O fogo como facilitador da invasão biológica por Megathyrsus maximus (Poaceae: Panicoideae) na Terra Indígena Maxakali (MG): propostas para um manejo agroecológico integrado e adaptativo

Authors

  • Marco Túlio da Silva Ferreira Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas/UFMGNúcleo de Pesquisas Transdisciplinares Literaterras, Faculdade de Letras/UFMG
  • Paulina Maria Maia-Barbosa Laboratório de Ecologia do Zooplâncton, Instituto de Ciências Biológicas/UFMG

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v3i2.348

Keywords:

fire regime, guinea-grass, indigenous land, maxakali

Abstract

Indigenous lands are instruments for territorial protection that have been effectively contributing
for biodiversity conservation on Brazil, especially in the Amazon region. In the Atlantic rainforest, however,
not only the indigenous lands are fewer in number, they are also considerably smaller in geographic extension,
when compared to the Amazon. The Maxakali indigenous land, located at northeastern Minas Gerais, in a
transition zone between the coastal humid and the seasonal semi-deciduous Atlantic phytophysiognomies
may serve as a biodiversity refuge in a widely deforested region. However, for such to happen, first it is needed to address the problem of biological invasion of guinea-grass (Megathyrsus maximus). This species
was introduced in the area during the first half of the XXth century, and today it is widespread over a major
portion of the territory, suppressing the return of the forest, due to the changes it has brought to the local fire
regime. In case they receive adequate technical, financial, pedagogical and psychological support from the
academy, public policies and civil society, the maxakali may become important allies in the recovery and
conservation of this secularly exploited biome called Atlantic forest. Herein, we compile some information
about the historical process of biological invasion in the Maxakali territory. We aim to point out some strategies
for the invasive African grass control, in order to return the socio-ecological resilience axis back to that of a
forested agroecosystem, and establish the basis of an adaptive, integrated agroecological approach

Author Biographies

Marco Túlio da Silva Ferreira, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas/UFMGNúcleo de Pesquisas Transdisciplinares Literaterras, Faculdade de Letras/UFMG

Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2008), mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela mesma instituição (2012). Principais experiências são na área de Ecologia Humana (Antropologia Ecológica e Agroecologia), incluindo-se os temas: ecologia histórica neotropical; gestão ambiental comunitária em terras indígenas; manejo sustentável de agroecossistemas florestais; educação ambiental intercultural; metodologias de campo e teorias ecológicas. Interesses de pesquisa atuais incluem manejo, domesticação e cognição/classificação da agrobiodiversidade e da paisagem por culturas sul-americanas, e direitos de propriedade intelectual sobre conhecimentos associados à biodiversidade.

Paulina Maria Maia-Barbosa, Laboratório de Ecologia do Zooplâncton, Instituto de Ciências Biológicas/UFMG

Graduada em História Natural pela Universidade Federal de Minas Gerais (1975), mestrado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (1982) e doutorado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Minas Gerais, onde desenvolve pesquisas e orienta nas seguintes áreas: Limnologia, Ecologia do zooplâncton e Educação Ambiental. Participa como professora e orientadora do curso de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (UFMG). É revisora dos seguintes periódicos: Brazilian Journal of Biology , Arquivos de Biologia e Tecnologia (TECPAR), Acta Limnologica Brasiliensia e Acta Scientiarum. Consultora ad hoc da Fapesb. É coordenadora do Pro-Licenciatura da UFMG (ensino à distância do curso de Ciências Biológicas - Licenciatura)

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Published

08/03/2014