Biomassa combustível em campo sujo no entorno do Parque Nacional da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil

Autores

  • Abel Augusto Conceição Universidade Estadual de Feira de Santana/ UEFS, Universidade de São Paulo/ USP
  • Vânia Regina Pivello Universidade de São Paulo/ USP, Instituto de Biociências, Departamento de Ecologia, Laboratório da Paisagem e Conservação. São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v1i2.112

Resumo

A Chapada Diamantina é uma região montanhosa de interesse especial para conservação, pois possui elevada biodiversidade e é sujeita a incêndios frequentes, cujos efeitos ainda não estão bem avaliados. O presente estudo objetivou quantificar a biomassa vegetal aérea em campo sujo, dois anos após um incêndio, e avaliar se esse período permite acúmulo suficiente de biomassa para a queima dessa vegetação, e em caso positivo, estimar a proporção de biomassa consumida pelo fogo. Visou também caracterizar a composição de famílias de plantas vasculares e a distribuição vertical do combustível. O campo sujo situa-se na Área de Proteção Ambiental Marimbus-Iraquara, circundante ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, representando um encrave de fitofisionomias de cerrado sensu lato dentro do bioma Caatinga. A amostragem no campo sujo foi estratificada em áreas de campo sem arbustos e árvores (C), em manchas de arbustos e arvoretas (AA) e em áreas sem arbustos e árvores, mas com subarbustos (S), utilizando-se 20 parcelas de 1m x 1m, nas quais foram determinadas as porcentagens de cobertura e alturas das morfoespécies, discernidas em famílias de plantas. A biomassa vegetal aérea foi coletada em 10 parcelas, separando-se entre fina (até 0,3cm de diâmetro) e grossa (mais de 0,3cm de diâmetro). Após isso, foram realizadas duas queimadas experimentais, coletando-se a biomassa aérea restante nas outras 10 parcelas. Análises de variância foram utilizadas para as comparações. A biomassa em C foi 491,6g m-2, em S 530g m-2 e em AA 1.395,3g m-2. A biomassa fina é contínua e essencialmente constituída de plantas da família Poaceae, sendo em grande parte consumida pelas queimadas (95 a 97%), enquanto que a maior parte do combustível grosso não foi consumida, constituído principalmente de plantas da família Fabaceae nas manchas de arbustos e arvoretas, mais altas e heterogêneas. A alta inflamabilidade do campo sujo estudado e a curta distância deste ao Parque Nacional Chapada Diamantina demonstram a necessidade da inclusão das áreas campestres circundantes nas ações de combate e prevenção de incêndios nessa região. 

Referências

APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society, 161: 105-121.

Baker, W.L. 2009. Fire ecology in Rocky Mountain landscapes. Island, Washington, EUA. 605p

Baruch, Z. & Bilbao, B. 1999. Effects of fire and defoliation on the life history of native and invader C4 grasses in a Neotropical savanna. Oecologia, 119: 510-520.

Bilbao, B.; Leal, A.; Méndez, C. & Delgado-Cartay, M.D. 2009. The role of fire in the vegetation dynamics of upland savannas of the Venezuelan Guayana. Pp. 451-480. In: Cochrane, M.A. (ed.). Tropical fire ecology: climate change, land use, and ecosystem dynamics. Spriger-Praxis, Chichester, UK. 645p.

Blydenstein, J. 1968. Burning and Tropical American Savannas. Pp. 1-14. In: Komarek, R. (ed.). Proceedings Annual Tall Timbers Fire Ecology Conference, Tallahassee, Florida. 285p.

Bond, W.J.; Woodward, F.I. & Midgley, G.F. 2005. The global distribution of ecosystems in a world without fire. New Phytologist, 165: 525-538.

Brito, J.C. 2011. Efeitos do fogo sobre a vegetação em duas áreas de campo rupestre na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica). Universidade Estadual de Feira de Santana.

Brower, J.E.; Zar, J.H. & Ende von, C.N. 1998. Field and laboratory methods for general ecology. MacGraw-Hill, New York. 273p.

Canales, M.J. & Silva, J.F. 1987. Efecto de una quema sobre el crecimiento y demografía de vástagos en Sporobolus cubensis. Acta Oecologica, 8(3): 391-401.

Canales, J.; Trevisan, M.C.; Silva, J.F. & Caswell, H. 1994. A demographic study of an annual grass (Andropogon brevifolius Schwarz) in burnt and unburnt savanna. Acta Oecologica, 15(3): 261-273.

Cardoso, E.L.; Crispim, S.M.A.; Rodrigues, C.A.G. & Baroni Jr, W. 2000. Biomassa aérea e produção primária do estrato herbáceo em campo de Elyonurus muticus submetido à queima anual, no Pantanal. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 35(8): 1501-1507.

Castro.E.A. & Kauffman, J.B. 1998. Ecosystem structure in the Brazilian Cerrado: a vegetation gradient of above-ground biomass, root biomass and consumption by fire. Journal of Tropical Ecology, 14: 263- 283.

