Apresentação do Número Temático Avaliação do Estado de Conservação dos Ungulados

Autores

  • Beatriz de Mello Beisiegel Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – CENAP/ICMBio
  • José Maurício Barbanti Duarte Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos – NUPECCE/UNESP
  • Emília Patrícia Medici Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ
  • Alexine Keuroghlian Wildlife Conservation Society do Brasil
  • Arnaud Léonard Jean Desbiez Royal Zoological Society of Scotland. Edinburgh – Scotland – United Kingdom

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v2i1.232

Palavras-chave:

Ciências Biológicas, Ecologia, Meio Ambiente, Biologia da Conservação

Resumo

Este terceiro número da Biodiversidade Brasileira apresenta os resultados da avaliação do estado de conservação dos mamíferos ungulados brasileiros, as antas, porcos-do-mato e veados. Esta avaliação responde a uma grande urgência de enfocar o estado de conservação destas espécies, já que embora apenas duas tenham sido reconhecidas como ameaçadas pela presente lista oficial, o cervo-do-pantanal Blastocerus dichotomus e o veado-mão-curta Mazama nana, ambas na categoria Vulnerável, algumas delas já desapareceram de imensas áreas do país. Entre os ungulados encontra-se o maior mamífero terrestre brasileiro, a anta Tapirus terrestris. Mesmo as menores espécies, o veado-mão-curta e o veado-catingueiro Mazama gouazoubira, são grandes em comparação com a maioria dos mamíferos terrestres brasileiros. Consequentemente, todas as espécies do grupo sofrem intensa pressão de caça, diferindo, entretanto, na capacidade de suportar e recuperar-se das perdas populacionais decorrentes desta pressão. Outras ameaças ainda pesam sobre estas espécies, como desmatamento, degradação da qualidade ambiental, doenças disseminadas por animais domésticos e isolamento genético. Embora aparentemente incoerente com o grande porte das espécies, a falta de dados básicos sobre taxonomia e distribuição geográfica ainda é um problema para a conservação de alguns dos ungulados brasileiros. A distribuição geográfica do veado-galheiro Odocoileus virginianus no país é praticamente desconhecida; os veados mateiro e roxo, Mazama americana e Mazama nemorivaga, podem representar, cada um, mais de uma espécie; e uma das espécies deste grupo, o veado-mateiro-pequeno Mazama bororo, foi recentemente descrita, mesmo ocorrendo na região sudeste, a mais pesquisada do país. O estado de conservação dos biomas brasileiros não é o mesmo; enquanto a Amazônia e o Pantanal ainda possuem vastas extensões de ambiente adequado para as espécies de grande porte, os demais biomas já se apresentam em grande parte degradados e os problemas de conservação das espécies nos remanescentes destes biomas são mais críticos do que no restante do país. Desta forma, a avaliação do estado de conservação das antas Tapirus terrestris, queixadas Tayassu pecari e catetos Pecari tajacu adotou a abordagem inovadora de avaliar separadamente o estado de conservação das espécies em cada um dos biomas. Desta forma, procuramos possibilitar a adoção de medidas de conservação adequadas à situação das espécies em cada bioma, impedir que as grandes populações presentes na Amazônia e no Pantanal mascarem os graves problemas enfrentados pelas espécies em outros biomas e, também, chamar a atenção para o fato de que mesmo nestes dois biomas mais conservados as populações podem vir a declinar seriamente, dadas as atuais tendências de perda de habitat nos mesmos. Os resultados destas avaliações são eloquentes: por exemplo, o queixada foi classificado como Criticamente em perigo (CR) na Mata Atlântica e a anta está Regionalmente extinta (RE) na Caatinga e Em perigo (EN) na Mata Atlântica, embora ambas tenham sido classificadas como Menos preocupantes (LC) na Amazônia e Vulneráveis (VU) no Brasil como um todo. Para cervídeos, por outro lado,considerou-se que as avaliações estaduais respondem à necessidade de caracterização regionalizada do estado de conservação das espécies; apenas para os veados-campeiros Ozotoceros bezoarticus adotou-se uma avaliação distinta para as duas subespécies, tendo em vista as diferentes ameaças a que estão submetidas. Estas avaliações chegaram à mesma classificação – Vulnerável (VU), porém os critérios utilizados para atingir esta classificação evidenciam a situação mais preocupante da subespécie O. b. bezoarticus, que ocorre no Cerrado. Desta forma, no presente número da Biodiversidade Brasileira apresentamos o estado de conservação de nossos ungulados com os enfoques adequados a cada espécie e grupo. Esperamos com isto contribuir para um avanço efetivo nas políticas de conservação destes animais.

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Publicado

24/05/2012

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