Roça sem fogo: a visão de agricultores e técnicos sobre uma experiência de manejo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, Amazonas, Brasil
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i2.526Palavras-chave:
Agricultura migratória, Amazônia, políticas de conservação, sistemas agroflorestais, uso do fogoResumo
Este ensaio apresenta uma análise crítica de um trabalho de extensão agroflorestal conduzido na Amazônia Central (Amazonas, Brasil) entre 2011 e 2013 pelo Programa de Manejo de Agroecossistemas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. As iniciativas agroflorestais basearam-se em princípios agroecológicos para promover o uso sustentável das áreas florestais. O centro da proposta foi a implementação de áreas agrícolas sem o uso do fogo - essencial para a agricultura migratória da região. No contexto da implementação das políticas internacionais de mudanças climáticas nos países em desenvolvimento, e especificamente da multiplicação dos projetos de REDD+ (Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação florestal), iniciativas para conter o uso do fogo e para reduzir o desmatamento estão em curso na Amazônia desde 2008. O nosso estudo de caso oferece uma visão "a partir do campo" sobre a relação entre os promotores dessas políticas e as populações locais. Nós analisamos como os agricultores ribeirinhos receberam e incorporaram as iniciativas agroflorestais e a proposta para plantar sem uso do fogo nas práticas locais, focando nos resultados preliminares de oito áreas experimentais implantadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã entre 2011 e 2013. Com base em observações de campo, relatórios e entrevistas com os agricultores, nós descrevemos os métodos usados para implementar as áreas experimentais, as práticas alternativas de manejo apresentadas aos agricultores durante o trabalho de extensão, e como essas técnicas diferem das práticas locais. Nós refletimos sobre as lições que emergiram do encontro entre técnicos e agricultores durante as capacitações e discutimos as diversas formas com que os agricultores se envolveram nos experimentos. Nós concluímos que os futuros trabalhos de extensão agroflorestal deveriam levar em conta melhor esses parâmetros e procurar compreender as relações sociais e de parentesco através das quais os agricultores trocam conhecimento e sementes. Os atores da conservação poderão disseminar novas práticas de maneira mais efetiva com base nessas redes existentes. O sucesso das atividades em curso depende do desenvolvimento de propostas adaptadas à s necessidades e aos interesses dos agricultores. Finalmente, as iniciativas deveriam ser apresentadas como um complemento e não como um substituto à s práticas locais de agricultura migratória.Referências
Belcher, B.; Michon, G.; Angelsen, A.; Ruiz Perez, M. & Asbjornsen, H. 2005. The socioeconomic conditions determining the development, persistence, and decline of forest garden systems. Economic Botany, 59(3): 245-253.
Bernard, H.R. 2011. Research methods in anthropology: qualitative and quantitative approaches. Rowman Altamira. 680p.
Brookfield, H; Padoch, C. Parsons, H. & Stocking, M. 2002. Cultivating biodiversity: understanding, analysing and using agricultural diversity. Rugby Warwickshire, ITDG Publishing. 304p.
Carmenta, R.; Parry, L.; Blackburn, A.; Vermeylen, S. & Barlow, J. 2011. Understanding human-fire interactions in tropical forest regions: a case for interdisciplinary research across the natural and social sciences. Ecology and Society, 16(1): 53.
Castro, A.P. de; Fraxe, T.J.P.; Santiago, J.L.; Matos, R.B. & Pinto, I.C. 2009. Os sistemas agroflorestais como alternativa de sustentabilidade em ecossistemas de várzea no Amazonas. Acta Amazônica, 39(2): 279-288
Coomes, O.T.; Grimard, F. & Burt, G.J. 2000. Tropical forests and shifting cultivation: secondary forest fallow dynamics among traditional farmers of the Peruvian Amazon. Ecological Economics, 32(1): 109-124.
Cunha, M.C.da. 2009. Cultura com aspas e outros ensaios. Cosac Naify. 436p.
Denevan, W.M. & Padoch, C. 1987. Swidden-fallow agroforestry in the Peruvian Amazon. New York Botanical Garden: Advances in Economic Botany, 107 p.
Dubois, J.-C. 1996. Manual agroflorestal para a Amazônia. REBRAF.
Eloy L. 2008. Dynamiques et adaptation des systèmes agroforestiers périurbains dans le nord-ouest Amazonien. Bois et Forêts des tropiques, 296: 45-55.
Emperaire, L. & Eloy, L. 2014. Amerindian Agriculture in an Urbanising Amazonia (Rio Negro, Brazil). Bulletin of Latin American Research, 34: 70-84.
Erickson, C.L. 2008. Amazonia: the historical ecology of a domesticated landscape. p. 157-183 In: The handbook of South American archaeology. Springer, 1218 p.
Fearnside, P.M. 2005. Deforestation in Brazilian Amazonia: history, rates, and consequences. Conservation biology, 19(3): 680-688.
Fearnside, P.M. 2009. Degradação dos recursos naturais na Amazônia Brasileira: implicações para o uso de sistemas agroflorestais. p. 161-170 In: R. Porro (ed.) Alternativa agroflorestal na Amazônia em Transformação. World Agroforestry Centre (ICRAF) & EMBRAPA Amazônia Oriental, Belém, 825 p.
Harris, M. 2006. Presente ambivalente: uma maneira amazônica de estar no tempo. p. 81-108 In: Adams, C.; Murrieta, R.; Neves, W. Sociedades caboclas amazônicas: modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 369 p.