Chapin, F.S. 1983. Patterns of nutrient absorption and use by plants from natural and man-modified environments. Pp. 175-187. In: Mooney, H.A. & Godron, M. (eds.). Disturbance and ecosystems, components of response. Springer-Verlag, Berlin. 292p.

Cianciaruso, M.V.; Silva, I.A. & Batalha, M.A. 2010. Aboveground biomass of functional groups in the ground layer of savannas under different fire freuquencies. Australian Journal of Botany, 58: 169-174.

Cochrane, M.A. & Ryan, K.C. 2009. Fire and fie ecology: concepts and principles. Pp. 25-62. In: Cochrane, M.A. (ed.) Tropical fire ecology: climate change, land use, and ecosystem dynamics. Spriger Praxis, Chichester, UK. 645p.

Conceição, A.A. & Giulietti, A.M. 2002. Composição florística e aspectos estruturais de campo rupestre em dois platôs do Morro do Pai Inácio, Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Hoehnea, 29(1): 37-48.

Conceição, A.A. & Pirani, J.R. 2005. Delimitação de habitats em campos rupestres na Chapada Diamantina: substratos, composição florística e aspectos estruturais. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo, 23(1): 85-111.

Conceição, A.A. & Costa, G.M. 2009. Efeitos do fogo na vegetação de campos rupestres da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Pp. 1466-1472. In: Moura, C.W.N.; Silva, T.R.S.; Giulietti-Harley, A.M. & Santos, F.A.R. (orgs.). Anais 60o Congresso Nacional de Botânica. Botânica brasileira: futuro e compromissos. Feira de Santana, Bahia. EDUNEB, Salvador. 1485p.

Costa, G.M.C.; Funch, L.S.; Conceição, A.A. & Moraes, A.C.S. 2009. Composição florística e estrutura de cerrado sentido restrito na Chapada Diamantina, Palmeiras, Bahia, Brasil. Sitientibus Série Ciências Biológicas, 9(4): 245-254.

Costa, G.M.C. 2010. Regeneração da vegetação campestre sob distúrbio de fogo na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica). Universidade Estadual de Feira de Santana.

Coutinho, L.M. 1990. Fire in the ecology of the Brazilian Cerrado. Pp.82-105. In: Goldammer, J.G. (ed.) Fire in the tropical biota: ecosystem, processes and global challenges. Springer-Verlag, Berlim. 497p.

França, H.; Ramos-Neto, M.B. & Setzer, A. 2007. O fogo no Parque Nacional das Emas. Série Biodiversidade 27. Ministério do Meio Ambiente, Brasilia, Brasil. 140p.

Funch, R.R.; Harley, R.M. & Funch, L.S. 2009. Mapping and evaluation of the state of conservation of the vegetation in and surrounding the Chapada Diamantina National Park, NE Brazil. Biota Neotropica, 9(2): 21-30.

Gardner, T.A. 2006. Tree-grass coexistence in the Brazilian cerrado: demographic consequences of environmental intability. Journal of Biogeography, 33: 448-463.

Grillo, A.S. 2000. Aspectos pedológicos, ecológicos e florísticos de uma área de cerrado no município de Palmeiras, Chapada Diamantina, Bahia. Dissertação (Mestrado em Botânica). Universidade de São Paulo, São Paulo. Grillo, A.S. 2008. Cerrado: áreas do Cercado e do Morro do Camelo. Pp. 87-101. In: Funch, L.S.; Funch, R.R. & Queiroz, L.P. (eds.). Serra do Sincorá: Parque Nacional da Chapada Diamantina. Radami, Feira de Santana. 251p.

Harley, R.M. 1995. Introduction. Pp. 1-42. In: Stannard, B.L. (ed.). Flora of the Pico das Almas, Chapada Diamantina,Bahia, Brazil. Royal Botanic Gardens, Kew.

Harley, R.M., Giulietti, A.M., Grillo, A.S., Silva, T.R.S., Funch, L., Funch, R.R., Queiros, L.P., França, F., Melo, E., Gonçalves, C.N. & Nascimento, F.H.F. 2005. Cerrado. Pp. 153-180. In: Juncá, F.A., Funch, L. & Rocha, W. (org.). Biodiversidade e Conservação da Chapada Diamantina. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF. 435p.

Henriques, R.P.B. & Hay, J.D. 2002. Patterns and dynamics of plant populations. Pp.140-158. In: Oliveira, P.S. & Marquis, R.J. (eds.). The cerrados of Brazil: ecology and natural history of a neotropical savanna. Columbia University, New York. 398p. Hoffmann, W. 1996. The effects of fire and cover on seedling establishment in a neotropical savanna. Journal of Tropical Ecology, 84(3): 383-393.

Hoffmann, W.A. & Moreira, A.G. 2002. The role of fire in population dynamics of woody plants. Pp.159- 177. In: Oliveira, P.S. & Marquis, R.J. (eds.). The cerrados of Brazil: ecology and natural history of a neotropical savanna. Columbia University, New York. 398p.

