Avaliação do Estado de Conservação da Tartaruga Marinha Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1766) no Brasil

Autores/as

  • Maria Ângela Marcovaldi Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas – TAMAR/ICMBio
  • Gustave G. Lopez Fundação Protamar
  • Luciano Soares e Soares Fundação Protamar
  • Claudio Bellini Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas – TAMAR/ICMBio
  • Alexsandro Santana dos Santos Fundação Protamar
  • Milagros Lopez Fundação Protamar

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v1i1.88

Palabras clave:

Tartaruga Marinha Eretmochelys imbricata , estado de conservação

Resumen

Apresentação e justificativa de categorização O estado de conservação da tartaruga marinha Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1766) (Cheloniidae) foi avaliado de acordo com os critérios da IUCN (2001), com base nos dados disponíveis até 2009. Síntese do processo de avaliação das tartarugas marinhas pode ser encontrada em Peres et al., neste número. A categoria proposta para o táxon é “Criticamente em Perigo (CR)” segundo o critério A2abcde, ou seja, ameaçado, de acordo com informações sobre redução da população. Eretmochelys imbricata é encontrada circunglobalmente, em águas tropicais e numa menor extensão, em águas subtropicais. No Brasil, as áreas prioritárias de reprodução de Eretmochelys imbricata são o litoral norte da Bahia e Sergipe; e o litoral sul do Rio Grande do Norte. Sendo a mais tropical das espécies de tartarugas marinhas, as áreas de alimentação conhecidas deste táxon conhecidas no Brasil, são as ilhas oceânicas de Fernando de Noronha-PE e Atol das Rocas-RN, havendo evidências de que o banco dos Abrolhos-BA seja uma importante área de alimentação. Há ainda ocorrência na reserva biológica do Arvoredo/SC e também na Ilha de Trindade/ES. A principal ameaça para E. imbricata no passado foi a coleta de ovos e o abate de fêmeas, principalmente para exploração e comércio do casco, o que não acontece mais nas áreas prioritárias de reprodução. Desde a implantação do Projeto TAMAR/ICMBio em 1982, o desenvolvimento e a ocupação desordenada da zona costeira e a pesca aumentaram vertiginosamente – principalmente nos últimos 10-15 anos. As tartarugas de pente são capturadas incidentalmente, principalmente em redes costeiras de emalhe e lagosteira. Não existem dados quantitativos comprovados da abundância deste táxon para o período anterior ao levantamento realizado pelo TAMAR entre 1980-82, onde está registrada a interrupção do ciclo de vida desses animais em várias áreas visitadas, devido a um longo histórico de coleta de praticamente todos os ovos e abate de quase todas as fêmeas. Historicamente, a abundância destas populações era enorme. A falta de perspectiva adequada para quantificação ou o uso de uma linha imaginária equivocada de dados iniciais de abundância para o estudo de tendência populacional podem levar a uma interpretação errônea destas análises. A síndrome da mudança de referencial, ou “shifting baseline syndrome”, é conhecida como o uso de dados de tamanho da população que correspondem ao início das atividades dos pesquisadores e não da sua real abundância no passado, e que pode levar a subestimativas de perdas (Bjorndal 1999). Considera-se que o índice de abundância populacional mais adequado para as tartarugas-marinhas seja o número de ninhos em cada temporada. Desta forma, o aumento no número de ninhos observado nos últimos anos representa um indício de aumento no tamanho populacional. No entanto, apesar de promissora, acredita-se que essa recuperação é insignificante em relação ao tamanho populacional no passado. Adicionalmente, características da estratégia de vida das tartarugas marinhas como a maturação tardia e ciclo de vida longo tornam a recuperação muito lenta. É possível que os números de desovas observados até o presente não se mantenham no futuro, devido à ação das atuais ameaças sobre o estoque de juvenis a serem recrutados para a população reprodutiva. Além disso, os estudos de tendência de população não cobrem um tempo geracional para este táxon (estimado entre 35 e 45 anos, no mínimo). Portanto, a recuperação do número de adultos ou do tamanho populacional observado só poderá ser considerada consistente quando a série histórica de dados for mais longa, incluindo várias décadas. As informações coletadas no levantamento inicial do TAMAR sugerem que o potencial de áreas de desova e a abundância nas áreas remanescentes deve ser maior do que a encontrada, indicando desaparecimento de desovas em várias destas áreas e, nas remanescentes, o declínio acentuado das populações. O TAMAR iniciou suas atividades apenas nas áreas remanescentes com concentração ainda significativa de desova. Mantém-se a categoria CR, pois além da população brasileira estar isolada, a principal área de ocorrência reprodutiva atual (norte da Bahia, Sergipe e sul do Rio Grande do Norte) é bastante reduzida quando comparada à sua área de ocorrência no passado. Não há possibilidade de migração de adultos de outras regiões para o Brasil: as tartarugas marinhas são conhecidas por sua alta filopatria (homing) – capacidade das fêmeas de voltarem para se reproduzir na praia onde nasceram, tornando praticamente impossível a recolonização das praias por fêmeas oriundas de outras populações.

