Avaliação do risco de extinção da raposa-do-campo Lycalopex vetulus (Lund, 1842) no Brasil

Autores

  • Frederico Gemesio Lemos Universidade Federal de Goiás/UFG – Campus Catalão, Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado – PCMC
  • Fernanda Cavalcanti de Azevedo Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado – PCMC
  • Beatriz de Mello Beisiegel Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – CENAP/ICMBio
  • Rodrigo Silva Pinto Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade – DIBIO/ICMBio
  • Rogério Cunha de Paula Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – CENAP/ICMBio
  • Flávio Henrique Guimarães Rodrigues Universidade Federal de Minas Gerais
  • Lívia de Almeida Rodrigues Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – CENAP/ICMBio

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v3i1.382

Palavras-chave:

extinção da Raposa-do-campo, Lycalopex vetulus

Resumo

A raposa-do-campo, Lycalopex vetulus, é a única espécie de canídeo brasileiro endêmica do Cerrado, bioma sob alta pressão antrópica e com menos de 20% de sua área original ainda em estado primitivo. Considerando as estimativas mais conservadoras, o Cerrado sofreu um desmatamento de 50% de sua área nos últimos 40 anos; destes, pode-se estimar uma perda de 20% de área em um período de 15 anos (três gerações), que deve refletir-se em uma perda populacional equivalente para a espécie. Este declínio não cessou. Estima-se que a espécie terá uma perda de hábitat de, pelo menos, 10% nos próximos 15 anos. Considerando que a espécie também sofreu e continua sofrendo perdas importantes não quantificadas decorrentes de atropelamento, predação por cães domésticos, doenças, retaliação à suposta predação de animais domésticos, e alta mortalidade de filhotes/juvenis, o declínio populacional deve, em uma estimativa conservadora, ter sido de pelo menos 30% nos últimos 15 anos e deve atingir o limite de 30% nos próximos 15 anos. Até onde se sabe, a espécie só ocorre em território brasileiro, não havendo populações em países vizinhos. Por estas razões, a espécie foi categorizada como Vulnerável (VU) pelos critérios A2+3cd.

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Publicado

30/06/2013

Edição

Seção

Avaliação do estado de conservação das espécies

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