Proposta metodológica para padronização dos estudos de atitudes em comunidades adjacentes às unidades de conservação de proteção integral no Brasil

Autores

  • Chiara Bragagnolo Universidade Federal de Alagoas/UFAL, Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde/ICBS, Laboratório de Conservação no Século XXI, Maceió – AL, CEP 57072-970, Brasil
  • Norah Costa Gamarra Universidade Federal de Alagoas/UFAL, Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde/ICBS, Laboratório de Conservação no Século XXI, Maceió – AL, CEP 57072-970, Brasil
  • Ana Claudia Mendes Malhado Universidade Federal de Alagoas/UFAL, Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde/ICBS, Laboratório de Conservação no Século XXI, Maceió – AL, CEP 57072-970, Brasil
  • Richard James Ladle School of Geography and the Environment, University of Oxford, Dyson Perrins Building, South Parks Road, Oxford, OX1 3QY, Reino Unido

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i1.543

Palavras-chave:

comunidades locais, estudo de atitudes, Parque Nacional do Catimbau

Resumo

A eficácia em alcançar objetivos de conservação é considerada um dos maiores desafios para a gestão de áreas protegidas. No Brasil, as unidades de conservação (UCs) de proteção integral têm um papel fundamental para conservação da biodiversidade, porém, persistem os conflitos sociais. Estes são frequentemente associados a comportamentos individuais que podem comprometer os objetivos de conservação (caça, desmatamento, etc.), resultando em crimes ambientais locais nas UCs que demandam recursos da gestão que poderiam ser investidos em outros programas e ações preventivas e de manejo. Assim, é essencial compreender melhor os fatores que moldam os comportamentos dos membros das comunidades adjacentes às UCs, pois são os principais atores do território protegido. Sendo as atitudes determinantes importantes de comportamentos individuais, o estudo destas em relação às UCs pode ter um papel crucial na gestão, constituindo ferramenta para, por exemplo: (i) avaliar a concordância entre os valores de criação da UC e os das comunidades; (ii) apoiar a implementação e monitoramento de estratégias de mudança social em relação à conservação da biodiversidade; (iii) mitigar conflitos locais; (iv) fornecer indicadores para monitorar a efetividade de ações/programas de conservação e conscientização nas comunidades; e (v) contribuir para o manejo das zonas de amortecimento. Neste artigo propomos um método baseado em pesquisa socioambiental para padronizar o estudo de atitudes em comunidades adjacentes às UCs, com ênfase nas de proteção integral. O método conta com três etapas principais: (1) preparação do questionário para estudo das atitudes baseado num modelo geral elaborado a partir da revisão de literatura; (2) desenvolvimento de um protocolo de aplicação do questionário; e (3) aplicação nas comunidades do entorno de uma unidade de conservação. Neste estudo, a formulação genérica será apresentada junto à experiência de aplicação no Parque Nacional do Catimbau (PE). Os resultados do estudo de caso evidenciaram a posição das comunidades sobre o Parque e delinearam padrões comportamentais. Por exemplo, pessoas mais jovens mostraram-se mais positivas em relação ao Parque e os agricultores mais favoráveis ao uso dos recursos naturais (madeira, lenha seca, caça). Baseado nestes dados, uma maior inclusão da sociedade em atividades diretamente relacionadas à conservação (monitoramento de espécies invasoras, zoneamento participativo, etc.) e o desenvolvimento de programas de sensibilização e educação foram sugeridos aos gestores da UC para aproximar as comunidades e as pessoas que se mostraram menos positivas com relação ao Parque.

Referências

Ajzen, I. 1991. The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2): 179-211.

Allendorf, T.D. 2007. Residents’ attitudes toward three protected areas in southwestern Nepal. Biodiversity and Conservation, 16(7): 2087-2102.

Allendorf, T.; Swe, K.K.; Oo, T.; Htut, Y.; Aung, M.; Aung, M.; Allendorf, K.; Hayek, L.A.; Leimgrubek, P. & Wemmer, C. 2006. Community attitudes toward three protected areas in upper Myanmar (Burma). Environmental Conservation, 33(4): 344-352.

Anthony, B. 2007. The dual nature of parks: attitudes of neighbouring communities towards Kruger National Park, South Africa. Environmental Conservation, 34(3): 236-245

Balvanera, P.; Popa, F.; Quaas, M. & Keune, H. 2014. Preliminary guide regarding diverse conceptualization of multiple values of nature and its benefits, including biodiversity and ecosystem functions and services. Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services, Bonn: IPBES.

Baral, N. & Heinen, J.T. 2007. Resources use, conservation attitudes, management intervention and parkpeople relations in the Western Terai landscape of Nepal. Environmental Conservation, 34(1): 64-72.

