Governança ou tragédia dos comuns? considerações sobre a gestão da caça em unidades de conservação de uso sustentável no Brasil

Autores

  • Rachel Acosta Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, Parque Nacional do Jaú, Novo Airão/AM, 69470-000, Brasil e Universidade de Brasilia/UnB, Centro de Desenvolvimento Sustentável/CDS, Brasília/DF, Brasil.
  • Cristiane Gomes Barreto Universidade de Brasilia/UnB, Centro de Desenvolvimento Sustentável/CDS, Brasília/DF, Brasil.
  • Juarez Pezzuti Universidade Federal do Pará/UFPA, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/NAEA, Campus do Guama, CEP 66075-110, Belém, PA, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v8i1.782

Palavras-chave:

Co-gestão, instituições formais e informais, manejo de fauna

Resumo

Nas últimas décadas, as contribuições da área de estudo dos recursos de uso comum foram importantes para avançar no entendimento de como realizar uma gestão comum de recursos naturais sem incorrer na tragédia dos comuns, ou seja, sem levar ao esgotamento do recurso. As instituições formais e informais têm um papel fundamental na gestão dos recursos, visto que as regras podem funcionar como medidas de regulação eficientes. Alguns fatores são considerados básicos para garantir uma gestão eficiente, principalmente no que se refere a garantia dos direitos de acesso e uso e à co-gestão do recurso. Nesse sentido, destacam-se a clareza de definição sobre o recurso e seus usuários, o reconhecimento de direitos dos usuários e o monitoramento do recurso, dentre outros fatores. No caso da caça de subsistência – atividade comumente praticada em unidades de conservação de uso sustentável no Brasil, como todo uso comum, também deve ser regulada para que a co-gestão possa ter sucesso no que se refere à aliar a necessidade de conservação das espécies com as necessidades dos usuários locais do recurso. Contudo, a atual legislação brasileira dificulta a implementação de medidas de gestão e manejo. A caça no Brasil ainda é um tema polêmico e controverso juridicamente e, dessa forma, a fauna cinegética acaba ficando sujeita ao livre acesso e, assim, propícia à tragédia dos comuns.

Referências

Agrawal, A. 2002. Common resources and institucional sustainability, p. 41-85. In: Ostrom, E.E.; Dietz, T.E.; Dolšak, N.E.; Stern, P.C.; Stonich, S.E. & Weber, E.U. (orgs.). The drama of the commons. National Academy Press. 534p.

Armitage, D.; Berkes, F. & Doubleday, N. 2007. Introduction: moving beyond comanagement, p. 1-16. In: Armitage, D.; Berkes, F. & Doubleday, N. (orgs.). Adaptive co-management: collaboration, learning and multi-level governance. UBC Press. 344p.

Armitage, D.R.; Plummer, R.; Berkes, F.; Arthur, R.I.; Charles, A.T.; Davidson-Hunt, I.J.; Diduck, A.P.; Doubleday, N.C.; Johnson, D.S.; Marschke, M. & McConney, P. 2009. Adaptive co-management for social– ecological complexity. Frontiers in Ecology and the Environment, 7(2): 95-102.

Axelrod, R. 1984. The Evolution of Cooperation. Basic Books. 243p.

Berkes, F. 2002. Cross-scale institutional linkages form commons management: perspectives from the bottom up, p. 293-321. In: Ostrom, E.E.; Dietz, T.E.; Dolšak, N.E.; Stern, P.C.; Stonich, S.E. & Weber, E.U. (orgs). The drama of the commons. National Academy Press. 534p.

Berkes, F. 2004. Rethinking community based conservation. Conservation Biology, 18(3): 621-630.

Bodmer, R. & Puertas, P.E. 1999. Community-based comanagement of wildlife in the Peruvian Amazon, p. 395-409. In: Robinson, J.G. & Bennett, E.L. (orgs.). Hunting for sustainability in tropical forests. Columbia University Press.

Brasil, 1967. Lei n° 5.197, de 3 de janeiro de 1967. Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências. Diário Oficial da União. (Acesso em: 01/09/2017). Brasil, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. (Acesso em: 01/09/2017).

Brasil, 1998. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União. (Acesso em: 01/09/2017).

Brasil, 2000. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. (Acesso em: 18/01/2018).

Brasil, 2003. Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da União. (Acesso em: 18/01/2018).

Brasil, 2007. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Diário Oficial da União. (Acesso em: 04/07/2018).

Bursztyn, M.A.; Bursztyn, M. 2012. Fundamentos de política e gestão ambiental: caminhos para a sustentabilidade. Garamond. 604p.

Capelari, M.G.M.; de Araújo, S.M.V.G. & Calmon, P.C.D.P. 2017. Vincent e Elinor Ostrom: Duas Confluentes Trajetórias para a Governança de Recursos de Propriedade Comum. Ambiente & Sociedade, 20(1): 203-222.

Caputo, F.P.; Canestrelli, D. & Boitani, L. 2005. Conserving the terecay (Podocnemis unifilis, Testudines: Pelomedusidae) through a community-based sustainable harvest of its eggs. Biological Conservation, 126(1): 84-92.

Carlsson L. & Berkes F. 2005. Co-management: concepts and methodological implications. Journal of Environmental Management, 75: 65-76.

