Queima em mosaico: conhecimento ancestral que inspira ações de prevenção aos grandes incêndios no Jalapão, Tocantins, Brasil
DOI:
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v9i1.917Palavras-chave:
Queima em mosaico, manejo integrado do fogo, queima prescrita, pirodiversidade, prevenção de incêndiosResumo
A queima em mosaico é uma prática realizada por muitos povos e comunidades tradicionais que usam o fogo no manejo de paisagens savânicas em todo o mundo. Contudo, no Brasil, por muito tempo, essa prática ancestral foi entendida como uma técnica arcaica e de baixa tecnologia. O objetivo deste trabalho é colaborar com o registro histórico de reabilitação do uso do fogo na gestão de áreas protegidas no Brasil, por meio de um estudo de caso na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins (EESGT), localizada na região do Jalapão, Cerrado brasileiro. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, baseada em análise de documentos institucionais e experiência pessoal, visto que a autora trabalha na EESGT há nove anos. Constatou-se que os gestores ambientais percebiam a comunidade tradicional como incendiária e não como manejadores reais ou potenciais. Essa percepção desprezou, por mais de uma década, oportunidades reais de incorporá-las no projeto de conservação do território. A partir de 2012, com a implementação de um termo de compromisso com a comunidade quilombola dos rios Novo, Preto e Riachão, juntamente com a transição de uma abordagem de gestão institucional pirofóbica para outra voltada ao manejo integrado do fogo (MIF), os gestores ambientais ampliaram suas compreensões sobre o papel ecológico e social do fogo no Jalapão e passaram a defender a realização de queimas prescritas para manejo de combustível e promoção da pirodiversidade. A prática de queima em mosaicos vem sendo adotada também em outras savanas tropicais protegidas por unidades de conservação no mundo, como na Austrália e África do Sul e, assim como na EESGT, vem gerando resultados inspiradores como a redução da ocorrência de eventos extremos de incêndios. Concluímos que ações de proteção da sociobiodiversidade savânica demandam uma abordagem de gestão multidisciplinar, holística e participativa que busque entender a complexidade das relações entre pessoas, fogo e áreas protegidas.
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