Hecht, S.B. & Cockburn, A. 2010. The fate of the forest: developers, destroyers, and defenders of the Amazon. University of Chicago Press, 408 p.
Irion, G.; Mello, J.A.S.N.de; Morais, J.; Piedade, M.T.F.; Junk, W.J. & Garming, L. 2011. Development of the Amazon valley during the Middle to Late Quaternary: sedimentological and climatological observations. p. 27-42 In: Amazonian floodplain forests. Springer. 618p.
Júnior, S.B.; Maneschy, R.Q.; Júnior, M.M.; Gazel-Filho, A.B.; Yared, J.A.G.; Gonçalves, D. & Gama, M.B. 2010. Sistemas agroflorestais na Amazônia brasileira: análise de 25 anos de pesquisas. Pesquisa Florestal Brasileira, 60: 67-76.
Leeuwen, J.Van; Clement, C.R. & Gomes, J.B.M. 2002. Desenvolvimento e avaliação participativa de sistemas agroflorestais. p. 88-93 In: Livro de resultados dos projetos de pesquisa dirigida (PPDs)-PPG7. MCT.
Lima, D. 1992. The social category caboclo: history, social organization, identity and outsider's social classification of the rural population of an amazonian region (the Middle Solimões), University of Cambridge.
Lima, D. 2004. The Roça Legacy: land use and kinship dynamics in Nogueira, an Amazonian community of the middle Solimões region. Some other Amazonians: perspectives on modern Amazonia. Londres: University of London, Institute of Latin American Studies, 12-36.
Lima, D.; Steward, A. & Richers, B.T. 2012. Trocas, experimentações e preferências: um estudo sobre a dinâmica da diversidade da mandioca no Médio Solimões, Amazonas. Boletim do Museu Paraense Emılio Goeldi, 371-396.
Miller, R.P. & Nair, P.K.R. 2006. Indigenous agroforestry systems in Amazonia: from prehistory to today. Agroforestry systems, 66(2): 151-164.
Miller, R.P.; Penn JR,J.W. & Leeuwen, J.Van. 2006. Amazonian homegardens: their ethnohistory and potential contribution to agroforestry development. In: Tropical homegardens. Springer, 43-60.
Nair, P.K.R. An introduction to agroforestry. Springer Science & Business Media, 1993.
Padoch, C. & Jong, W.de. 1991. The house gardens of Santa Rosa: diversity and variability in an Amazonian agricultural system. Economic Botany, 45(2): 166-175.
Padoch, C. & Pinedo-Vasquez, M. 2010. Saving Slash-and-Burn to Save Biodiversity. Biotropica, 42(5): 550-552.
Pedroso Junior, N.N.; Murrieta, R.S.S. & Adams, C. 2008. A agricultura de corte e queima: um sistema em transformação. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 3(2): 153-174.
Pollini, J. 2009. Agroforestry and the search for alternatives to slash-and-burn cultivation: From technological optimism to a political economy of deforestation. Agriculture, Ecosystems & Environment, 133(1-2): 48-60.
Posey, D.A. 1985. Indigenous management of tropical forest ecosystems: the case of the Kayapo Indians of the Brazilian Amazon. Agroforestry Systems, 3(2): 139-158. Programa de Manejo de Agroecossistemas. 2011.
Planejamento Estratégico 2011-2015. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Tefé.
Ribeiro Filho, A.A.; Adams, C. & Murrieta, R.S.S. 2013. The impacts of shifting cultivation on tropical forest soil: a review. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 8, n. 3, p. 693-727.
Richers, B.T.T. 2010. Agricultura migratória em ambientes de várzea na Amazônia central: ameaça ou sistema integrado? Uakari, 6 (1): 27-37.
Rognant, C. & Steward, A. 2014. Sítios of Lake Amanã: Land use change and the evolution of smallscale livelihood strategies in the Middle Solimões region, Amazonia, ICREA Conference on Small-Scale Societies and Environmental Transformations: co-evolutionary Dynamics, 17-18.
Schmidt, M.J. 2003. Farming and patterns of agrobiodiversity on the Amazon floodplain in the vicinity of Mamirauá, Amazonas, Brazil. Tese de doutorado, University of Florida. 199p.
Steward, A. no prelo. Fire use among swidden farmers in Central Amazonia: Reflections on practice and conservation policies. In Fowler, C. (ed.). Fire ecology and Environmental Change, University of Utah Press.
Vliet, N.van; Mertz, O.; Heinimann, A.; Langanke, T.; Pascual, U.; Schmook, B.; Adams, A.; SchmidtVogt, D.; Messerli, P.; Leisz, S.; Castella, J.C.; Jørgensen, L; Birch-Thomsen, T.; Hett, C.; Bech-Bruun, T.; Ickowitz, A.; Vu, K.C.; Yasuyuli, K.; Fox, J.; Padoch, C.; dressler, W. & Ziegler, A.D. 2012. Trends, drivers and impacts of changes in swidden cultivation in tropical forest-agriculture frontiers: a global assessment. Global Environmental Change, 22(2): 418-429.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Biodiversidade Brasileira - BioBrasil
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os artigos estão licenciados sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O acesso é livre e gratuito para download e leitura, ou seja, é permitido copiar e redistribuir o material em qualquer mídia ou formato.