Implementação do programa piloto de manejo integrado do fogo em três unidades de conservação do Cerrado

Autores

  • Isabel Belloni Schmidt Departamento de Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro. Brasília, DF
  • Clara Baringo Fonseca Departamento de Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro. Brasília, DF
  • Maxmiller Cardoso Ferreira Departamento de Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro. Brasília, DF
  • Margarete Naomi Sato Departamento de Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro. Brasília, DF

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v6i2.656

Palavras-chave:

Intensidade de queima, parcelas permanentes, monitoramento da vegetação

Resumo

Pela primeira vez no Brasil, queimadas prescritas de baixa intensidade no começo da estação seca foram implementadas em Unidades de Conservação (UC) do Cerrado como estratégia de manejo. Os objetivos destas queimadas são proteger áreas de vegetação sensíveis ao fogo, como mata ciliar; fragmentar e reduzir o combustível criando mosaicos de vegetação com diferentes estágios de regeneração pós-fogo; e mudar o atual regime do fogo, caracterizado pela ocorrência de grandes incêndios ao final da estação seca (agosto-outubro). Essas queimas prescritas fazem parte de um Programa Piloto de Manejo Integrado de Fogo (MIF) que foi implementado em 2014 em três UC do Cerrado: o Parque Nacional da Chapada das Mesas (PNCM), Parque Estadual do Jalapão (PEJ) e Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins (EESGT). Durante a implementação do programa, foram acompanhadas e realizadas medições de parâmetros ecológicos que são apresentadas neste artigo. Adicionalmente, descrevemos o desenho experimental que inclui o estabelecimento de parcelas permanentes para o acompanhamento de longo prazo dos efeitos das queimas precoces prescritas em comparação com áreas queimadas no final da estação seca (simulação de incêndios) e áreas não queimadas, estabelecidas nestas três UC em 2015. Resultados em 2014 indicam que as queimas prescritas foram de baixa intensidade devido à época e a hora de início das queimas, com baixa velocidade de propagação e consumo de combustível que variou entre 46 e 84%. A partir desta experiência, apresentamos questões de manejo e pesquisa que devem ser consideradas para o planejamento e implementação de MIF em UCs como as razões de uso do fogo e percepções das comunidades locais sobre os efeitos dos diferentes tipos de fogo.

Referências

Andersen, A.N.; Cook, G.D.; Corbett, L.K.; Douglas, M.M.; Eager, R.W.; Russell-Smith, J.; Setterfield, S.A.; Williams, R.J. & Woinarski, J.C.Z. 2005. Fire frequency and biodiversity conservation in Australian tropical savannas: implications from the Kapalga fire experiment. Austral Ecology, 30: 155-167.

Andreae, M.O., Atlas, E.; Harris, G.W.; Helas, G.; Kock, A.D.; Koppmann, R. & Welling, M. 1996. Methyl halide emissions from savanna fires in southern Africa. Journal of Geophysical Research: Atmospheres (1984-2012), 101: 23603-23613.

Barreto, C.B. 1999. Contribuição ao manejo e à restauração da Zona de Recuperação no Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), com referência especial aos incêndios, por meio de geoprocessamento. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista, 72p.

Beale, C.M.; Van Rensberg, S.;, Bond, W.J.; Coughenour, M.; Fynn, R.; Gaylard, A.; Grant, R.; Harris, B.; Jones, T.; Mdumai, S.; Owen-Smith, N. & Sinclair, A.R.E. 2013. Ten lessons for the conservation of African savannah ecosystems. Biological Conservation, 167: 224-232.

Bond, W.J.; Woodward, F.I. & Midgley, G.F. 2005. The global distribution of ecosystems in a world without fire. New Phytologist, 165: 525-538.

Bradstock R.A. & Auld, T.D. 1995. Soil temperatures during experimental bushfires in relation to fire intensity: consequences for legume germination and fire management in south-eastern Australia. Journal of applied Ecology, 32: 76-84.

Christensen, N.L. 2005. Fire in the Parks: A Case Study for Change Management. The George Wright Forum, 22: 12-31.

Cirne, P. & Miranda H.S. 2008. Effects of prescribed fires on the survival and release of seeds of Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart. (Clusiaceae) in savannas of Central Brazil. Brazilian Journal of Plant Physiology, 20: 197-204.

Cole, M.M. 1960. Cerrado, Caatinga and Pantanal: The Distribution and Origin of the Savanna Vegetation of Brazil. The Geographical Journal, 126(2): 168-179.

