Monitoramento de borboletas: o papel de um indicador biológico na gestão de unidades de conservação

Autores

  • Jessie Pereira Santos Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, CP 6109, Campinas–SP
  • Onildo João Marini-Filho Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Caatinga, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, SMDB Área Especial Estação Ecológica, Conjunto 12, Lago Sul, BrasÍlia–DF, CEP 71680-001
  • André Victor Lucci Freitas Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, CP 6109, Campinas–SP, CEP 13083-970
  • Márcio Uehara-Prado Instituto Neotropical: Pesquisa e Conservação. CP 19009, Curitiba–PR, CEP 81531-980

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i1.569

Palavras-chave:

áreas protegidas, Bioindicadores, diversidade genética, efetividade de conservação

Resumo

Programas de monitoramento podem ser considerados boas estratégias para avaliação continuada da qualidade de habitats ao longo do tempo. Entretanto, para que seu emprego tenha êxito, é necessário um sistema capaz de gerir e administrar as atividades a longo prazo de modo a produzir dados confiáveis e que possam ser utilizados no planejamento de ações mitigatórias. Em regiões de zonas temperadas as iniciativas de monitoramento têm gerado resultados satisfatórios, mas no Brasil, frente à grande diversidade biológica e extensão territorial, o desafio de estabelecer um programa de monitoramento efetivo tem se mostrado um obstáculo a ser vencido. Considerando as constantes ameaças que o desenvolvimento econômico impõe sobre a causa ambiental no Brasil, as unidades de conservação têm sofrido pressões de diversas naturezas, as quais certamente comprometem sua efetividade em relação à conservação dos habitats naturais. Neste artigo se discute a utilização de borboletas como indicadores biológicos e as características que as tornam um dos melhores grupos para ser incluído em programas de monitoramento. Adicionalmente, descreve-se de que modo as borboletas podem auxiliar a gestão das unidades de conservação e do monitoramento, utilizando o exemplo do “Programa de Monitoramento in situ da Biodiversidade”. Por meio da inclusão da sociedade em atividades de sensibilização e envolvimento, seja no ensino das técnicas de coleta de dados ou do exercício do contato direto com as borboletas, esses pequenos organismos são capazes tanto de gerar respostas rápidas para avaliar a qualidade dos habitats quanto de servir como uma ferramenta de apoio para a manutenção de programas de monitoramento no Brasil.

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Publicado

07/03/2016

Edição

Seção

Pesquisa e manejo de Unidades de Conservação