<b> Caracterização do uso da fauna silvestre para subsistência em uma unidade de conservação no Oeste do Pará </b>

Autores

  • Yasmin Sampaio Reis Universidade Federal do Pará (UFPA)/ Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
  • João Valsecchi Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM)
  • Helder Queiroz Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM)/ Universidade Federal do Pará (UFPA)/ Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v8i2.796

Resumo

Na Amazônia, a caça é amplamente praticada pelas comunidades tradicionais, constituindo uma das poucas fontes proteicas e de gordura animal disponíveis. Da mesma forma, essa é uma das atividades extrativistas mais importantes para as comunidades locais da Reserva Extrativista (RESEX) Tapajós-Arapiuns. Este estudo objetivou compreender e descrever o uso da fauna nessa unidade de conservação, localizada no oeste do Pará. Trata-se do primeiro produto dos dados do Projeto de Monitoramento da Caça de Subsistência na RESEX Tapajós-Arapiuns. Pelo menos 25 espécies de animais foram alvo da caça nas oito comunidades monitoradas. A caça de subsistência monitorada na RESEX Tapajós-Arapiuns seguiu o principal padrão descrito para a Amazônia, no qual mamíferos de médio e grande porte são os mais abatidos, como os ungulados dos gêneros Mazama, Tayassu e Pecari, roedores cavimorfos (Dasyprocta spp. e Cuniculus paca) e os Dasipodídeos. Répteis e aves também tiveram participação importante no abate, sendo os primeiros representados, sobretudo, pelos quelônios terrestres (Chelonoidis spp.), e as aves pelas espécies das famílias Cracídae, Psittacidae e Tinamídae. No ano de estudo, registramos 881 eventos de caça realizados, sendo 691 deles bem-sucedidos. Foram abatidos 1.203 animais, com uma média de 1,74 indivíduos por evento de caça – aproximadamente 10.600kg de biomassa abatida. Os eventos de caça ocorreram, em sua maioria, com o uso de armas de fogo, e o deslocamento dos caçadores foi feito principalmente a pé, em busca ativa de espécies de interesse pelo interior da floresta. Mesmo que proibida, a caça com auxílio de cachorros ainda ocorre na área dessa unidade de conservação.

Biografia do Autor

Yasmin Sampaio Reis, Universidade Federal do Pará (UFPA)/ Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)

Mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Pará e Museu Paraense Emílio Goeldi. Pesquisadora parceira ao Projeto de Monitoramento da Biodiversidade com Relevância para o Clima do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Bióloga atuando na área de Ecologia e Conservação de Animais Silvestres, com ênfase na Sustentabilidade da Caça nas regiões do Tapajós e Arapiuns.

João Valsecchi, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM)

Diretor Técnico-Científico do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Líder do Grupo de Pesquisa em Ecologia de Vertebrados Terrestres e Curador da Coleção de Material Biológico da Instituição. Atua principalmente na área de pesquisa e conservação da fauna silvestre com ênfase na fauna cinegética, ecologia e conservação de mamíferos.

Helder Queiroz, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM)/ Universidade Federal do Pará (UFPA)/ Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)

Diretor Geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. É membro do Programa de Pós-graduação em Zoologia (UFPA/MPEG). Integra os quadros da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). Tem experiência e atuação em Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, aplicando resultados de pesquisas em subáreas de Ecologia (autoecologia e sinecologia), com ênfase maior nos grupos de Peixes e Mamíferos. Atua também na área da Ecologia de Florestas Alagadas, e na de Conservação da Biodiversidade Amazônica, com ênfase principalmente na Conservação in-situ nas Unidades de Conservação na Amazônia.

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Publicado

09/05/2023

Edição

Seção

Caça: subsídios para a gestão de unidades de conservação e manejo de espécies (v. 2)

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