Invasão biológica em restinga: o estudo de caso de Terminalia catappa L. (Combretaceae)

Autores

  • Renata Martins Plucênio Laboratório de Ecologia Vegetal, Departamento de Ecologia e Zoologia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal deSanta Catarina/UFSC
  • Michelle de Sá Dechoum Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental
  • Tânia Tarabini Castellani Laboratório de Ecologia Vegetal, Departamento de Ecologia e Zoologia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal deSanta Catarina/UFSC

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v3i2.424

Palavras-chave:

árvore invasora, ecossistemas costeiros, susceptibilidade à invasão, pressão de propágulos.

Resumo

Ecossistemas costeiros são fortemente afetados pela invasão de plantas exóticas. Terminalia catappa é nativa da Malásia, invasora em regiões costeiras, comum na orla marítima brasileira desde a chegada dos europeus. A dispersão de sementes ocorre através de correntes aquáticas e morcegos. O estudo teve como objetivo principal identificar o grau de invasão da espécie em áreas de restinga de Florianópolis e analisar a suscetibilidade destes ambientes ao processo de invasão. As áreas estudadas foram dois arcos praiais de 4 km de comprimento, no norte da ilha de Santa Catarina. Nas áreas, em até 30 m para o interior da vegetação de restinga, os indivíduos de T. catappa foram georreferenciados, mensurados quanto ao tamanho e aos sinais de reprodução, sendo analisada a estrutura da vegetação dos locais ocupados pela espécie e a presença de plantas de restinga abaixo destas plantas. Foram estabelecidas duas parcelas para avaliar a vegetação adjacente aos sítios ocupados por estas plantas e mais distantes a estas. Os dados mostram o estabelecimento da espécie na restinga, visto que há sementes germinando e plantas se desenvolvendo nas áreas, com algumas delas chegando à fase reprodutiva. A riqueza de espécies não diferiu entre os sítios adjacentes e distantes de T. catappa, sendo que a composição da vegetação de restinga foi similar nos dois sítios. A maioria dos indivíduos mostrou a manutenção de vegetação de restinga sob as copas, sugerindo que nesta fase de invasão, a espécie não excluiu a vegetação nativa por sombreamento e alelopatia. O estudo mostrou que o mar é um importante vetor de dispersão da espécie para as áreas estudadas, visto que os indivíduos estabelecidos e as sementes acumuladas na praia estavam mais próximos do mar do que das áreas antropizadas onde a espécie é usada para fins ornamentais. Observou-se também que há um maior aporte de sementes próximo à foz do rio Ratones, e uma relação positiva entre o número de indivíduos amostrados por área e o número de sementes depositadas na praia.

Referências

Alpert, P.; Bone, E. & Holzapfel, C. 2000. Invasiveness, Invasibility and the Role of Environmental Stress in the Spread of Non-native Plants. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics, 3: 52-66.

Aptekar, R. & Rejmánek, M. 2000. The Effect of Sea-water Submergence on Rhizome Bud Viability of the Introduced Ammophila arenaria and the Native Leymus mollis in California. Journal of Coastal Conservation, 6: 107-111.

Assumpção, J. & Nascimento, M.T. 2000. Estrutura e Composição Florística de Quatro Formações Vegetais de Restinga no Complexo Lagunar Grussaí/Iquipari, São João da Barra, RJ, Brasil. Acta Botânica Brasílica, 14(3): 301-315.

Au, L. 2000. Carpobrotus edulis in Coastal California Plant Communities. Restoration and Reclamation Review, 6: 1-7.

Ayres, M.; Ayres-Jr, M.; Ayres, T.L. & Santos, A.S. 2007. BioEstat 5.0: Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Editora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. 380p.

Badano, E.I. & Pugnaire, F.I. 2004. Invasion of Agave species (Agavaceae) in Southeast Spain: Invader Demographic Parameters and Impacts on Native Species. Diversity and Distributions, 10: 493-500.

Baratelli, T.G. 2006. Estudo das propriedades alelopáticas vegetais: investigação de substâncias aleloquímicas em Terminalia catappa L. (Combretaceae). Tese (Doutorado em Química de Produtos Naturais). Universidade Federal do Rio de Janeiro. 199p.