Barreto, P. & Mesquita, M. 2009. Como prevenir e punir infrações ambientais em áreas protegidas na Amazônia? Imazon. 52p.

Bauer, H. 2003. Local perceptions of Waza National Park, northern Cameroon. Environmental Conservation, 30: 175-181.

Bernard, E.; Penna, L.A.O., & Araújo, E. 2014. Downgrading, Downsizing, Degazettement, and Reclassification of Protected Areas in Brazil. Conservation Biology, 28(2): 1523-1739.

Brechin, S.R.; Fortwangler, C.L.; Wilshusen, P.R. & West, P.C. 2003. Contested nature: promoting international biodiversity with social justice in the twenty-first century. Suny Press. 321p.

Brockington, D.; Duffy, R. & Igoe, J. 2008. Nature unbound: conservation, capitalism and the future of protected areas. Earthscan. 241p.

Cabral, M.M.; Venticinque, E.M. & Rosas, F.C.W. 2014. Percepção dos ribeirinhos com relação ao desempenho e à gestão de duas categorias distintas de unidades de conservação na Amazônia brasileira. Biodiversidade Brasileira, 4(1): 199-210.

Da Silva, E.M. & Bernard E. 2015. Inefficiency in the fight against wildlife crime in Brazil. Oryx (Oxford. Print), 49: 1-6.

Dahlberg, A.; Rohde, R. & Sandell, K. 2010. National Parks and Environmental Justice: Comparing Access Rights and Ideological Legacies in Three Countries. Conservation & Society, 8(3): 209.

Eagly, A.H. & Chaiken, S. 1993. The psychology of attitudes. Harcourt Brace Jovanovich College Publishers. 794p.

Eagly, A.H. & Chaiken S. 1998. Attitude structure and function. In D.T. Gilbert, S.T. Fiske and G. Lindzey (eds), The Handbook of Social Psychology (4th edn, Vol. 1, pp. 269-322). New York:McGraw-Hill.

Ferreira, M.N.E. & Freire, N.C. 2009. Community perceptions of four protected areas in the Northern portion of the Cerrado hotspot, Brazil. Environmental Conservation, 36(2): 129-138.

Fiallo, E.A. & Jacobson, S.K. 1995. Local communities and protected areas: attitudes of rural residents towards conservation and Machalilla National Park, Ecuador. Environmental Conservation, 22(3): 241-249.

Fishbein, M. & Ajzen, I. 1975. Belief, attitude, intention, and behavior: An introduction to theory and research. Addison-Wesley. 578p.

Fishbein, M. 1979. A theory of reasoned action: some applications and implications. In: Nebraska Symposium on Motivation. Nebraska Symposium on Motivation, (27) 65p.

Frome, M. 1998. Green Ink. An Introduction to Environmental Journalism. Salt Lake City: University of Utah Press. 148p.

Galante, M.L.V.; Beserra, M.M.L. & Menezes, E.O. 2002. Roteiro Metodológico de Planejamento – Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica. ICMBio. (Acesso em 17/10/2014).

Gifford, R. & Sussman, R. 2012. Environmental Attitudes. In: The Oxford Handbook of Environmental and Conservation Psychology, ed. S.D. Clayton, pp. 65-80. Oxford: Oxford University Press.

Harada, K. 2003. Attitudes of local people towards conservation and Gunung Halimun National Park in West Java, Indonesia. Journal of Forest Research, 8: 271-282.

Harmon, D. 2004. Intangible values of protected areas: What are they? Why do they matter? The George Wright Forum, 21(2): 9-22.

Heinen, J.T. & Shrivastava, R.J. 2009. An analysis of conservation attitudes and awareness around Kaziranga National Park, Assam, India: Implications for conservation and development. Population and Environment, 30(6): 261-274.

Holmes, C.M. 2003. The influence of protected area outreach on conservation attitudes and resource use patterns: a case study from western Tanzania. Oryx, 37(3): 305-315.

ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Categorias de Unidades de Conservação. Disponível em: (Acesso em 09/2015).

Infield, M. & Namara, A. 2001. Community attitudes and behaviour towards conservation: an assessment of a community conservation programme around Lake Mburo National Park, Uganda. Oryx, 35(1): 48-60.

Karanth, K.K.; Naughton-Treves, L.; DeFries, R. & Gopalaswamy, A.M. 2013. Living with Wildlife and Mitigating Conflicts Around Three Indian Protected Areas. Environmental Management, 52(6): 1320-1332.

Karanth, K.K. & Nepal, S.K. 2012. Local residents perception of benefits and losses from protected areas in India and Nepal. Environmental Management, 49(2): 372-386.

Ladle, R.J.; Jepson, P. & Gillson, L. 2011. Social Values and Conservation Biogeography, p. 13-30. In: Ladle, R.J. & Whittaker, R.J. (Editors) Conservation Biogeography. Oxford University Press, Oxford. 301p.