Child, B. 2009. Community conservation in southern Africa: Rights-based natural resource management, p. 187-200. In: Suich, H.; Child, B. & Spenceley, A. Evolution and Innovation in Wildlife Conservation. Parks and Game Ranches to Transfrontier Conservation Areas. Earthscan. 462p.

Child, B. & Barnes, G. 2010. The conceptual evolution and practice of community-based natural resource management in southern Africa: past, present and future. Environmental Conservation, 37(3): 283-295.

Child, G. 2013. Growth of Modern Nature Conservation in Southern Africa. p. 7-27. In: Child, B. (ed.). Parks in Transition: Biodiversity, Rural Development and the Bottom Line. Routledge. 267p.

Cox, M.; Arnold, G. & Tomás, S.V. 2010. A Review of Design Principles for Community-Based Natural Resource Management. Ecology and Society, 15(4): 38.

Dietz, T.; Dolsak, N.; Ostrom, E. & Stern, P.C. 2002. The drama of the commons, p. 3-35. In: Ostrom, E.E.; Dietz, T.E.; Dolšak, N.E.; Stern, P.C.; Stonich, S.E. & Weber, E.U. (orgs). The drama of the commons. National Academy Press. 534p.

Feeny, D.; Berkes, F.; McCay, B.J. & Acheson, J.M. 1990. The tragedy of the commons: twenty-two years later. Human Ecology, 18(1): 1-9.

Folke, C.; Carpenter, S.; Elmqvist, T.; Gunderson, L.; Holling, C.S. & Walker, B. 2002. Resilience and sustainable development: building adaptive capacity in a world of transformations. AMBIO: A journal of the human environment, 31(5): 437-440.

Hardin, G. 1968. The tragedy of the commons. Science, 162: 1243-1248.

Jones, B. & Weaver, C. 2009. CBNRM in Namibia: growth, trends, lessons and constraints, p. 223-242. In: Suich, H.; Child, B. & Spenceley, A. Evolution and Innovation in Wildlife Conservation. Parks and Game Ranches to Transfrontier Conservation Areas. Earthscan. 481p.

Lele, S. 2008. Interdisciplinarity as a three-way conversation: Barriers and possibilities. The Contested Commons: Conversations between Economists and Anthropologists. Blackwell, 187-207.

McGinnis, M.D. & Ostrom, E. 2014. Social-ecological system framework: initial changes and continuing challenges. Ecology and Society, 19(2): 30. North, D. 1991. Institutions. The Journal of Economic Perspectives, 5(1): 97-112.

Novaro, A.J.; Redford, K.H. & Bodmer, R.E. 2000. Effect of hunting in source-sink systems in the neotropics. Conservation Biology, 14(3): 713-721.

Olsson, P.; Folke, C. & Berkes, F. 2004. Adaptive comanagement for building resilience in social–ecological systems. Environmental management, 34(1): 75-90.

Ostrom, E. 1986. An agenda for the study of institutions. Public Choice, 48(1): 3-25.

Ostrom, E. 1990. Governing the Commons: the Evolution of Institutions for Collective Action. Cambridge University Press.

Ostrom, E. 2005. Understanding institutional diversity. Princeton University Press. 376p.

Ostrom, E. 2007. A diagnostic approach for going beyond panaceas. Proceedings of the national Academy of sciences, 104(39): 15181-15187.

Ostrom, E. 2009. A General Framework for Analyzing Sustainability of Social-Ecological Systems. Science, 325, 419.

Ostrom, E. & Cox, M. 2010. Moving beyond panaceas: a multi-tiered diagnostic approach for socialecological analysis. Environmental Conservation, p. 1-13.

Peres, C.A. 2000. Effects of subsistence hunting on vertebrate community structure in Amazonian forests. Conservation Biology, 14(1): 240-253.

Peres, C.A. 2011. Conservation in Sustainable-Use Tropical Forest Reserves. Conservation Biology, 25(6): 1124-1129.

Pezzuti, J.C.B. 2009. Manejo de caça e conservação fauna silvestre com participação comunitária. Paper NAEA, 235.

Pomeroy, R.S. & Berkes, F. 1997. Two to tango: the role of government in fisheries comanagement. Marine Policy, 21: 465-480. Robinson, J.G. & Bodmer, R.E. 1999. Towards wildlife management in tropical forests. The Journal of wildlife management, 1-13.

Robinson, J.G. & Bennett, E.L. 1999. Carrying capacity limits to sustainable hunting in tropical forests, p. 13-30. In: Robinson, J.G. & Bennett, E.L. (orgs). Hunting for sustainability in tropical forests. Columbia University Press. 1.000p.

Schlüter, A. & Madrigal, R. 2012. The SES framework in a marine setting: methodological lessons. Rationality, Markets and Morals, 3: 148-167.

Trimble, M. & Berkes, F. 2015. Towards adaptive co-management of small-scale fisheries in Uruguay and Brazil: lessons from using Ostrom’s design principles. Maritime Studies, 14(1): 1-20.

Vieira, M.A.R.; von Muhlen, E.M. & Shepard, G.H. 2015. Participatory monitoring and management of subsistence hunting in the Piagaçu-Purus reserve, Brazil. Conservation and Society, 13(3): 254.

Downloads

Publicado

09/05/2018

Edição

Seção

Caça: subsídios para gestão de unidades de conservação e manejo de espécies (v. 1)