Bechara, F.C. 2003. Restauração ecológica de restingas contaminadas por pinus no Parque Florestal do Rio Vermelho, Florianópolis, SC. Tese (Mestrado em Biologia Vegetal), Universidade Federal de Santa Catarina. 136p.

Brasil, 2000. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Disponível em: (Acesso em 04/11/11).

Bresolin, A. 1979. Flora da restinga da Ilha de Santa Catarina. Insula, 10: 1-54.

Carlton, J.T. 1996. Pattern, process, and prediction in marine invasion ecology. Biological Conservation 78: 97-106. 135 Biodiversidade Brasileira, 3(2); 118-136, 2013 Invasão Biológica em Restinga: O Estudo de caso de Ter

Castellani, T.T. & Santos, F.A.M. 2005. Abundância de ramos reprodutivos e produção de sementes em populações de Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br. Na Ilha de Santa Catarina Brasil. Acta Botânica Brasileira, 19(2): 251-264.

Castillo, S.A. & Moreno-Casasola, P. 1996. Coastal Sand Dune Vegetation: an Extreme Case of Species Invasion. Journal of Coastal Conservation, 2: 13-22.

Cecca – Centro de Estudos, Cultura e Cidadania. 1997. Unidades de conservação e áreas protegidas da Ilha de Santa Catarina: caracterização e legislação. Editora Insular. 160 p.

Dechoum, M.S. & Ziller, S.R. 2007. Planos de ação para controle de espécies exóticas invasoras em unidades de conservação. Anais do Congresso Latino Americano de Parques Nacionales y Otras Áreas Protegidas. CD-ROM.

Dechoum, M.S.; Ziller, S.R.; Chaves, R.R. & Plucenio, R.M. 2011. Invasive alien species management: defining control protocols in Brazil. Proceedings of the 2nd World Conference on Biological Invasions and Ecosystem Functioning. 94p.

Falkenberg, D.B. 1999. Aspectos da flora e da vegetação secundária da restinga de Santa Catarina, Sul do Brasil. Insula, 28: 1-30.

Fischer, M.L. & Colley, E. 2005. Espécie invasora em reservas naturais: caracterização da população de Achatina fulica Bowdich, 1822 (Molusca – Achatinidae) na Ilha Rasa, Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Biota Neotropica, 5: 1-18.

Foxcroft, L.C.; Richardson, D.M. & Wilson, J.R.U. 2008. Ornamental plants as invasive aliens: problems and solutions in Kruger National Park, South Africa. Environmental Management, 41: 32-51.

Fusverk, R.C. 2002. Diagnóstico ambiental e proposta de otimização e planejamento subsidiários ao programa de gerenciamento costeiro integrado da bacia hidrográfica do Rio Ratones, Ilha de Santa Catarina (SC, Brasil). Tese (Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas), Universidade Federal de Santa Catarina. 173p.

Gunn, C.R.B.; Katz, C.; Bradley, S.; Dennis, J.V. & Zies, P. 1997. The Drifting Seed, 3(1): 1-10. Instituto Hórus. 2011. Base de dados nacional sobre espécies exóticas invasoras. http://i3n. institutohorus.org.br (Acesso em 30 de outubro de 2011).

Jørgensen, R. & Kollmann, J. 2009. Invasion of Coastal Dunes by the Alien Shrub Rosa rugosa is Associated with Roads, Tracks and Houses. Flora, 204: 289-297.

Kaufman, R. & Kaufman, W. 2007. Invasive plants: a guide to identification and the impacts and control of common north American Species. Stackpole Books. 459 p.

Kolar, C.S. & Lodge, D.M. 2001. Progress in invasion biology: predicting invaders. Trends in Ecology and Evolution, 16: 199-204.

Krebs, C. J. 1989. Ecological methodology. Harper & Row. 654 p.

Leão, T.C.C., Almeida, W.R.; Dechoum, M. & Ziller, S.R. 2011. Espécies exóticas invasoras no nordeste do Brasil: contextualização, manejo e políticas públicas. Cepan, 101p.

Levine, J.M. 2000. Species diversity and biological invasions: relating local processes to community pattern. Science, 288: 761-63.

Levine, J.M. & D’Antonio, C.M. 1999. Elton revisited: a review of evidence linking diversity and invasibility. Oikos, 87: 15-26.

