Calendário de caça na gestão da fauna cinegética amazônica: implicações e recomendações

Autores

  • Rosenil Dias Oliveira Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais/ CNPT, Rua Henrique Dias nº162, Bosque, Rio Branco-AC, Brasil, 69.900-568.
  • Armando Muniz Calouro Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, Campus Rio Branco, Rodovia BR 364, Km 04, s/n, Distrito Industrial, Rio Branco-AC, Brasil, 69.920-900
  • André Luis Moura Botelho Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Acre, Campus Rio Branco, Av. Brasil, nº920, Xavier Maia, Rio Branco-AC, Brasil, 69.903-068.
  • Marcela Alvares Oliveira Faculdades Integradas Aparício Carvalho, Curso de Ciências Biológicas, Porto Velho-RO, Brasil, 76.811-678.

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v8i2.788

Resumo

A atividade de caça tida como de subsistência é de grande importância para as famílias
residentes no interior da Floresta Amazônica, pois é uma das principais fontes de obtenção de proteína e gordura, além de espelhar aspectos socioculturais e econômicos das famílias, vinculados a essa atividade. Como toda exploração de recurso natural, se feita de forma desordenada, a prática da caça pode levar ao esgotamento do recurso natural, acarretar redução populacional e até extinção local de algumas espécies, bem como comprometer processos ecológicos importantes, sem falar das perdas das relações socioculturais
da região. Este estudo apresenta aspectos metodológicos da ferramenta denominada Calendário de Caça, que visa obter informações, a partir de dados terciários, relacionadas à pressão de caça sobre as espécies cinegéticas praticadas por povos e comunidades tradicionais com fins de subsistência, ou seja, aquela para o abastecimento proteico familiar. Essa metodologia foi aplicada de forma bem-sucedida nas Reservas Extrativistas do Cazumbá-Iracema e do Alto Tarauacá em 2010 e 2012, respectivamente, no estado do
Acre. O calendário é composto por pranchas de animais silvestres cinegéticos reconhecidamente existentes na área amostral, a partir de uma construção conjunta e interativa com a população tradicional pesquisada. O calendário permite identificar os táxons mais visados, quantificar os indivíduos abatidos e a respectiva biomassa, pressão de caça média exercida pelo morador e sua família, conhecer a seletividade de táxon
por caçada, bem como o rendimento por tipo de caçada. Ela tem se mostrado ser bastante eficiente na caracterização e monitoramento da pressão de caça em áreas longínquas da Amazônia, e seu caráter de participação e envolvimento comunitário, contribui na qualidade dos dados e na gestão do recurso.

Biografia do Autor

Rosenil Dias Oliveira, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais/ CNPT, Rua Henrique Dias nº162, Bosque, Rio Branco-AC, Brasil, 69.900-568.

Bióloga, Doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos, SP.

Armando Muniz Calouro, Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, Campus Rio Branco, Rodovia BR 364, Km 04, s/n, Distrito Industrial, Rio Branco-AC, Brasil, 69.920-900

Ecólogo, Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos, SP.

André Luis Moura Botelho, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Acre, Campus Rio Branco, Av. Brasil, nº920, Xavier Maia, Rio Branco-AC, Brasil, 69.903-068.

Biólogo, Mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal do Acre.

Marcela Alvares Oliveira, Faculdades Integradas Aparício Carvalho, Curso de Ciências Biológicas, Porto Velho-RO, Brasil, 76.811-678.

Bióloga, Mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal do Acre.

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Publicado

09/05/2023

Edição

Seção

Caça: subsídios para a gestão de unidades de conservação e manejo de espécies (v. 2)