Lai, P.H. & Nepal, S.K., 2006. Local perspectives of ecotourism development in Tawushan Nature Reserve, Taiwan. Tourism Management, 27(6): 1117–1129.

Lee, T.M.; Sodhi, N.S. & Prawiradilaga, D.M. 2009. Determinants of local people’s attitude toward conservation and the consequential effects on illegal resource harvesting in the protected areas of Sulawesi (Indonesia). Environmental Conservation, 36(2): 157-170.

Leverington, F. 2011. Protected areas for the future. Companion document to Queensland’s biodiversity strategy, Building nature’s resilience. Department of Environment and Resource Management, Brisbane. 69p.

Lockwood, M.; Worboys, G. & Kothari, A. (Editors) 2006. Managing Protected Areas. A global guide. Earthscan. 807p.

Lúcio, S.L.B.; Pereira, L.E. C. & Ludewigs, T. 2014. O gado que circulava: desafios da gestão participativa de unidades de conservação nos gerais do norte de Minas. Biodiversidade Brasileira, 4(1): 130-155.

Medeiros, R. & Pereira, G.S. 2011. Evolução e implementação dos planos de manejo em parques nacionais no Estado do Rio de Janeiro. Revista Árvore, 35(2): 279-288.

Mendonça, F.C. & Talbot, V. 2014. Participação social na gestão de unidades de conservação: uma leitura sobre a contribuição do Instituto Chico Mendes. Biodiversidade Brasileira, 4(1): 211-234.

Menezes, D. 2014. Contribuições da relação entre comunicação e educação ambiental para a gestão participativa de unidades de conservação. Biodiversidade Brasileira, 4(1): 3-16.

Milgroom, J.; Giller, K.E. & Leeuwis, C. 2014. Three interwoven dimensions of natural resource use: quantity, quality and access in the great Limpopo Transfrontier Conservation Area. Hum. Ecol., 1-17.

Nelson, M.P. & Vucetich, J.A. 2009. On advocacy by environmental scientists: what, whether, why, and how. Conservation Biology, 23(5): 1090-1101.

Nepal, S. & Spiteri, A. 2011. Linking livelihoods and conservation: An examination of local residents’ perceived linkages between conservation and livelihood benefits around Nepal’s Chitwan National Park. Environmental Management, 47(5): 727-738.

Newing, H.S. 2011. Conducting research in conservation: a social science perspective. Routledge, London and New York. 378 p.

Pimentel, D.S. 2008. Os “parques de papel” e o papel social dos parques. Tese (Doutorado em Recursos Florestais). Universidade de São Paulo. 254p.

Rangarajan, M. & Shahabuddin, G. 2006. Displacement and relocation from protected areas: Towards a biological and historical synthesis. Conservation and Society, 4(3): 359.

Sirivongs, K. & Tsuchiya, T. 2012. Relationship between local residents’ perceptions, attitudes and participation towards national protected areas: A case study of Phou Khao Khouay National Protected Area, central Lao PDR. Forest Policy and Economics, 21: 92-100.

SNE (Sociedade Nordestina de Ecologia). 2002. Projeto Técnico para a Criação do Parque Nacional do Catimbau/PE – Subprojeto “Proposta para Criação do Parque Nacional do Catimbau/PE”. Relatório técnico. 151p.

St John, F.A.; Edwards-Jones, G. & Jones, J.P. 2010. Conservation and human behaviour: lessons from social psychology. Wildlife Research, 37(8): 658-667.

Struhsaker, T.T.; Struhsaker, P.J. & Siex, K.S. 2005. Conserving Africa’s rain forests: problems in protected areas and possible solutions. Biological Conservation, 123(1): 45-54.

TCU (Tribunal de Contas da União). 2014. Avaliação de ações governamentais referentes à implementação das políticas de conservação da biodiversidade na América Latina. Relatório de Auditoria (TC 006.762/2014-0). 53p.

Walpole, M.J. & Goodwin, H.J. 2001. Local attitudes towards conservation and tourism around Komodo National Park, Indonesia. Environmental Conservation, 28(2): 160-166.

Waylen, K.A.: McGowan, P.J. & Milner-Gulland, E. 2009. Ecotourism positively affects awareness and attitudes but not conservation behaviours: a case study at Grande Riviere, Trinidad. Oryx, 43(3): 343-351.

Wilkinson, C. & Weitkamp, E. 2013. A case study in serendipity: environmental researchers use of traditional and social media for dissemination. Plos One, 8(12): 1-9.

Downloads

Publicado

07/03/2016

Edição

Seção

Pesquisa e manejo de Unidades de Conservação

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)