Coutinho, L.M. 1990. Fire in the ecology of the Brazilian Cerrado. p. 82-105. In: J.G. Goldammer (ed.). Fire in the tropical biota - ecosystem processes and global challenges. Ecological Studies Vol. 8A. Springer Verlag Berlin, 497p.

Ferraz-Vicentini, K.R.F. 1993. Análise palinológica de uma vereda em Cromínia-GO. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, 136p. França, H. 2010. Os incêndios de 2010 nos parques nacionais do cerrado. Technical report. Universidade Federal do ABC. 16p.

França, H.; Ramos-Neto, M.B. & Setzer, A. 2007. O fogo no Parque Nacional das Emas. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, Brazil. Série Biodiversidade 27. 140p.

Franke, J. 2014. Documentation of the remote sensing activities in support of the fire experiments and the integrated fire management in the Parque Estadual do Jalapão, ESEC Serra Geral do Tocantins and Parque Nacional Chapada das Mesas, Brazil. Brasilia-DF Furley, P.; Rees, R.M.; Ryan, C.M. & Saiz, G. 2008. Savanna burning and the assessment of long-term fire experiments with particular reference to Zimbabwe. Progress in Physical Geography, 32: 611-634.

Garda, A.B.; Morita, J.P.; Malanski, L.S. & Berlink, C.N. 2014. Incêndios Florestais nas Unidades de Conservação Federais em 2013. Avaliação e recomendações. ICMBio.

Gorgone-Barbosa, E.; Pivello, V.R.; Bautista, S.; Zupo, T.; Rissi, M.N. & Fidelis, A. 2015. How can an invasive grass affect fire behavior in a tropical savanna? A community and individual plant level approach. Biological Invasions, 17: 423-431.

Graetz R.D.; Fisher R.P. & Wilson M.A. 1992. Looking back: the changing face of the Australian Continent. CSIRO Publishing. 159p.

Griffin, G.F. & Friedel, M.H. 1984. Effects of fire in Central Australia rangelands. I - Fire and fuel characteristics and change in herbage and nutrients. Australiam Journal of Ecology, 9: 381-393.

Guedes, D.M. 1993. Resistência das árvores do Cerrado ao fogo: papel da casca como isolante térmico. Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília. 99p.

Hoffmann, W.A. 1999. Fire and population dynamics of woody plants in a neotropical savanna: Matrix model projections. Ecology, 80: 1354-1369.

ICMBio. 2012. Plano de proteção anual do Parque Nacional da Chapada das Mesas. 64p.

ICMBio. 2014. Plano de manejo da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins. 529p.

Kauffman, J.B. 2004. Death rides the forest: perceptions of fire, land use, and ecological restoration of Western Forests. Conservation Biology, 18: 878-882.

Kauffman, J.B.; Cummings, D.L. & Ward, D.E. 1994. Relationships of fire, biomass and nutrient dynamics along a vegetation gradient in the Brazilian Cerrado. The Journal of Ecology, 82: 519-531.

Kern, N.G. 1981. The influence of fire on populations of small mammals of the Kruger National Park. Koedoe, 24: 125-157.

Kilgore, B.M. & Taylor, D. 1979. Fire history of a sequoia-mixed conifer forest. Ecology, 60: 129-142.

Medeiros, M.B. & Fiedler, N.C. 2004. Incêndios florestais no Parque Nacional da Serra da Canastra: desafios para a conservação da biodiversidade. Ciência Florestal, 14: 157-168.

Melo, M.M. de & C.H. Saito. 2012. The practice of burning savannas for hunting by the Xavante indians based on the stars and constellations. Society & Natural Resources, 26: 478-487.

Mcgregor, S.; Lawson, V.; Christophersen, P.; Kennett, R.; Boyden, J.; Bayliss, P.; Liedloff, A.; McKaige, B. & Andersen, A.N. 2010. Indigenous wetland burning: conserving natural and cultural resources in Australia's world. Human Ecology, 38: 721-729.

Miranda, A.C.; Miranda, H.S.; Dias, I.F.O & Dias, B.F.S. 1993. Soil and air temperatures during prescribed fires in Central Brazil. Journal of Tropical Ecology, 9: 313-320.

Miranda, H.S.; Bustamante, M.M.C. & Miranda, A.C. 2002. The Fire Factor. p. 51-68. In: P.S. Oliveira & R.J. Marquis (eds). The Cerrados of Brazil: ecology and natural history of a Neotropical Savanna. Columbia University Press, 424p.