Biografía del autor/a

Maria Ângela Marcovaldi, Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas – TAMAR/ICMBio

Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas - TAMAR/ICMBio – Caixa Postal 2219 – Rio Vermelho – CEP 41950-970 - Salvador/BA.

Gustave G. Lopez, Fundação Protamar

Rua Rubens Guelli, 134 – sl. 307 – Ed. Empresarial Itaigara – CEP 41815-135 – Salvador/BA.

Luciano Soares e Soares, Fundação Protamar

Rua Rubens Guelli, 134 – sl. 307 – Ed. Empresarial Itaigara – CEP 41815-135 – Salvador/BA.

Claudio Bellini, Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas – TAMAR/ICMBio

Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas - TAMAR/ICMBio – Caixa Postal 2219 – Rio Vermelho – CEP 41950-970 - Salvador/BA.

Alexsandro Santana dos Santos, Fundação Protamar

Rua Rubens Guelli, 134 – sl. 307 – Ed. Empresarial Itaigara – CEP 41815-135 – Salvador/BA.

Milagros Lopez, Fundação Protamar

Rua Rubens Guelli, 134 – sl. 307 – Ed. Empresarial Itaigara – CEP 41815-135 – Salvador/BA.

Citas

Bass, A.L. 1999. Genetic analysis to elucidate the natural history and behavior of hawksbill turtles (Eretmochelys imbricate)

in the Wider Caribbean: a review and re-analysis. Chelonian Conservation and Biology, 3(2): 195-199.

Bellini, C.; Sanches, T. M. & Formia, A. 2000. Hawksbill turtle tagged in Brazil captured in Gabon, Africa. Marine Turtle

Newsletter, 87: 11-12.

Bjordal, K.A. 1999. Conservation of hawksbill sea turtles: perceptions and realities. Chelonian Conservation and

Biology, 3(2), 174-176.

Chaloupka, M. Bjorndal, K.A.; Balazs, G.H.;Bolten, A.B.; Bolten, Ehrhart, L.M.; Limpus, C.J.; Suganuma; H.; Troëng,

S. & Yamaguchi, M. 2008. Encouraging outlook for recovery of a once severely exploited marine megaherbivore. Global

Ecology and Biogeography, 17: 297-304.

Chaloupka, M. & Limpus, C. 1997. Robust statistical modelling of hawksbill sea turtle growth rates (southern Great

Barrier Reef). Marine Ecology Progress Series, 146: 1-8.

Frazer, N. B. 1986. Survival from Egg to Adulthood in a Declining Population of Loggerhead Turtles, Caretta caretta.

Herpetologica, 42(1): 47-55.

Gallo, B. M. G.; Macedo, S.; Giffoni, B. B.; Becker, J. H. & Barata, P. C. R. 2006. Sea turtle conservation in Ubatuba,

Southeastern Brazil, a feeding area with incidental capture in coastal fisheries. Chelonian Conservation and Biology,

(1): 93–101.

Godfrey, M. H.; D’ Amato, A.F.; Marcovaldi, M. A. & Mrosovsky, N. 1999. Pivotal temperature and predicted sex ratios

for hatchling hawksbill turtles from Brazil. Canadian Journal of Zoology, 77: 1465-1473.

Grossman, A.; Bellini, C.; Fallabrino, A.; Formia, A.; Mba, J. N. & Obama, C. 2007. Second TAMAR-tagged hawksbill

recaptured in Corisco Bay, West Africa. Marine Turtles Newsletter, 116, (26). Disponível em <http://www.seaturtle.

org/mtn/archives/mtn116/mtn116p26.shtml >

Hamann, M.; Godfrey, M. H.; Seminoff, J. A.; Arthur, K.; Barata, P.C. R.; Bjorndal, K. A.; Bolten, A. B.; Broderick, A.

