Etnobotânica nos Areais da Ribanceira de Imbituba: compreendendo a biodiversidade vegetal manejada para subsidiar a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Autores

  • Natalia Hanazaki Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, Santa Catarina (SC), Brasil
  • Sofia Zank Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, Santa Catarina (SC), Brasil
  • Marina C. Pinto Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, Santa Catarina (SC), Brasil
  • Leonardo Kumagai Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, Santa Catarina (SC), Brasil
  • Laura Altafin Cavechia Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, Santa Catarina (SC), Brasil
  • Nivaldo Peroni Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, Santa Catarina (SC), Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v2i2.273

Palavras-chave:

uso de recursos, população tradicional, conhecimento ecológico tradicional, etnoecologia, restinga

Resumo

A investigação e valorização do conhecimento, uso e manejo tradicional de recursos vegetais pode colaborar para a efetividade de unidades de conservação de uso sustentável, pois possibilitam o envolvimento das comunidades locais nos processos de manejo e tomada de decisão relacionados à conservação. O objetivo geral deste artigo foi de reunir resultados de um projeto com enfoque etnobotânico que teve por intuito investigar o conhecimento tradicional sobre recursos vegetais nativos e sobre a agrobiodiversidade, colaborando para a construção participativa de diretrizes para o uso, manejo e conservação destas espécies na região dos Areais da Ribanceira de Imbituba, onde é proposta uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS). Diferentes recursos vegetais são utilizados dentro do mosaico ambiental que constitui os Areais da Ribanceira. Esses recursos vegetais incluem a agrobiodiversidade (principalmente Manihot esculenta Crantz) e a biodiversidade nativa (Butia catarinensis Noblick & Lorenzi e plantas medicinais). Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas, oficinas participativas e identificação de material botânico. Foram realizadas entrevistas sobre agrobiodiversidade (n=37), extração de butiá (n=20) e plantas medicinais (n=21). As áreas de plantio anual variam entre 0,5 a 5ha e são usadas entre 6 meses a 2 anos, com 1 a 5 anos de pousio. Foram citadas 30 variedades de mandioca e 15 de aipins, usadas para a alimentação das famílias locais e para alimentar criações. Foram identificadas 197 espécies de plantas medicinais pertencentes a 70 famílias botânicas, muitas delas extraídas de áreas de vegetação nativa. Dezoito diferentes usos foram registrados para o butiá, uma importante espécie entre os recursos vegetais locais e que pode ocorrer em adensamentos populacionais dentro do mosaico de ambientes usados tradicionalmente. No caso dos Areais da Ribanceira, há uma oportunidade muito inovadora no âmbito das unidades de conservação no sul do país, uma vez que uma RDS pode garantir a reprodução de práticas que resultarão em conservação in situ de espécies da flora local e da agrobiodiversidade, incluindo tanto espécies nativas das fitofisionomias da região como espécies cultivadas e suas variedades.

 

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Publicado

17/12/2012

Edição

Seção

Uso e manejo de recursos vegetais em unidades de conservação

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