, aves, répteis e anfíbios. As categorias de unidade de conservação de proteção integral com maior número de ocorrências e de espécies exóticas invasoras são Parque Estadual, Parque Nacional, Parque Natural Municipal e Reserva Biológica. As categorias de uso sustentável com maior número de ocorrências e espécies são Áreas de Proteção Ambiental, Reservas Particulares do Patrimônio Natural, Florestas Nacionais e Florestas Estaduais. As formações vegetais com mais registros de ocorrência são Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual, Formações Pioneiras de Influência Marinha e Savana. Não constam na base de dados registros de plantas e vertebrados invasores em unidades de conservação marinhas. As espécies de plantas e vertebrados com maior número de registros de ocorrência foram introduzidas voluntariamente no Brasil, estando sua presença em áreas naturais associada a escapes de sistemas de produção. Sistemas de prevenção e iniciativas de controle e erradicação de espécies exóticas invasoras devem ser urgentemente implantados em unidades de conservação brasileiras, a exemplo do que tem sido feito com sucesso em diversos países para a restauração ambiental e a proteção de espécies nativas.

Biografia do Autor

Sílvia Renate Ziller, Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação AmbientalUniversidade Federal de Santa Catarina

Graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (1988), Mestrado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (1992) e Doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (2000). Fundadora e Diretora Executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental (www.institutohorus.org.br). Experiência em conservação e restauração ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: espécies exóticas invasoras (prevenção e controle, capacitação para manejo, pesquisa, desenvolvimento de programas de governo e para empresas), fitossociologia e restauração de áreas degradadas.

Michelede Sá Dechoum, Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação AmbientalUniversidade Federal de Santa Catarina

Sou Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas, onde também obtive o título de Mestre em Biologia Vegetal, trabalhando com ecofisiologia de espécies vicariantes. Atuei como gestora pública nos âmbitos municipal e estadual, sempre em cargos diretamente relacionados à conservação e à gestão de áreas protegidas, e na OnG The Nature Conservancy, no Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul. Atualmente sou doutoranda em Ecologia na Universidade Federal de Santa Catarina e colaboradora do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. Tenho experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de invasões biológicas, atuando principalmente nos seguintes temas: espécies exóticas invasoras, manejo e políticas públicas. Minhas principais áreas de interesse são ecologia aplicada, restauração ambiental, manejo de espécies exóticas invasoras, políticas públicas e manejo e gestão de áreas naturais. Tenho também especial interesse em trabalhar questões de envolvimento comunitário e divulgação pública sobre o uso de espécies vegetais nativas para fins ornamentais.

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Publicado

08/03/2014