C.; Campbell, L. M.; Carreras, C.; Casale, P.; Chaloupka, M.; Chan, S. K. F.; Coyne, M. S.; Crowder, L. B.; Diez, C. E.;

Dutton, P. H.; Epperly, S. P.; Fitzsimmons, N. N.; Formia, A.; Girondot, M.; Hays, G. C.; Ijiunn, C.; Kaska, Y.; Lewison, R.;

Mortimer, J. A.; Nichols, W. J.; Reina, R. D.; Shanker, K.; Spotila, J. R.; Tomás, J.; Wallace, B. P.; Work, T. M.; Zbinden,

J. & Godley, B. J. 2010. Global research priorities for sea turtles: informing management and conservation in the 21st

century. Endangered Species Research, 11: 245-269.

Horrocks, J. A & Scott, N. Mc A. 1991. Nest site location and nest success in the hawksbill turtle Eretmochelys imbricata

in Barbados, West Indies. Marine Ecology Progress Series, 69: 1–8.

IUCN. 2001. IUCN Red List Categories and Criteria: Version 3.1. IUCN Species Survival Commission.

IUCN, 30p.

Lara-Ruiz, P.; Lopez, G. G.; Santos, F. R. & Soares, L. S. 2006. Extensive hybridization in hawksbill turtle (Eretmochelys

imbricata) nesting in Brazil revealed by mtDNA analyses. Conservation Genetics, 7: 773-781.

Lima, E. H. S. M. 2002. Alguns dados sobre desovas de tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata) no litoral leste do

Ceará, p.426. In: Resumos do XXIV Congresso Brasileiro de Zoologia. UNIVALI, 2002.

Lutcavage, M.E., Plotkin, P., Witherington, B. & Lutz, P.L. 1997. Human impacts on sea turtle survival, p. 387-409. In:

Lutz, P.L. & Musick, J.A. (Eds.). The Biology of Sea Turtles. CRC Press.

Marcovaldi, G. G. Dei & Albuquerque, J. C. B. 1983. Trabalhos de proteção a desova, avaliação quali-quantitativa

e marcação nas praias de Pirambu (SE), Forte (BA), Comboios (ES) e Ilha da Trindade – Relatório Parcial

de 17/01/83 a 19/01/83.

Marcovaldi, M. A.; Lopez, G. G.; Soares, L. S.; Santos, A. J. B.; Bellini, C. & Barata, P. C. R. 2007. Fifteen years of

Hawksbill sea turtle (Eretmochelys imbricata) Nesting in Northern Brazil. Chelonian Conservation and Biology,

(2): 223-228.

Marcovaldi, M. A.; Baptistotte, C.; Castilhos, J.C. de; Gallo, B.M.G.; Lima, E.H.S.M.; Sanches, T.M. & Vieitas, C.F. 1998.

Activities by Project TAMAR in Brazilian sea turtle feeding grounds. Marine Turtle Newsletter, 80: 5-7.

Marcovaldi, M. A.; Godfrey, M. H. & Mrosovsky, N. 1997. Estimating sex ratios of loggerhead turtles in Brazil from pivotal

incubation durations. Canadian Journal Zoology, 75: 755-770.

Marcovaldi, M. A.; Lopez, G. G.; Soares, Lima E.H.S.M.; Barata, P. C. R, Bruno S.C..; Almeida A.P. 2009a. In press.

Satellite telemetry studies highlight an important feeding ground for loggerheads and hawksbills in northern Brazil. In:

Proceedings of the XXIX Annual Symposium On Sea Turtle Conservation and Biology. NOAA.

Marcovaldi, M. A.; Giffoni, B. B.; Becker, H. & Fiedler, F. N. 2009b. Sea Turtle Interactions in Coastal Net Fisheries in

Brazil, p. 28. In: Proceedings of the Technical Workshop on Mitigating Sea Turtle Bycatch in Coastal Net

Fisheries. Regional Fishery Management Council, IUCN.

Marcovaldi, M. A. & Marcovaldi, G.G. 1999. Marine turtles of Brazil: the history and structure of Projeto Tamar-Ibama.

Biological Conservation, 91: 35-41.