Jesus, E.F. Reis de; Falk, F.H. & Marques, T.M. 1983. Caracterização geográfica e aspectos geológicos da Chapada Diamantina, Bahia. Centro editorial e didático da Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Juncá, F.A.; Funch, L. & Rocha, W. 2005. Biodiversidade e Conservação da Chapada Diamantina. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF. 435p.

Kauffman, J.B; Cummings, D.L. & Ward, D.E. 1994. Relationships of fire, biomass and nutrient dynamics along a vegetation gradient in the Brazilian Cerrado. Journal of Ecology, 82(3): 519-531

Kolbek, J. & Alves, R.J.V. 2008. Impacts of Cattle, Fire and Wind in Rocky Savannas, Southeastern Brazil. Acta Universitatis Carolinae Environmentalica, 22: 111–130.

Krebs, C.J. 1989. Ecological methodology. Harper & Row, New York. 654p.

Lamotte, M. 1983. Research on the characteristics of energy flows within natural and man-altered ecosystems. Pp. 48-70. In: Mooney, H.A. & Godron, M. (eds.). Disturbance and ecosystems, components of response. Springer-Verlag, Berlin. 292p.

Medeiros, M.B. & Miranda, H.S. 2005. Mortalidade pós-fogo em espécies lenhosas de campo sujo submetido a três queimadas prescritas anuais. Acta Botanica Brasilica, 19(3): 493-500.

Menaut & Cesar 1979. Sctructure and primary productivity of Lomto Savannas, Ivory Coast. Ecology, 60(6): 1197-1210

Miranda, H.S.; Sato, M.N.; Nascimento-Neto, R. & Aires, F.S. 2009. Fires in the cerrado, the Brazilian savanna. Pp. 427-450. In: Cochrane, M.A. (ed.). Tropical fire ecology: climate change, land use, and ecosystem dynamics. Spriger-Praxis, Chichester, UK. 645p.

Neves, S.P.S. & Conceição, A.A. 2010. Campo rupestre recém-queimado na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil: plantas de rebrota e sementes, com espécies endêmicas na rocha. Acta Botanica Brasilica, 24: 697-707.

Nimer, N. 1989. Climatologia do Brasil. IBGE, Rio de Janeiro. 421p.

Pivello, V.R. 2006. Fire management for biological conservation in the Brazilian cerrado. Pp.129-154. In: J. Mistry & A. Berardi (Org.). Savannas and Dry Forests - Linking People with Nature. Hants, Ashgate. 274p.

Pivello, V.R. 2011. The use of fire in the Cerrado and Amazonian Rainforests of Brazil: past and present. Fire Ecology, 7: 24-39.

Pivello, V.R. & Coutinho, L.M. 1992. Transfer of macro-nutrients to the atmosphere during experimental burnings in an open cerrado (Brazilian savanna). Journal of Tropical Ecology, 8(4): 487-497.

Pyne, S.J.; Andrews, P.L. & Laven, R.D. 1996. Introduction to wildland fire. 2a. ed. John Wiley & Sons, New York. 769p. Ribeiro, J.F. & Walter, B.M.T. 2008. As principais fitofisionomias do bioma Cerrado. Pp. 151-212. In: Sano, S.M.; Almeida, S.P. & Ribeiro, J.F. (eds.). Cerrado: ecologia e flora. Vol.1. Embrapa, Brasília. 406p. Salgado-Labouriau, M.L. 2005. Alguns aspectos sobre a paleoecologia dos cerrados. Pp. 108-118. In: Scariot, A.; Sousa-Filho, J.C. & Felfili, J.M. (eds.). Cerrado: ecologia, biodiversidade e conservação. MMA, Brasília. 439p.

San José, J.J.; Montes, R.; García-Miragaya, J. & Orihuela, B.E. 1985. Bio-production of Trachypogon savannas in a latitudinal cross-section of the Orinoco Llanos, Venezuela.

Acta Oecologica, 6(1): 25-43. Sarmiento, G. 1992. Adaptative strategies of perennial grasses in South American savannas. Journal of Vegetation Science, 325-336.

Silva, J.F.; Raventos, J.; Caswell, H. & Trevisan, M.C. 1991. Population responses to fire in a tropical savana grass, Andropogon semiberbis: a matrix model approach. Journal of Ecology, 79: 345-356.

Sokal, R.R. & Rohlf, F.J. 1995. Biometry. The principles and practice of statistcs in biological research. Freeman and Company, New York. 887p.

Souza, J.M. 2011. Efeitos do fogo na fenologia reprodutiva de angiospermas em vegetações campestres na Chapada Diamantina, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica). Universidade Estadual de Feira de Santana. Whelan, R.J. 1995. The ecology of fire. Cambridge studies in ecology, New York. 346p.

Wright, H.A. & Bailey, A.W. 1982. Fire ecology. United States and Southern Canada. John Wiley & Sons, New York. 501p

Downloads

Publicado

12/04/2024