Lombardi, D. 2009. Zona de amortecimento: principal estratégia na contenção de ambientes descaracterizados e invasão de espécies vegetais exóticas na Estação Ecológica de Carijós. Relatório Final de Estágio (Graduação em Engenharia Agronômica). Universidade Federal de Santa Catarina. 131p.

Lonsdale, W.M. 1999. Global patterns of plant invasions and the concept of invasibility. Ecology, 80(5): 1522-1536.

Mabberley, D.J. 2008. Mabberley’s plant-book - a portable dictionary of plants, their classification and uses. Cambridge University Press, Cambridge. 1021 p.

Marco, D.E.; Paez, S.A. & Cannas, S. 2002. A. Species invasiveness in biological invasions: a Modeling Approach. Biological Invasions, 4: 193-205.

Mário, H.F.S.; Franco, D. & Guimarães, S.C. 2006. Contribuição ao estudo da dinâmica de marés e correntes na Baía de Florianópolis. Seminário e Workshop em Engenharia Sanitária. CD-ROM.

Martínez, M.L & Psuty, N.P. 1998. Coastal dunes: ecology and conservation. Ecological Studies, vol. 171. Springer. 386 p.

Nakanishi, H. 1988. Dispersal Ecology of the Maritime Plants in the Ryukyu Islands, Japan. Ecological Research, 3: 163-173.

Rejmánek, M.; Richardson, D.M.; Pysek, P. 2005. Plant invasions and invasibility of plant communities. In: Van der Maarel E. (ed.). Vegetation ecology. Blackwell Science. 373p.

Richardson, D.M.; Pysek, P.; Rejmánek, M.; Barbour, F.; Panetta, F.R. & West, C.J. 2000. Naturalization and invasion of alien plants: concepts and definitions. Diversity and Distributions, 6: 93-107.

Richardson, D.M. & Rejmánek, M. 2011. Trees and shrubs as invasive alien species – a global review. Diversity and Distributions, 17: 788-809.

Rosa, S.D. 2004. Morcegos (Chiroptera, Mammalia) de um remanescente de restinga, estado do Paraná, Brasil: ecologia da comunidade e dispersão de sementes. Tese (Mestrado em Zoologia). Universidade Federal do Paraná. 128p.

Sakai, A.K.; Allendrof, F.W.; Holt, J.S.; Lodge, D.M.; Molofsky, J.; With, K.A.; Baughman, S.; Cabin, R.J.; Cohen, J.E.; Ellstrand, N.C.; McCauley, D.E.; O’Neil, P.; Parker, I.M.; Thompson, J.N. & Weller, S.G. 2001. The population biology of invasive species. Annual Review of Ecology and Systematics, 32: 305-332.

Sanches, J.H; Magro, T.C. & Silva, D.F. 2007. Distribuição espacial de Terminalia catappa L. em área de restinga no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba, Ubatuba/SP. Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. CD-ROM.

Sanches, J.H. 2009. Potencial invasor do chapéu-de-sol (Terminalia catappa L.) em área de restinga. Tese (Mestre em Recursos Florestais. Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz. 84p.

Simberloff, D. 1999. The role of propagule pressure in biological invasions. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, 40: 81-102.

Scherer-Widmer, M. 2001. Dune revegetation with native species of restinga on the southern coast of Brazil. Journal of Coastal Research, 34: 593-596.

Souza, M.L.D.R.; Falkenberg, D.B.; Amaral, L.G.; Fronza, M.; Araújo, A.C. & Sá, M.R. 1991/1992. Vegetação do Pontal da Daniela, Florianópolis, SC, Brasil. I. Levantamento florístico e mapa fitogeográfico. Insula, 21: 87-117.

Tang, C.K. 2012. Malaysia’s weather data. Building energy efficiency technical guideline for passive design. 30p.

Thomson, L.A.J. & Evans, B. 2006. Terminalia catappa (Tropical Almond). Species profiles for pacific island agroforestry: permanent agriculture resources. 20p.

Weiss P.W. & Noble, I.R. 1984. Status of coastal dune communities invaded by Chrysanthemoides monilifera. Australian Journal of Ecology, 9: 93-98.

Zar, J.H. 1974. Biostatistical analysis. Englewood Clifs, N.J. Prentice-Hall. 620p.

Downloads

Publicado

08/03/2014