Marcovaldi, M. A.; Vieitas C.F; Godfrey M. H. 1999. Nesting and conservation management of hawksbill turtles

(Eretmochelys imbricata) in northern Bahia, Brazil. Chelonian Conservation and Biology, 3 (2): 301-307.

Mascarenhas, R., Santos, R.G.; Santos, A.S.; Zeppelini, D. 2004. Nesting of hawksbill turtles in Paraiba-Brazil: avoiding

light pollution effects. Marine Turtle Newsletter, 104: 1-3.

Meylan, A.B. 1995. Estimating population size in sea turtles, p. 135-138. In: Bjorndal, K.A. (Ed.). Biology and

Conservation of Sea Turtles. Smithsonian Institution Press.

Meylan, A. B. & Donnely, M. Status justification for listing the hawksbill turtle (Eretmochelys imbricata) as critically

endangered on the 1996 IUCN Red List of Threatened Animals. Chelonian Conservation and Biology, 3(2): 200-

, 1999.

Mortimer, J. A. & Donnelly, M. 2007. IUCN Red List status assessment, hawksbill turtle (Eretmochelys imbricata).

Marine Turtle Specialist Group.

Moura, C.C. De M.; Fonseca, D.S; Guimarães, E. Da S.; Moura, G.J.B. de. 2009. Aspectos ecológicos e reprodutivos de

Eretmochelys imbricata durante a temporada 2007/2008 nas praias de Ipojuca (PE, Brasil). In: Anais do IX Congresso

de Ecologia do Brasil. SEB.

Pedrosa, L.W. & Verissimo, L. Redução das Capturas Incidentais de Tartarugas Marinhas no Banco dos

Abrolhos. Relatório Final de Atividades – Parceria CBC/CI-Brasil –FY04, 2006. 233 p.

Peres, M.B.; Dias, B.F.S. & Vercillo, U.E. 2011. Avaliação do estado de conservação da fauna brasileira e a lista de

espécies ameaçadas: O que significa? Qual sua importância? Como fazer? Biodiversidade Brasileira, 1:45-48.

Poloczanska, E.S.; Limpus, C.J. & Hays, G.C. 2009. Vulnerability of marine turtles to climate change. Advances in

Marine Biology, 56: 151-211.

Reis, E. C.; Soares, L. S.; Vargas, S. M.; Santos, F. R.; Young, R. J.; Bjorndal, K. A.; Bolten, A. B. & Lôbo-Hadju, G. 2010.

Genetic composition, population structure and phylogeography of loggerhead sea turtle: colonization hypothesis for the

Brazilian rookeries. Conservation Genetics, 11: 1467–1477.

Reisser, J.; Proietti, M.; Kinas, P.; Sazima, I. 2008. Photographic identification of sea turtles: method description and

validation, with an estimation of tag loss. Endangered Species Research, 5(1): 73-82.

Sanches, T.M. & Bellini, C. Juvenile Eretmochelys imbricata and Chelonia mydas in the Archipelago of Fernando de

Noronha, Brazil. Chelonian Conservation and Biology, 3(2): 308-311, 1999.

TAMAR, 2009. Banco de Dados TAMAR/SITAMAR. Contato: Alexsandro Santos (alex@tamar.org.br).

Wallace, B.P.; Dimatteo, A.D.; Hurley, B.J.; Finkbeiner, E.M.; Bolten, A.B.; Chaloupka, M.Y.; Hutchinson, B.J.; Abreu-

Grobois, F.A.; Amorocho, D.; Bjorndal, K.A.; Bourjea, J.; Bowen, B.W.; Dueñas, R.B.; Casale, P.; Choydhury, B.C.;

Costa, A.; Dutton, P.H.; Fallabrino, A.; Girard, A.; Girondont, M.; Godfrey, M.H.; Hamann, M.; López-Mendilaharsu,

M.; Marcovaldi, M.A.; Mortimer, J.A.; Musick, J.A.; Nel, R.; Pilcher, N.J.; Seminoff, J.A.; Troëng, S.; Witherington, B.

& Mast, R.B. 2010. Regional management units for marine turtles: a novel framework for prioritizing conservation and

research across multiple scales. PLoS ONE, 5(12): 1-11. 2010.

Publicado

13/03/2011

Número

Sección

Avaliação do estado de conservação das espécies

Artículos más leídos del mismo autor/a