Miranda, H.S.; Neto, W.N. & Neves, B.M.C. 2010. Caracterização das queimadas de Cerrado. p. 23-34. In: H.S. Miranda (ed.) Efeitos do regime do fogo sobre a estrutura de comunidades de Cerrado: resultados do Projeto Fogo. IBAMA/MMA.

Miranda, H.S.; Rocha-Silva, E.P. & Miranda, A.C. 1996. Comportamento do fogo em queimadas de campo sujo. Pp. 1-10. In: H.S.

Miranda; C.H. Saito & B.F.S. Dias (eds). Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. ECL/UnB. Miranda, H.S.; Sato, M.N.; Neto, W.N. & Aires, F.S. 2009. Fires in the Cerrado, the Brazilian savanna. p. 427-450. In: M.A. Cochrane (Ed.). Tropical fire ecology: climate change, land use and ecosystem dynamics. Springer-Praxis, Heidelberg, Germany.

Salgado-Labouriau, M.L. & Ferraz-Vicentini, K.R. 1994. Fire in the Cerrado 32.000 years ago. Current Research in the Pleistocene, 11: 85-87

Sato, M.N. & Miranda, H.S. 1996. Mortalidade de plantas lenhosas do cerrado sensu stricto submetidas a diferentes regimes de queima. p. 102-111. In: H.S. Miranda; C.H.

Saito & B.F.S. Dias (eds.). Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. ECL/UNB. Sato, M.N.; Miranda, H.S. & Maia, J.M.F. 2010. O fogo e o estrato arbóreo do Cerrado: efeitos imediatos e longo prazo. p. 77-91. In: H.S. Miranda (ed.). Efeitos do regime do fogo sobre a estrutura de comunidades de cerrado: resultados do Projeto Fogo. IBAMA/MMA.

Savadogo, P.; Zida, D.; Sawadogo, L.; Tiveau, D.; Tigabu, M. & Odén, P.C. 2007. Fuel and fire characteristics in savanna-woodland of West Africa in relation to grazing and dominant grass type. International Journal of Wildland Fire, 16: 531 539.

Van Wilgen, B.W.; Govender, N. & Biggs, H. 2007. The contribution of fire research to fire management: a critical review of a long-term experiment in the Kruger National Park, South. Africa. International Journal of Wildland Fire, 16: 519-530.

Ward, D.E. 1996. Effect of fuel composition on combustion efficiency and emission factors for African savanna ecosystems. Journal of Geophysical Research: Atmospheres (1984-2012), 101: 23569-23576.

Werner, P.A. 2012. Growth of juvenile and sapling trees differs with both fire season and understorey type: Trade-offs and transitions out of the fire trap in an Australian savanna. Austral Ecology, 37: 644-657.

Whelan, R.J. 1995. The ecology of fire. Cambridge University Press, 349p.

Wigley, B.J.; Bond, W.J. & Hoffman, M.T. 2009. Bush encroachment under three contrasting land-use practices in a mesic South African savanna. African Journal of Ecology, 47: 62-70.

Williams, R.J.; Woinarski, J.C.Z. & Andersen, A.N. 2003. Fire experiments in northern Australia: contributions to ecological understanding and biodiversity conservation in tropical savannas. International Journal of Wildland Fire, 12: 391-402.

Whitehead, P.J.; Purdon, P.; Russell-Smith, J.; Cooke, P.M. & Sutton, S. 2008. The management of climate change through prescribed Savanna burning: Emerging contributions of indigenous people in Northern Australia. Admin. Dev., 28: 374-385.

Yates, C. & Russell-Smith, J. 2003. Fire regimes and vegetation sensitivity analysis: an example from Bradshaw Station, monsoonal northern Australia. International Journal of Wildland Fire, 12: 349-358.

Yibarbuk, D.; Whitehead, P.J.; Russell-Smith, J.; Jackson, D.; Godjuwa, C.; Fisher, A.; Cooke, P.; Choquenot, D. & Bowman, D.M.J.S. 2001. Fire ecology and aboriginal land management in Central Arnhem Land, Northern Australia: a tradition of ecosystem management. Journal of Biogeograhy, 28: 325-343.

Downloads

Publicado

2016-12-28

Edição

Seção

Manejo do Fogo em Áreas Protegidas

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)